Quantidade também importa

Daniel Cristiano Santos

A Beleza do Som
A Beleza do Som
2 min readFeb 20, 2022

--

Quantidade também importa

No passado, os profissionais da cultura já viveram dos financiamentos das cortes e pelo mecenato. Em outra época, o Estado assumiu a dianteira na manutenção da “máquina cultural”, mantendo instituições de ensino (superiores ou de formação básica), orquestras (incluindo aqui os grupos de câmara), corais e outros aparatos.

Porém, com a dissolução das estruturas estatais de cultura, que forneciam ao profissional sua estabilidade e garantia de pagamentos, a sucessiva retirada de direitos trabalhistas, além do fomento de outras formas de financiamento, tais como: prevalência de patrocínio da Iniciativa Privada, financiamento coletivo (crowdfunding), entre outros, fazem do atual momento um ponto de virada na forma de sustento a partir da arte e trazem aos artistas preocupação.

Para além dos benefícios que a internet possibilita, as sociedades com inclinações neoliberais bem como as redes socias alteraram a forma e dinâmica das relações culturais, aproximando o concerto, de ballet ou a peça de teatro de produtos comuns. Assim sendo, a relação entre o artista e seu público é alçada ao patamar da relação entre o comerciante e o cliente, ou entre o prestador de serviço e seu contratante. Nessa relação, o primeiro é detentor do produto ou da experiência, e a outra parte a consome, em troca de dinheiro.

Nessa perspectiva, o artista é levado a aprender a utilizar as redes sociais e a publicar continuamente, para assim gerar visibilidade e “engajamento”, para só assim, poder utilizar essas plataformas como base de venda de seus “produtos” (curso, show, concerto, workshop, disco, etc.).

Além disso, no ambiente virtual e na mídia, a arte precisa dividir espaço com todas as outras profissões, formas de entretenimento e ofícios. Nessa interação constante, todos buscam a mesma coisa: a atenção do maior número de pessoas.

Por isso, é imperativo que os trabalhadores da cultura (em especial os músicos) fomentem toda forma de exposição das linguagens artísticas, do programa de calouros na grande emissora, passando pelo documentário sobre um artista, ao concerto das maiores orquestras. Somente assim haverá um maior número de pessoas interessadas em aprender e consumir arte. Esse consumo leva as pessoas a comprarem instrumentos musicais, discos, a assistirem programações culturais e etc. Dessa forma haverá maior investimento nos projetos culturais por esses atenderem a uma maior demanda.

Assim sendo, nesse ínterim, quantidade também importa.

Foto de André Ávila / Agencia RBS

Apoia-se:

https://apoia.se/abelezadosom

Para mais conteúdo:

linktr.ee/abelezadosom

Encontre o Autor:

danielcristiano@usp.br

--

--