Laranjeiras do Sul — Pode haver uma Universidade dentro de um Assentamento? A experiência da Federal da Fronteira Sul (UFFS)

ABA Agroecologia
ABA Agroecologia
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4 min readAug 17, 2017

Nossa história neste território começa bem antes da implantação da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) e está enraizada na luta pelo acesso a terra. Em oito de junho de 1997 dezenas de famílias ocupam uma área, com a bandeira de construir a reforma agrária. Parte do Assentamento Oito de Junho foi doado onde hoje estão construídos os prédios do campus da UFFS em Laranjeiras do Sul, no Centro Sul paranaense.

Recebemos, com alegria, a equipe de sistematização de experiências para sua última parada na Região Sul. Nos dias 24 e 25 de março de 2017 olhamos coletivamente para as ações desenvolvidas pelos Núcleos de Estudos em Agroecologia Cantuquiriguaçu e AquaNEA, vinculados a UFFS.

O forte vínculo com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e outras entidades camponesas sempre nos trouxe a perspectiva da construção do conhecimento agroecológico, das práticas, da troca de saberes. A partir de nossa caminhada conjunta, fomos experimentando e nos apropriando das diversas técnicas, guardamos e trocamos sementes, fortalecemos nossa identidade camponesa, incentivamos a juventude a permanecer no campo.

As ações desenvolvidas abrangiam todas as pessoas. Um importante passo foi a construção da agroindústria, possibilitando o acesso ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), participação em feiras e no circuito da Rede Ecovida. Tudo amparado na cooperativa criada entre as famílias assentadas.

Em 2009 começa a ser erguida a UFFS, que é fruto de uma articulação pela democratização do conhecimento acadêmico e popular, e a primeira universidade dentro de um assentamento da reforma agrária. Com um projeto de universidade popular, a UFFS traz um comprometimento com o desenvolvimento da região e seus atores sociais.

No ano seguinte, a criação do Núcleo Luta Camponesa da Rede Ecovida de Agroecologia fortaleceu ainda mais a articulação de camponesas e camponeses em torno da agroecologia. Essa construção coletiva do conhecimento agroecológico sempre balizou as ações do campus Laranjeiras do Sul e serviu de embrião para a criação de Núcleos de Estudos em Agroecologia como o AquaNEA e o NEA Cantuquiriguaçu, grupos de estudo relacionados com o PET Conexão de Saberes / Políticas Públicas e Agroecologia, o Núcleo de Estudos em Cooperação, entre outras iniciativas, todas articuladas em um Centro Vocacional Tecnológico em Agroecologia e Cooperativismo.

A ações realizadas nas comunidades camponesas da região, dentre elas o Assentamento Oito de Junho e a Terra Indígena Rio das Cobras, das etnias Guarani e Kaingang, sustentam o NEA Cantuquiriguaçu e o AquaNEA, que tem a luta pela terra como princípio.

A participação no Seminário Regional de Sistematização de Experiências, realizado em setembro de 2016 na Lapa/PR, e posteriormente a realização da Oficina de Sistematização de Experiências no NEACantu em Laranjeiras do Sul em março de 2017, foram importantes para que os NEAs possam apresentar o trabalho que desenvolvem no âmbito da agroecologia e produção orgânica junto às comunidades locais. Além de permitir a troca de conhecimentos e experiências entre os próprios núcleos a nível de região Sul.

Para o NEACantu foi gratificante participar deste processo de formação, que nos permitiu aprender sobre as formas de educação popular voltadas para resgatar as ações realizadas pelo núcleo. O diferencial deste processo formativo é que cada participante torna-se um ator, construindo a oficina conjuntamente com os demais.

A partir da atividade realizada no campus de Laranjeiras do Sul, pudemos perceber que apesar do núcleo ter uma trajetória curta, apresenta relevante papel diante do contexto territorial, social e econômico em que a UFFS se encontra. E que a conquista da universidade no Território da Cidadania Cantuquiriguaçu ocorreu em razão de uma defasagem de ensino superior e com intensas desigualdades sociais. E neste sentido a universidade, em especial o NEACantu, contribuem e podem contribuir ainda mais com a pesquisa e extensão voltadas para um modelo de agricultura que permita o desenvolvimento rural sustentável.

Ana Claudia Rauber — NEA Cantuquiriguaçu

Luiza Damigo — Colaboradora do Projeto de Sistematização

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