Os meus filmes LGBTIQA+ favoritos
Porque a vida é feita de várias cores
Há algo de profundamente atraente em vermos num filme o desenrolar de um romance entre duas pessoas do mesmo sexo. Como se provássemos o fruto proibido no lugar das personagens — ou com as personagens. Entramos na intimidade de paixões que quebram séculos de estereótipos, preconceitos e perseguições. Ao menos tempo, normalizamos o que é normal. Por isso, gostaria de recomendar alguns dos meus filmes LGBTI favoritos.
Pariah (2011)
Pária, tradução do título do filme, tem a definição figurada de pessoa marginalizada ou excluída pela sociedade. Este é outro filme que fala sobre autodescoberta, um com o qual quase todos nós nos podemos identificar. A protagonista, Alika, uma jovem negra e lésbica, procura a aceitação no seio da sua família e amigos, representando diferentes papéis sociais — a filha católica e bem-comportada, a amiga lésbica arrapazada, a aluna que partilha os poemas que escreve com a professora — que a acabam por confundir quanto à sua verdadeira identidade. Pode ser descrito com um filme sincero nas emoções e situações que entrega, com personagens fortes e identificáveis.
120 Batimentos Por Minuto (2017)
Um filme simultaneamente colorido e sombrio. É um retrato poderoso da luta de vários ativistas queer no auge da epidemia do HIV, no início da década de 90. Nathan, um seronegativo junta-se um grupo ativista e envolve-se com Sean, um dos membros do grupo mais fiéis e proativos, também uma pessoa vibrante, que parece conviver vem com a sua doença. Assim como Nathan, somos confrontados com histórias e informações chocantes, um mundo que se cruza com a política, mas que é constantemente renunciado e marginalizado. Um mundo cheio de cor, dor e perda. Estes ativistas não desistem facilmente — afinal, desistir significa morte para todos eles — e mostram que apenas juntos conseguirão vencer a luta.
Retrato De Uma Jovem Em Chamas (2019)
A homossexualidade na França do século XVIII. Marianne é contratada para pintar em segredo um retrato de Héloïse, que deve enviar ao seu noivo e selar o compromisso de casamento. A sedução começa no olhar, enquanto passeiam durante pela praia, ora correspondendo olhares, ora desviando a face. Um jogo de ver e ser visto começa, onde o observado também observa, e o que observa também é observado — voyeurismo dentro dos limites aceitáveis. À noite, Marianne contempla as suas memórias em busca da imagem do seu objeto de arte, que acaba, mais tarde, por se tornar num objeto de amizade, amor e intimidade. Belo, poético, arrebatador e profundamente inconvencional estas são alguns dos adjetivos que descrevem este filme.
Chama-me Pelo Teu Nome (2017)
Retrata o romance clandestino entre um adolescente de 17 anos e um homem de 24 anos, no cenário de Itália dos anos 80. Elio é um jovem intelectualmente precoce e sensível que conhece Oliver, o novo assistente do seu pai, durante as férias de Verão. Testemunhamos, assim, a sua primeira paixão, uma paixão que transborda desejo carnal e sensualidade. Movemo-nos lentamente pelas paisagens serenas de Lombardia, uma montagem suave, com um toque de indie, de imagens estéticas, de cores, texturas e sabores do quotidiano. E esquecemo-nos que são dois homens a apaixonarem-se que vemos — são apenas dois seres apanhados na teia de atração que os envolve.
Goodbye Mother (2019)
Apesar dos progressos recentes no Vietnam, no que diz respeito à legislação do casamento entre pessoas do mesmo sexo, a homossexualidade lá continua a não ser abertamente assumida. O filme procura mostrar essa dificuldade através da personagem Nâu, que regressa dos Estados Unidos a casa, acompanhado pelo seu namorado Ian, a propósito do aniversário da morte do seu pai. O objetivo é apresentar Ian como o seu companheiro, mas perante a pressão que recebe da família e da comunidade para casar e ter filhos, parece nunca surgir a oportunidade certa. No meio dos conflitos familiares, somos presenteados com a cumplicidade natural do casal, evidente nos momentos em que se escondem na casa de banho, longe de olhares alheio, ou dormem abraçados até ao amanhecer, antes de a família começar a acordar. Um filme comovente que aquece o coração.
God’s own country (2017)
A história de Johnny, um jovem do campo, calado e revoltado, que toma conta da quinta da família, e a história de um Gheorghe, um romeno imigrante, misterioso e charmoso, cruzam-se quando as circunstâncias os obrigam a trabalhar lado a lado. Acompanhamos a rotina dos dois na quinta, enquanto cuidam dos primeiros cordeiros que nascem e lutam por fazer prosperar o negócio. Isolados do conforto humano, tornam-se cúmplices — uma intimidade não falada, mas notada através de longos olhares e toques subtis trocados. Em segundo plano, há as paisagens belas e selvagens de Yorkshire, Inglaterra, durante a Primavera. Quererá a cinematografia dizer-nos que há coisas que o Homem não controla — e nem deve?
Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014)
Um romance doce e ingénuo entre Leonardo, um adolescente cego em buca da sua independência, e Gabriel, o novo aluno da turma. Combina de forma perspicaz a homossexualidade e a deficiência física. O duplo tabu do protagonista leva-nos a refletir sobre os estereótipos sociais: Leo não é apenas “o rapaz gay” ou “o rapaz cego”. O objetivo aqui não é retratar a sua jornada de autodescoberta, mas de autoafirmação. Há um toque excessivo de otimismo nesta longa-metragem onde todos merecem receber amor e a realidade parece um pouco cor-de-rosa demais. Ideal para se ver sem segundas intenções, apenas pelo propósito de entretenimento.
Rapazes (Jongens (2014))
Por vezes, até o mais inocente dos ambientes dificulta a tarefa de assumirmos a nossa verdadeira identidade. Medos e inseguranças internas são construídos ao longo do tempo sobre olhares e frases implícitas. Quando Stieg, o protagonista do filme, conhece Marc e se apercebe que pode, afinal de contas, gostar de rapazes e não de raparigas, ele sente-se pressionado não pela exteriorização de comportamentos homofóbicos em seu redor, mas por dúvidas e anseios fundados na sua debilitada estrutura familiar. Stieg descarrega a sua frustração no atletismo, treinando de forma fanática. Para onde corre? Através de diálogos curtos, olhares incertos e toques reticentes, o filme cria, em quem vê, a esperança (e desespero) para que tudo termine da melhor maneira.
Carol (2015)
Carol, uma mulher sedutora e imponente, conhece Therese, que trabalha num centro comercial, quando vai comprar um presente de Natal para a filha. A história segue, então, o envolvimento entre estas duas mulheres — com um detalhe: estamos nos anos 50 e a homossexualidade é considerada uma imoralidade absoluta, uma doença que afeta apenas os fracos de espírito. Numa realidade tão rígida e restritiva, a única maneira de uma pessoa se manter fiel a si mesmo é camuflando os seus sentimentos, de forma a que apenas os mais perspicazes os possam decifrar. É daí que resulta uma Carol tão fria e uma Therese tão sensível e percetiva, que levam o seu tempo para se aproximar, deixando olhares, toques subtis as encaminhares para um libertar explosivo de paixões. Nada mais queremos do que ver estas duas mulheres se entregarem ao que sentem.
The Half of it (2020)
Outro filme coming of age. Ellie vive com o seu pai numa pequena cidade fictícia e tem de enfrentar uma série de situações desafiantes — seja o facto de ser o único sustento de uma família monoparental, o bullyung de que é alvo devido às suas origens chinesas ou a descoberta da sua sexualidade. Quando lhe é pedido para escrever cartas de amor a uma rapariga a troco de dinheiro, ocorre uma mudança no seu mundo interior. Ela avança numa jornada em busca do que é o amor. No fundo, é do que trata o filme, das várias facetas do amor. E fá-lo com humor, misturando de forma original todos os clichés de comédias românticas de adolescentes, ao mesmo tempo que desconstrói os estereótipos das personagens principais.
Fico-me por aqui, deixando o convite não só para verem alguns destes filmes de que falei agora (se houve um que vos despertasse o interesse), mas também para procurarem outros que abordem a temática LGBTI. Dessa forma, estarão a promover maior diversidade, tanto no cinema quanto na vida.
Se gostaram, comentem. Gostava muito de saber a vossa opinião :)
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