Josef Albers, Homenagem ao Quadrado

Rodrigo Queiroz
aboutarchitecture
Published in
3 min readNov 14, 2020

Homenagem ao Quadrado: Signo Raro pertence a uma série homônima, Homenagem ao Quadrado, iniciada por Josef Albers em 1950, aos 63 anos, e que perdurou por 26 anos, até sua morte, em 1976. Nesse período, foram produzidas mais de 1000 pinturas e centenas de impressões, caracterizadas pela superposição de três ou quatro quadrados sobre suportes também quadrados. O rigor e a disciplina empregados nesse trabalho sistemático e obsessivo decorrem da formação do artista e de sua adesão irrestrita à matriz construtiva do projeto moderno.

Em 1920, com 32 anos, Albers foi o aluno mais velho a se matricular na Bauhaus. Imediatamente após o término de seu curso, em 1925, torna-se professor, função desempenhada até 1933, ano em que a Bauhaus é extinta pela ofensiva nazista. Nesse mesmo ano Albers muda-se para os Estados Unidos e inicia atividade docente no Black Mountain College, no estado da Carolina do Norte. Dos 14 anos de existência da Bauhaus (1919/1933), Albers permaneceu na escola por 13, superando nomes imediatamente associados à escola alemã, como Walter Gropius e Mies van der Rohe, tornando-se o indivíduo que lá se manteve por mais tempo.

Em todas as obras da série Homenagem ao Quadrado, a disposição dos quadrados segue a mesma orientação geométrica, inscritos um dentro do outro, em disposição concêntrica. A fruição não é desviada pela subjetividade de uma suposta variação formal. A única distinção entre as obras é a cor.

Josef Albers. Homenagem ao Quadrado: signo raro (1967) acervo MAC USP

As diagonais que ligam as arestas dos quadrados convergem para um único ponto, localizado no eixo de simetria vertical da composição, porém deslocado para baixo em relação ao centro da superfície pintada. Os trapézios virtuais formados por essas diagonais e os lados dos quadrados conformam planos convergentes e perpendiculares ao suporte, na forma de pares paralelos de planos horizontais e verticais.

Apesar da ausência de linhas diagonais, é inevitável a associação com o piso, o teto e as paredes de uma perspectiva linear de lavra renascentista. O rebaixamento do ponto de fuga central, que define a altura do observador, parece nos remeter às linhas guia que constroem a monumentalidade estática dos espaços de Brunneleschi e das perspectivas de Rafael. Mas não é justamente essa automática percepção da profundidade que a série de Albers pretende romper?

A combinatória cromática dos quadrados de Albers subverte a predisposição em enxergar a profundidade no plano. O quadrado menor — na verdade, o único quadrado pintado em sua integridade, pois os demais são apenas coroas ortogonais que o envolvem — ainda parece ecoar o plano de fundo paralelo à tela, recurso obrigatório na perspectiva clássica. Entretanto, a partir das associações cromáticas definidas por Albers, os quadrados deslocam-se em movimento perpendicular ao plano do suporte, subvertendo a percepção automática que insiste em reconhecer o quadrado menor, central, como o plano de fundo da perspectiva.

Homenagem ao Quadrado demonstra que a percepção da profundidade, do movimento e da cor está condicionada à relação entre as cores, cujo contato prescinde da linha, como fronteira gráfica entre os planos da pintura.

--

--

Rodrigo Queiroz
aboutarchitecture

Architect and Associated Professor of Design Departament to the School of Architecture and Urbanism of the University of Sao Paulo