Lições do Carnaval de 24

Ivanildo Jesus

A Beleza do Som
A Beleza do Som
3 min readFeb 19, 2024

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Se você acompanha as redes sociais e tem acesso ao noticiário deve ter visto o furor que veio à tona após o desfile da escola de samba Vai-Vai. No último domingo (11), o enredo da escola prestou uma homenagem ao Hip Hop, mais precisamente ao disco dos Racionais MC’s “Sobrevivendo no inferno” de 1997.

Além da citação ao disco, o desfile contou com alegorias a policiais demonizados, com chifres, como segue na imagem abaixo:

À Opera Mundi o colunista Pedro Marin diz: “(…)na ala “Sobrevivendo no Inferno” do desfile do Vai-Vai havia tantos componentes vestindo uniformes policiais e chifres demoníacos: eram uma referência ficcional à canção ficcional sobre o massacre real de 111 detentos na maior metrópole da América Latina.”

No texto, após falar do desfile e das críticas recebidas a Vai-Vai, incluindo a do Sindpesp, Pedro completa: “Gostaria de supor que um sindicato de delegados não considere como “profissionais abnegados” os 23 policiais militares condenados em abril de 2013 a 156 anos de prisão pela morte de 12 presos durante o massacre; ou os 25 policiais condenados no mesmo ano a 624 anos de prisão pela morte de 52 detentos no pavilhão 9; ou ainda os 74 policiais condenados em cinco júris pelo envolvimento no massacre — decisão que, anulada pela Quarta Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) em 2018, foi reestabelecida pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) e pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Há de se supor que os delegados paulistas sejam defensores da lei, afinal; não da barbárie.”

Alhos e Bugalhos

Nossa querida OSESP entrou na trend do Instagram e propôs aos seus seguidores que sinalizassem através dos storys os concertos da temporada 2024 que assistiriam. Na imagem vinculada, sinto por não tê-lo guardado, figurava outra vez a presença masculina, branca e eurocêntrica como tudo que envolve a OSESP.

Com intuito de colocar nossa amada orquestra rumo ao caminho certo, nossas colegas do tão necessário coletivo Frequência Dissonante pediram aos seus seguidores e seguidoras que dessem sugestões de compositoras e intérpretes mulheres que pudessem enriquecer a programação. Para quem quiser conferir as contribuições estão fixadas na página do Instagram do coletivo com o nome de SOS Curadoria.

Observo todos esses movimentos com curiosidade. De um lado temos o Carnaval, a manifestação dos subalternos, entendo que a expressão carrega consigo suas próprias problemáticas contradições, como o fato que narra Carlos Martins ao Aeroin “deputado esteve no Sambódromo da Marquês de Sapucaí, onde desfilou pela Escola Beija-Flor, que homenageou Rás Gonguila, personagem do carnaval de Maceió, cidade natal de Lira e cuja a prefeitura doou R$8 milhões para a agremiação, que ficou em 8º lugar.”

Contudo, temos de convir que o enredo carnavalesco provoca. As escolas conseguem a façanha de não serem surdas aos prantos dos subalternos, dando voz aos que não têm, trazendo pautas tão necessárias, quanto a da violência policial, ao centro do debate.

Mesmo que de alguma maneira meus anseios queiram misturar alhos com bugalhos, entretanto, anseio por um mundo em o nosso microcosmo da música que se diz erudita, possa nos prever de reflexão, provocação e beleza, tal como o fez a Vai-Vai neste carnaval.

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