Da necessidade de aulas individuais
Ivanildo Jesus
Pensando sempre nas problemáticas dos projetos sociais que visam dar saídas e contrapontos à vulnerabilidade social, vejo a dificuldade de convencer gestores — sobretudo aqueles cuja formação não passou por nenhuma instância de educação artística — da necessidade premente de oferecer aulas individuais aos educandos.
Imaginem só o disparate: por que dar aula para trinta quando no mesmo período você pode dar aulas para somente um aluno? A resposta lógica, além de agradar planilhas financeiras, faz emocionar gestores que veem como bem sucedido métodos onde a quantidade sempre se opõe vertiginosamente à qualidade.
Entendo as dificuldades financeiras, porém vejo que se as aulas coletivas forem frutíferas em algum momento desse processo educacional o aluno precisará da aula individual. É nessa ocasião que, a sós com seu professor de instrumento, o aluno aprenderá o significado da performance, pois para dar vida a três minutos de música, a depender do educando, são necessários meses de trabalho sozinho em casa e outro tanto de meses de trabalho com o professor.
Nessa aula, individual, a solução é sempre pensada na perspectiva de cada aprendente. Traça-se uma trajetória de métodos e rotinas de estudos que visam dar conta das diferentes dificuldades. Não posso falar pelos outros instrumentos, todavia, no caso do violino, a bibliografia de soluções é tão vasta que pensar em uma só é dificultoso. A recente história da pedagogia musical e do instrumento cresce cada vez mais rica e prolífica.
Lógico, não é só o método por si só que trará benefícios para o educando, é o que não está escrito nele que vem da experiência do professor, que provavelmente aprendeu com seus professores que logrará a evolução no instrumento.
O “como” fazer e os “porquês” são os recheios desse bolo. As estratégias de estudo vão muito longe do que está escrito na partitura, ali sempre estará um norte. Desmonta-se aquele quebra-cabeça fazendo com aquilo muitas imagens, para só então tentar fazer a imagem descrita originalmente que assemelha-se de alguma maneira aquela pensada pelo compositor.
Sem esse aparato pedagógico a experiência do educando fica diluída no grupo. Acumula-se vícios que demorarão anos para ser corrigidos, pois na aula em grupo, mesmo o professor mais brilhante, terá sempre muita dificuldade em corrigir todos. Já na aula individual não, como diria um dos meus professores “onde passa um boi, passa uma boiada” e assim ele conduzia a aula sem deixar passar erros. Inflexível, sim, todavia essa não é a questão de hoje. A questão que coloca-se é: sem as aulas individuais raramente os alunos serão colocados a inflexibilidade que faz parte do ofício ou terão a chance de se tornar artistas longevos, multiplicando suas trajetórias.