Rodrigo Queiroz
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2 min readAug 9, 2021

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Paulo Mendes da Rocha: do espaço contínuo às disposições espaciais

Rodrigo Queiroz

A arquitetura de Paulo Mendes da Rocha é o exemplo mais rigoroso da posição moderna frente à logica histórica que divide o solo em partes e consequentemente estimula a compreensão da arquitetura como objeto resultante de um procedimento gerador de formas herdeiras da tradição da volumetria. A resposta a esse anacronismo é o desenho de um espaço contínuo. O sentido do espaço contínuo se realizou de maneiras distintas, como podemos observar nos planos soltos em planta de Mies van der Rohe ou no espaço-piloti nos térreos livres de Le Corbusier.

Paulo Mendes da Rocha desenha uma continuidade espacial ao definir a arquitetura como resultado da relação complementar entre duas partes: a forma, antes objeto, agora é o relevo da própria superfície, mas também, simultaneamente, seu oposto, a sombra, o traço horizontal suspenso que toca esse mesmo revelo em pontos de apoio mínimos: Ginásio do Clube Atlético Paulistano (1958), Pavilhão do Brasil na Feira Internacional de Osaka (1969) e o Museu Brasileiro da Escultura (1988).

O imperativo da superfície contínua como partido quase a priori compreende a potencial vocação à continuidade no tempo e no espaço como sua principal virtude. Desse modo, podemos concluir também que a cidade espontânea apresenta-se como um problema, um obstáculo à plena continuidade dessa superfície projetada.

Diante do dilema revelado pela aparente incompatibilidade entre o partido da superfície contínua e o contexto da cidade real, Mendes da Rocha, a partir da década de 1990, inverte radicalmente o conceito formal dos projetos. A intenção que move o desenho da superfície contínua, agora, se desloca para o ar, se suspende e assume a condição de uma articulação espacial, como uma linha infraestrutural que conecta pontos preexistentes ou mesmo elementos do próprio projeto: Pinacoteca do Estado de São Paulo (1993–1998), Museu dos Coches — Lisboa (2008) e a Praça dos Museus da USP (2000–2ª proposta em construção).

Os dois partidos principais de Paulo Mendes de Rocha, aqui brevemente apresentados, demonstram seu paradoxal esforço em dissolver o protagonismo da própria arquitetura, seja em uma superfície que é forma mas também é chão, seja em uma linha aérea cuja principal virtude é manter intacto seu principal assunto: a cidade.

MuBE — Museu Brasileiro da Escultura. São Paulo (1988/1995)

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Rodrigo Queiroz
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Architect and Associated Professor of Design Departament to the School of Architecture and Urbanism of the University of Sao Paulo