Perfumaria

Samuel Mello

A Beleza do Som
A Beleza do Som
3 min readMar 5, 2023

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Definida sempre como algo supérfluo, sinônimo de coisas sem importância — “graduação é Engenharia, Medicina ou Direito, o resto é perfumaria” disse um distinto senhor, certa vez — a perfumaria se mostra parte da identidade das pessoas.

Imagem de Pixabay retirda do Pexels

Nós, humanos, temos um cheiro próprio. Individual. Quase como uma impressão olfativa que nos diferencia de todas as pessoas. Mas podemos, digamos, incrementar a nossa identidade olfativa com vistas a um tipo de resultado particular. Fazendo um paralelo com as instituições musicais, acho pontos de reflexão que podem ser interessantes. Perfume assinatura: aquele perfume agradável, discreto, que você escolhe usar para o dia a dia. Perfume pelo qual as outras pessoas te reconhecem, “chegou fulano” ou “fulano esteve aqui”. Cada instituição pode procurar um “cheiro” para chamar de seu. Uma fama. Uma identidade visual, uma paleta de cores, um tipo de som, uma certa modalidade de comunicação. Um exemplo de tudo isso é a Orquestra da Rádio de Frankfurt, em seu canal no YouTube. Seja qual for o conteúdo do vídeo, a orquestra tem sua assinatura, você a reconhece imediatamente.

Percebo que as grandes instituições musicais brasileiras têm suas respectivas assinaturas. Umas mais fortes, outras menos, mas são ali reconhecíveis na mídia. Seja por seus músicos, suas salas de espetáculo ou pela fonte que usam nos seus impressos.

Claro, mas só o perfume não resolve nada. Se você não estiver limpo, o perfume pode, e vai, piorar a situação. Um bom banho é sempre recomendado. A limpeza é sempre uma qualidade, seja no corpo, seja na performance musical.

Outra coisa fundamental é a hidratação. Um corpo desidratado perde muito mais rápido sua umidade para o ambiente e o perfume, consequentemente, não fixa e seu efeito dura muito pouco. Hidratação, na instituição musical, pode ser entendida como melhores condições de trabalho. Iluminação, ventilação, arquivo, mobiliário adequado, PAGAMENTOS EM DIA, clareza de funções, enfim, aquelas coisas que possibilitam que o todo funcione.

Sem alimentação também o efeito do perfume será alterado. Com uma alimentação muito restrita ou “desregulada” — Deus me livre do nutricionismo — o corpo produz um cheiro diferente; ácidos e sais que vão alterar a qualidade do cheiro do perfume na pele. Alimentação de orquestra é repertório. Além de ser um repertório diverso, ele deve ser também estimulante, não somente funcional. Afinal de contas, um bife acebolado com batatas fritas é muito mais que uma proteína acompanhada de carboidratos. Tem afetos envolvidos.

Tudo isso para exalar um bom cheiro, uma boa fama da instituição musical. Afinal, perfume faz isso, exala sua identidade. Todos nós já ouvimos a expressão “isso aí não está cheirando bem” se referindo a algo não muito bom, uma desconfiança em relação a algo ou alguma ação. Também já falamos muito isso sobre as notícias das “jestãos” dos equipamentos artísticos — “equipamento” denota um caráter utilitarista dos espaços e grupos e conceitos artísticos… enfim — que, vira e mexe, aparecem com soluções mirabolantes e sempre urgentes para buscar uma adequação artística,orçamentária — condizente com o momento.

Rio de mim mesmo. Afinal, num blog sobre música e músicos eu estou falando de perfume, mas os paralelos são pertinentes. Tem muitas outras coisas que se podem comparar na relação Música/Perfumaria. Talvez eu as explore mais, vamos ver.

Agora vamos tomar alguma coisa — não Campari… — e seguir a vida que a semana vem aí.

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