When The Devil Calls Your Name: Crítica de kdrama

O bem o mal andam de mãos juntas

Adriana Silva
About Adriana
5 min readJun 17, 2020

--

O drama segue a história de um homem em busca do sentido da vida. Seo Dong Cheon vende a alma ao Diabo quando está prestes a morrer e ganha dez anos de vida, adicionados a riqueza, fama, juventude e outro desejo que se vem a revelar mais tarde. Ele muda o nome para Ha Rip e torna-se num compositor de sucesso. Na altura em que o contrato com o diabo está prestes a terminar, ele conhece uma rapariga talentosa, mas muito azarada, que o faz lembrar da sua outra vida como Seo Dong Cheon.

When The Devil Calls Your name está longe de ser perfeito. Estranhamente esta tornou-se numa das minhas séries favoritas. O seu desenvolvimento lento fez-me querer largá-la ao terceiro episódio, mas felizmente, tinha investido demasiado nas personagens e na história, e estava curiosa com a continuação.

Apesar de parecer que o enredo avançava devagar, havia muita coisa a acontecer. O enredo não foca só nas personagens principais Ha Rip e Kim I Kyung, brilhantemente interpretadas por Jung Kyoung Ho e Lee Seol, respetivamente.

Há também as histórias secundárias de:

  • Ji Seo Young, a CEO da agência de música para a qual Ha Rip trabalha;
  • Kang Ha, o misterioso companheiro de casa de Ha Rip que perdeu a memória;
  • Kang, o motorista e manager do diabo; Yoo Dong Hee, a melhor amiga de Kim I Kyung;
  • Lucas, o novo trainee da agência que vai se tornar num grande amigo de Kim I Kyung;
  • E claro o nosso querido Diabo, Mo Tae Kang (papel desempenhado por Park Sung Woong).

Embora com menos destaque (à exceção do diabo) todas estas personagens têm o seu papel na série.

De destacar a relação que o Diabo tem com Ji Seo Young, a CEO da agência de música, com quem ele desenvolve um romance, e o seu manager, o mais próximo que ele tem de um amigo. São essas interações que tornam a personagem mais humana.

Houve outra altura, já a meio do drama, que percebi que a minha relação com este seria de amor e ódio. Fiquei desconcertada com tantas reviravoltas. Não era que já não estivesse habituada, porque todos os episódios desde o primeiro terminavam com alguma revelação que mudava completamente o rumo dos acontecimentos. Mas dei por mim dececionada com esse rumo. Vi todas as minhas expetativas caírem por terra e não gostei da evolução das personagens. Até que comecei a ver a luz ao final do túnel, e percebi o porquê daquela cadeia de acontecimentos. No fim, acredito que valeu tudo a pena para chegar àquele resultado.

Como disse anteriormente, não é uma história perfeita, mas é uma história linda, cheia de lições de vida para serem retiradas a partir das personagens. A começar por Ha Rip, uma personagem com a qual todos nós nos podemos identificar. Ele é baseado em Fausto, obra de Johann Wolfgang von Goethe, que aborda temas complexos e importantes, ainda hoje considerados atuais.

No drama está bastante presente a dicotomia entre bem e mal. O Diabo atrai Seo Dong Cheon através da ganância. À medida que Seo Dong Cheon obtém benefícios em troca da sua alma — uma carreira de sucesso, fama, respeito e reconhecimento pelas músicas que produziu — ele quer mais e mais, e isso é que o coloca em maus lençóis. Segundo o diabo, todos os humanos são assim. Eles começam por recorrer ao diabo por desespero, mas a ganância é que os leva realmente a vender a alma.

Mas será que o bem é assim tão melhor? É outra das questões abordadas na história. A razão por que o Diabo coleciona as almas humanas através de contratos tem a ver com um pacto que ele realizou com Deus.

A mitologia não é exaustivamente referida, mas dá para perceber certas coisas, como, por exemplo, há vários ‘diabos’ e o que conhecemos por anjos, são aqui chamados de ‘mensageiros’ — um deles é inclusivamente o pai do nosso diabo protagonista. Essa parte é suficientemente explorada no drama, dando-nos até a oportunidade para simpatizarmos com o próprio Diabo.

Houve uma vez ou outra em que as minhas lágrimas estiveram a ponto de cair. Esse foi outro aspeto forte do drama, e sem dúvida que se deveu à personagem Kim I Kyung. Ela é uma alma bonita e pura, literalmente falando. O seu otimismo inabalável aliado a uma vida cheia de dificuldades irritam Ha Rip. Mas ele acaba por se compadecer dela, não só porque ela é praticamente a definição de mártir, mas também porque ela ilumina a sua vida, inspirando-o a mudar.

A música une estas duas personagens e graças a isso recebemos momentos lindos e melodias tocantes que enchem o coração.

Apesar dos momentos mais pesados, a história é equilibrado com um pouco de humor que está mais ou menos presente na generalidade das personagens, surpreendentemente com maior intensidade na personagem do Diabo.

When The Devil Calls Your Name pretende acima de tudo deixar uma mensagem humanista. Não só através de Ha Rip/ Seo Dong Cheon, um homem que descobre finalmente qual o sentido a vida quando está prestes a perder tudo, mas também através das histórias de outras personagens que retratam a violência doméstica, o assédio, a corrupção e outros temas comuns à decadência humana.

A mensagem que passa é a que nós detemos o livre arbítrio em toda e qualquer instância, independentemente de haver deuses ou diabos, e por isso, seremos sempre responsáveis pelas escolhas que fazemos, seremos sempre responsáveis pelo que nos acontece. O nosso destino está nas nossas mãos.

Gostaria de terminar este texto com duas das minhas músicas preferidas do drama. Se gostaram da crítica, deixem feedback :)

[The street you left — versão legendada em inglês]

--

--