YOGA PARA ÓRGÃOS INTERNOS

TEXTOS PUBLICADOS POR SRIVATSA RAMASWAMI E TRADUZIDOS DO INGLÊS PARA O PORTUGUÊS POR FELIPE CHAMMAS

Fê Chammas
ABRÁÇANA
58 min readOct 16, 2019

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Meu professor indiano de Vinyasa Krama Yoga, Srivatsa Ramaswami, mantém uma newsletter mensal na qual ele compartilha uma série de reflexões sobre o Yoga — de benefícios à saúde a explicações sobre mitologias védicas.

Ele fez um compilado com textos sobre os benefícios da prática de Yoga para os órgãos internos do corpo, que inclusive usamos como material de estudo no treinamento avançado de professores com ele na Índia.

Pelo fato de eu ter tido muitos clarões ao ler os textos, tive vontade de traduzí-los para o português, para que os praticantes que estudam Yoga comigo pudessem acessá-los.

Nesse link você pode fazer o download do pdf completo.

Abaixo compartilho os textos em sua integralidade, também.
Aproveite

I. YOGA PARA O TRATO RESPIRATÓRIO SUPERIOR

Em uma sala cheia de gente, se alguém espirra, pessoas sorriem e muitos até oferecem um gentil “saúde”. Se há um segundo espirro, talvez uma ou duas pessoas vão dizer “saúde” numa voz um pouco mais incomodada. Um terceiro espirro pode provocar caras feias e olhares na direção da saída, indicando que eles gostariam de sair da sala ou gostariam que a pessoa que está espirrando muitas vezes saísse. E um ataque quádruplo de espirro é conhecido como causa oficial para acidentes fatais na estrada!

O ar que respiramos entra dia, sai dia, quando chega no peito, deveria ser muito amigável aos pulmões. Deveria estar aquecido mais ou menos na temperatura do corpo, mesmo quando caminhamos em uma temperatura congelante. Deveria estar úmido, mesmo se a umidade do ar estiver muito baixa. Deveria estar livre de grande parte da poluição atmosférica como pó e outras partículas. Deveria estar razoavelmente livre de bactérias e vírus prejudiciais à saúde. Sendo assim, o trato respiratório deve não só aquecer e umedecer o ar inspirado, mas também prevenir que substâncias e patógenos prejudiciais à saúde cheguem aos pulmões. E os Yogis de antigamente insistiam que o trato respiratório, ou as Nadis Ida e Pingala, devessem ser mantidos limpos (prática de Nadi Shuddhi). Nadis são estruturas tubulares — veias também são reconhecidas como Nadis, assim como nervos; eles também podem ser passagens de ar.

Em quais condições o trato respiratório está entregando o ar aos pulmões? E, igualmente importante, como a saúde do trato respiratório está sendo mantida e renovada no dia-a-dia? As narinas, com aqueles pêlos curtos e grossos (vibrissas), ajudam a evitar que o pó e outras substâncias agressivas passem para dentro. Assim, o ar entra pelo nariz e passa pelo canal mais estreito da nasofaringe. A mucosa nessa parte do trato é alimentada por nervos do sistema nervoso parassimpático. Diz-se que o nariz secreta um líquido viscoso continuamente, de maneira alternada. A parte esquerda do nariz solta a secreção por um período de duas horas a duas hora e meia e aí a secreção muda para o outro lado. Essas secreções úmidas ajudam o nariz a prender partículas de pó e de outros organismos como vírus, bactéria, etc. As células do epitélio respiratório possuem cílios que movem as partículas na direção da faringe, passando para o esôfago, e a maior parte disso fica presa na garganta. Quando essas partículas chegam na garganta, o trato muda e nós, involuntariamente e periodicamente, engolimos essas substâncias para serem neutralizadas pelos poderosos ácidos do estômago. Às vezes, quando o trato respiratório superior está congestionado por infecção ou outras razões, os cílios não funcionam muito bem e nós acabamos puxando essas secreções para a garganta, quando normalmente tossimos e as cuspimos para fora do corpo. Depois do ciclo de duas horas há um período seco, no qual o nariz perde a umidade e nós assoamos os restos.

Existem três procedimentos do Yoga cujo propósito é manter o trato respiratório superior — ou região nasofaríngea — em boa saúde. A já famosa prática de Jala Neti ajuda a reduzir a congestão e a limpar os restos que ficaram presos para que a passagem de ar indo para e vindo dos pulmões seja suave. Água limpa e morna com uma pitada de sal ajuda a reduzir a congestão nasofaríngea e a deixar a respiração livre. Esse procedimento pode ser seguido por um período curto de tempo até que outros exercícios mais desenvolvidos, como Kapalabhati e Nadishodhana, possam começar a trazer benefícios mais duradouros.

O Pranayama Nadishodhana, como o nome já diz, limpa as Nadis, e aqui estamos preocupados com o trato respiratório superior. De acordo com o Yoga Yagnyavalkya, os dois Nadis, Ida e Pingala, originadas na Kandasthana, na região pélvica, se estendem até a ponta das narinas esquerda e direita, respectivamente. Quando inspiramos, as cavidades das narinas se enchem, fazendo com que as vibrissas e a umidade prendam alguns poluentes. Aí, quando a inspiração começa, o ar passa pela passagem nasal, muito mais estreita, a uma velocidade significativamente mais alta. Esse efeito é aumentado durante Nadishodhana. Nesse Pranayama, usamos o Mrigi Mudra. Nele, a pessoa fecha a narina direita com o dedão e usa o dedinho e o anelar para fechar a esquerda, parcialmente obstruindo a passagem nasal logo abaixo do osso etmóide, dando mais controle sobre o processo de inspiração. O forte fluxo de ar que passa pela membrana mucosa de toda a passagem quando se puxa o ar na fase de inspiração do Pranayama Nadishodhana ajuda a prender e mandar para a garganta muitos dos poluentes nocivos do ar.

Além disso, a área logo além do osso etmóide é considerada muito sensível (asmogênica) e quando alergênicos encontram com a membrana dessa área, são produzidas histaminas que enviam sinais ao centro de espirros no cérebro (medula). (Acredite, eu não inventei essa coisa de centro de espirro. Ela existe assim como existem o centro de tosse, centro de respiração, etc.). Esternutação ou espirro é uma expulsão convulsiva semi-autônoma de ar dos pulmões.

O Kapalabhati é um procedimento que tem múltiplos benefícios (para mais informações sobre o Kapalabhati, veja as páginas 190 a 194 do meu livro “Yoga for Three Stages of Life”, ainda sem tradução para o português). Ele também ajuda a limpar a passagem respiratória superior e remover congestão. Igualmente importante são os efeitos benéficos que podem acontecer em relação ao espirro. Pense só: o Kapalabhati, como se pode ver, estimula e lembra bastante a atividade de espirrar. Então, quando se pratica Kapalabhati, algumas repetições por vez, e se repete isso algumas vezes ao dia, o procedimento deve enviar sinais ao centro de espirro e acalmar a hiper-reatividade daqueles que sofrem de rinite ou que reagem muito a alergênicos e poluentes. Nessas pessoas, o centro de espirro está no limite, por assim dizer, e eles demonstram uma resposta nervosa a alergênicos, estresse, etc. que é anormal, geralmente resultando em congestão nasal e muitos ataques de espirros.

Esse procedimento do Kapalabhati, se praticado diligentemente por um tempo, deve ajudar a trazer bastante controle sobre o excesso de espirros. Médicos dizem que alguns dos métodos úteis no controle de espirros incluem exalações profundas dos gases acumulados nos pulmões e isso é facilitado pelo Kapalabhati e pela exalação profunda do Nadishodhana Pranayama. Segurar o ar depois de uma inspiração profunda contando até 10 é outra sugestão bem conhecida. E isso é endereçado ao segurar o ar em Antah Kumbhaka depois de uma profunda inspiração no Nadishodhana. Além disso, quando seguramos o ar, os seios nasais também são preenchidos com ar fresco e se limpam no processo. Aplicar pressão ao nariz é outro remédio popular quando se fala sobre espirros. Na verdade, é exatamente isso que fazemos quando seguramos o ar em Antah Kumbhaka em Nadishodhana — as narinas estão fechadas logo abaixo do osso etmóide pelo dedão ao lado direito e pelos dois últimos dedos ao lado esquerdo, usando o Mrigi Mudra.

Portanto, os procedimentos Yogicos Kapalabhati seguido de Nadishodhana Pranayama com o uso ocasional apropriado de Jala Neti pode garantir a redução e a subsequente prevenção de recorrentes resfriados, rinites e outros problemas no trato respiratório superior. O praticante não deve mais espirrar excessivamente.

II. YOGA E ASMA BRÔNQUICA

Em uma publicação mais antiga eu falei sobre Neti, Nadishodhana, Kapalabhati e outras práticas como formas de manter o trato respiratório superior em boas condições e tratar condições como sinusite, rinite, espirros crônicos, etc. O procedimento Neti usa água ou um fio para limpar o trato respiratório superior e o Nadishodhana é similar ao Neti, mas usando ar como o meio para limpeza.

O trato respiratório inferior tem suas próprias idiossincrasias. O ar aquecido e umedecido no trato respiratório superior entra na traquéia e flui através dos tubos bronquiais até os pulmões. Os tubos bronquiais são um par de órgãos bem sensíveis e tendem a contrair e dilatar durante o ciclo respiratório. Alguns yogis que tem um pé na Yoga e outro na medicina moderna dizem que o Kurma Nadi, mencionados em textos antigos do Yoga, se refere à seção bronquial do sistema respiratório — afinal, Nadis são tubos.

Esse sensível Nadi causa problemas para algumas pessoas. Os tubos bronquiais tendem a dilatar na inspiração e contrair na exalação em pessoas normais e em condições normais, mas, em algumas pessoas, eles tendem a contrair durante a exalação e não dilatar o suficiente ou se manter contraídos durante a inspiração, restringindo a livre passagem do ar. Devido ao estreitamento dessa parte da passagem de ar, escutamos o chiado característico que acontece em asmáticos. Essas constrições, em casos avançados, podem ser constantes, mas em muitos asmáticos elas são intermitentes.

A causa disso é geralmente atribuída a substâncias alergênicos. Alguns deles, como pólen, poeira, amendoim, pelo de gato ou a caspa do esposo, produzem uma reação no centro respiratório que faz com que impulsos vindos do nervo vago, que controla os tubos bronquiais, tendam a produzir espasmos brônquicos. Ainda que isso não aconteça na maioria das pessoas, essa hiperreatividade acontece em asmáticos. A abordagem convencional para lidar com esse problema tem dois caminhos. Um é descobrir quais comidas e poluentes disparam essa condição e desenvolver vairagya (desgosto) em relação a eles. Recomenda-se um traço Yogico, a disciplina para evitá-los. “Fique longe dos alergênicos que te afetam” é a máxima. Outra abordagem relacionada é descobrir as diferentes substâncias a que a pessoa tem alergia e injetar pequenas doses desses alergênicos em seu sistema. Com sorte, depois de um período de tempo, o paciente pode desenvolver imunidade a essas substâncias, o que antes não existia. Relacionado a isso está o uso temporário de medicações para dilatar os tubos bronquiais. Elas estão disponíveis com médicos alopatas, vaidyas ayurvédicos e também na forma de remédios caseiros. Minha avó costumava fazer uma mistura de muitas ervas (eu não sei os nomes delas em inglês), açafrão da terra, pimenta do reino, manjericão, canela e um pedaço de tâmara seca (para deixar a solução com um sabor aceitável). Então evitar os alergênicos, desenvolver imunidade de maneira artificial e paliativos temporários são as curas disponíveis para milhões de pessoas que sofrem da condição debilitante que é a asma.

Mas os Yogis vão um passo além e dizem que isso é uma desordem funcional. Apesar de alergênicos serem os estimulantes, acredita-se que a raiz do problema é uma atividade anormal repentina no brônquio-motor do núcleo vago da medula. A proteína externa, o alergênico prejudicial, dispara o processo de um asmático quando o núcleo do nervo motor vago está irritável e instável, e acaba por produzir espasmos nos tubos bronquiais.

O baixo tônus do sistema simpático também contribui com essa condição. É o funcionamento defeituoso do centro respiratório. Em termos yogicos, é a perturbação (Prana Prakopa) do Pranamaya Kosha. Então, em vez de lidar com esse problema de maneira empírica, os procedimentos yogicos tentam endereçar e corrigir diretamente a anormalidade. Um deles é um procedimento único chamado respiração Ujjayi. Nessa respiração, as cordas vocais são aproximadas usando a parte funda e os músculos da garganta e a pessoa respira através da constrição que é produzida, criando um som único, o chiado do Ujjayi. Normalmente, não usaríamos esses músculos dessa maneira específica.

Ainda que os praticantes de Yoga estejam bem familiarizados com essa respiração, para muitas pessoas ela é desconhecida. Por ficarmos com as cordas vocais juntas por um tempo considerável, inspirando e exalando, tendemos a ganhar controle sobre esses músculos. E já que os tubos bronquiais também são controlados pelo mesmo nervo vago, o praticante passa a ter controle sobre os músculos que ativam os tubos bronquiais.

O efeito é otimizado se o praticante praticar o Ujjayi corretamente, engajando o Jalandhara Bandha de maneira apropriada. Para isso, o queixo é levado para baixo e pressionado contra o osso do peito e toda a caixa toráxica é trazida para cima ao esticar a coluna, compondo um Bandha muito poderoso. Nessa trava (Bandha), pode-se respirar com controle até mesmo na parte inferior do trato respiratório, bem próximo aos tubos bronquiais, o Kurma Nadi. Alguns dias de prática atenta desse processo pouco comum com já traz um bom controle sobre a musculatura do trato respiratório inferior. A respiração Ujjayi parece bem incomum para não-Yogis. Aumentando a duração da constrição deliberada dessa área, também se estimulará o sistema simpático a enviar impulsos para abrir os tubos bronquiais e também fará com que o tônus desse sistema melhore. Um melhor tônus do sistema simpático ajudará a dilatar os tubos bronquiais durante a respiração normal. Sem entrar muito nas tecnicalidades, pode-se dizer que, se seguido por tempo suficiente, esse processo ajudará o asmático a melhorar sua respiração e ter ataques menos severos e menos frequentes, podendo até chegar à normalidade de respiração. Com cuidado apropriado em relação a comida, níveis reduzidos de estresse e outras mudanças de estilo de vida que o Yoga traz, bem como a prática regular, pode fazer com que a pessoa fique livre dos ataques de asma. Ujjayi lembra muito a respiração asmática. Outro problema concomitante é a tosse seca crônica. Para isso, Bhastrika, que estimula a tosse, deve ser praticado.

Outros exercícios que podem ser benéficos, como você pode imaginar, são as inversões, especialmente o pouso sobre a cabeça. Uma vez que o paciente esteja razoavelmente saudável e forte, o pouso sobre a cabeça e suas variações, com ou sem acessórios facilitadores, podem ser trabalhados. O pouso sobre a cabeça, como mencionado em artigos anteriores, ajuda a direcionar o líquido cefalorraquidiano ao ventrículo no cérebro para estimular as secreções da glândula pituitária que ajudam a produzir adrenalina, um hormônio que antigamente costumava ser dado para asmáticos. Além disso, ela nutre os nervos da coluna, que vão colaborar com o funcionamento apropriado do sistema nervoso autônomo e, portanto, darão um controle saudável sobre os tubos bronquiais. Uma permanência curta em Sarvangasana (invertida sobre os ombros) também ajuda, já que a postura produz um Jalandhara Bandha natural e as condições para Ujjayi são boas. Sarvangasana com assistência (Viparita Karani) também pode ser praticado. Também é bom trabalhar os músculos que dão suporte à respiração. Em um asmático, os músculos do peito tendem a ser rígidos e a respiração rasa. Exercícios de braço e de tórax são de grande ajuda para liberar a rigidez do peitoral. Por favor, confira os Hasta Vinyasas e os Parsva Bhangi Vinyasas na sequência do Tadasana no meu livro “The Complete Book of Vinyasa Yoga” (em tradução livre: O Livro Completo de Vinyasa Yoga, ainda sem tradução para o português). Muitos desses exercícios podem ser feitos em posição sentada, outros até deitado, dependendo das condições do paciente. Cantar (talvez no banho), entoar com toda a voz (Prabalam Adhiyita) e ler em voz alta (com ou sem um público) também ajudam. Yoga pode ser muito útil para asmáticos como uma terapia complementar, a pessoa deve continuar com seu tratamento médico seja ele alopático, ayurvédico ou de qualquer outra natureza. Normalmente, seria uma boa ideia começar a tratar asmáticos durante a estação em que os poluentes atmosféricos estão o menos problemático possível e os ataques estão menos frequentes.

Pode-se começar com os exercícios para os músculos que dão suporte à respiração e, depois, ensinar Kapalabhati, Bhastrika e a respiração Ujjayi com Kumbhaka, dentro das capacidades do praticante. Algum tipo de inversão com assistência de acessórios pode ser praticada quando o praticante se sentir confortável. Depois de um período regular de prática quase todas as pessoas demonstram evoluções. A frequência e a intensidade dos ataques diminuem.

Quando comecei a ensinar, lá nos anos 70, com as bênçãos do meu guru, eu ensinava Yoga para um grupo de asmáticos em um hospital perto de casa. Os pacientes iam de 8 anos de idade até mais ou menos 60. Eu encontrava cada um individualmente uma vez por semana por 8 semanas, passando os ensinamentos de maneira lenta e progressiva. Eu não mantive registros, mas mais tarde, quando encontrei o médico, ele parecia bem satisfeito. Ele mencionou que muitos pacientes demonstraram melhorias ao longo de um ano e foi possível reduzir, em um ou dois casos até cortar, as medicações. As capacidades vitais demonstraram melhorias significativas. Um aspecto importante da yogaterapia é que o paciente se envolve completamente nela. Quando você somente dá medicamentos, o paciente é um participante passivo. Em Yoga Chikitsa o paciente está completamente envolto e quando ele nota melhorias, há um impulso psicológico — um sentimento de realização que o ajuda a praticar regularmente e a se cuidar. Pouco a pouco, ele consegue superar o desespero e a impotência frente aos ataques e passam a ser mais positivos. Passa a se sentir páreo para o desafio.

Quando alguém me pergunta se Yoga Chikitsa funciona para asma brônquica, eu digo que sim. Porque eu era asmático quando era adolescente. Desde que comecei a praticar com meu guru, eu estou — bate na madeira — livre de ataques, há mais de 50 anos. Crianças de famílias que tem gente com asma podem se beneficiar imensamente de uma prática de Yoga relevante se começarem a praticar cedo na vida.

III. CABEÇA E OMBROS ACIMA…

As duas importantes posturas de inversão, Sirsasana e sua melhor metade, Sarvangasana, chamadas de rei e rainha dos Asanas do Yoga, são uma contribuição particular do Yoga para os cuidados e para a terapia corporal. Muitos Yogis contemporâneos discutem sobre essas posturas e dizem serem invenções recentes, mas elas já eram mencionadas no Hatha Yoga Pradipika como Viparita Karani Mudras. O livro Hatha Yoga Pradipika se refere às inversões da seguinte maneira:

“Há um Karana ou procedimento maravilhoso que ajuda a deixar o sol de jejum (nesse caso, o fogo digestivo). Pode-se aprendê-lo somente de um Guru, não diretamente de livros. Se a posição do sol (estômago) estiver acima da lua (cabeça) (por exemplo: de ponta cabeça), chamamos de Viparita Karani (inversão). Aprenda com um Guru.”

A região pélvica — Kandasthana -, de acordo com alguns Yogis, é uma região onde se originam muitas doenças. É também a região de onde acredita-se emanar 72 mil Nadis (o que são Nadis?) e também a Kundalini. Essa região deve ser mantida limpa. As impurezas devem ser queimadas e mandadas para longe, figurativamente falando.

Como os Yogis fazem? Na região pélvica temos o princípio do elemento ar, o Apana Vayu. Na região abdominal, temos o princípio do elemento fogo, o Jataragni ou fogo digestivo, cuja chama se mantém acesa e para cima, de tal maneira que quando estamos em pé, o fogo digestivo está acima da região pélvica. Às vezes, quando muito forte, ele produz a sensação de queimação no esôfago, a azia. O Yogi, ao recorrer às inversões, como o pouso sobre a cabeça (Sirsasana) ou a invertida sobre os ombros (Sarvangasana), coloca a região pélvica acima da região digestiva. Assim, o fogo digestivo ou Jataragni — figurativamente falando — queima na direção da região pélvica, esquentando e purificando os Nadis e a Kandasthana e estimulando a Kundalini com o calor. Esse fogo pode ser ventilado e intensificado pelo controle do princípio do elemento ar ou Apana através do engajamento do Mula Bandha. Isso faz com que Apana se aproxime do princípio do elemento fogo, aquecendo assim o ar, derretendo as impurezas da Kandasthana e estimulando a dormente Kundalini. Então, no pouso sobre a cabeça e na invertida sobre os ombros, o Mula Bandha e o intenso fogo digestivo ajudam a purificar os Nadis e a Rogasthana ou região onde a doença fica estocada é limpa e cuidada.

Há um outro conceito interessante relacionado às inversões sobre o qual já devo ter falado em artigos anteriores. Diz-se que em nossa cabeça há um líquido chamado Amrita, que pode ser traduzido como néctar. Esse néctar nos dá a vida e vai pingando, gota por gota, através da úvula, até o estômago, onde é consumido pelo fogo digestivo para nos dar energia vital. Esse reservatório de néctar é consumido pouco a pouco e, com seu fim, também finda-se a vida da pessoa.

O Yogi tenta racionar o fluxo desse néctar ficando em uma postura invertida por um período de tempo todos os dias — de 30 minutos a uma hora, por exemplo. Durante o tempo em que o Yogi está no pouso sobre a cabeça ou na invertida sobre os ombros, o Amrita se mantém guardado na cabeça, sem pingar para o estômago.

O Hatha Yoga Pradipika explica o Mudra de inversão da seguinte maneira:

“O néctar fresco que flui desde a lua (a cabeça) é engolido pelo sol quente (o fogo digestivo). Assim, o corpo envelhece. Há um Karana ou procedimento maravilhoso que ajuda a deixar o sol de jejum (nesse caso, o fogo digestivo). Pode-se aprendê-lo somente de um Guru, não diretamente de livros. Se a posição do sol (estômago) estiver acima da lua (cabeça) (por exemplo: de ponta cabeça), chamamos de Viparita Karani (inversão). Aprenda com um Guru. Faça dessa prática um Abhyaa (hábito) e aumente a permanência todos os dias. Quem pratica isso por um Yaama (3 horas) vai superar a morte.”

Quando era jovem, fui apresentado a um Yogi conhecido por estar praticando Sirsasana por três horas todos os dias. Sua face tinha uma coloração azulada muito peculiar. Ele também praticava Mouna ou silêncio. Com essa prática, o Yogi pode aumentar, por assim dizer, sua expectativa de vida em 5%, por 3 a 5 anos. Normalmente, depois do pouso sobre a cabeça, o Yogi deve ficar o mesmo tempo na invertida sobre os ombros. Na invertida sobre os ombros, o néctar Amrita, que estava confinado na região do crânio e cérebro, pode se espalhar por toda a região da cabeça até o pescoço, nutrindo assim todos os sensíveis órgãos sensoriais — os dois olhos, os dois ouvidos, a boca e o nariz (Shanmukha). Isso também é considerado necessário para manter o refinamento dos órgãos do sentidos, já que eles estão lá em cima no corpo e talvez não recebam a devida nutrição. Sarvangasana é, portanto, considerado bom para os órgãos do sentido, enquanto Sirsasana é bom para o cérebro.

A posição em pé e a forma como mantemos nossa cabeça, com o queixo para cima, resultam num fluxo livre e de desperdício de Amrita proveniente da cabeça, passando pela úvula e descendo ao fogo digestivo, como uma torneira aberta. Os Yogis perceberam a necessidade de controlar o fluxo desse néctar constantemente e, às vezes, até pará-lo. Eles desenvolveram uma técnica simples chamada de Jalandhara Bandha para temporariamente parar e controlar esse fluxo. O termo Jalandhara Bandha, por si só, indica o efeito que ele produz. Jala significa água, referindo-se aqui ao néctar Amrita, que acredita-se estar em forma líquida. Dhara significa segurar, nesse caso segurar Amrita na cabeça. E Bandha é a trava, o procedimento que ajuda a executar a ação de segurar. Então, Jalandhara Bandha significa trava que possibilita segurar o néctar na cabeça. Claro que, enquanto praticamos Asanas e Pranayama ajustamos o Bandha de tal maneira que permitimos passar somente uma pequena e necessária porção de Amrita, e também mantemos um bom engajamento do Ujjayi na respiração. Por isso que a posição padrão da cabeça na prática de Asana, seja em Tadasana, em Padmasana ou em Vajrasana é a posição de cabeça baixa. É possível ver fotos do meu Guru praticando Asanas e sua cabeça está baixa na maioria delas — mesmo em Asanas como Urdhvamukha Svanasana ou postura do cachorro com a boca pra cima. Em todo Vinyasa Krama pode-se notar que a posição padrão da cabeça relaxada para baixo é utilizada como forma de controlar o fluxo de Amrita e de controlar a respiração Ujjayi.

Alguns Yogis de atualmente podem ler essas narrações metafóricas com um sorriso irônico. Entretanto, essas inversões devem ser consideradas como contribuições ímpares do Yoga para a saúde. Dentro dos primeiros poucos minutos de prática de Sirsasana, os músculos da perna, da coxa e do glúteo relaxam. Os músculos do peito, das costas, dos ombros e do pescoço também relaxam, já que eles não são necessários para manter a estabilidade nessa postura, como acontece na postura em pé. Descobriu-se que, em decorrência do relaxamento dos músculos da perna, a pressão arterial nesses membros cai para cerca de 30mm. No caso dos Yogis, devido à autorregulação, não há um grande fluxo de sangue em direção à cabeça, mas a gravidade ajuda a abrir muitas capilaridades no cérebro e na face que talvez ficassem parcialmente fechadas caso essa prática não fosse executada.

Pessoas com pressão arterial alta e problemas na retina devem ter cuidado. Entretanto, pessoas com hipertensão branda, que esteja sob controle através da dieta, do estilo de vida e até de medicação, poderiam se beneficiar dessa postura se a tivessem aprendido no começo da vida. Essa postura acarreta em um aumento de pressão nos ombros, o que resulta no cérebro tentando reduzir a pressão arterial. Portanto, se uma pessoa pratica Sirsasana regularmente por um período de tempo suficiente, seu batimento cardíaco tende a reduzir, consequentemente reduzindo o esforço do coração. Gradualmente, há uma redução na pressão arterial.

Igualmente importante é o fato de que Sirsasana ajuda a melhorar a circulação do líquido cefalorraquidiano, o que é de grande ajuda ao cérebro e aos agrupamentos nervosos da coluna — os Chakras. Pelo aumento da pressão no cérebro em decorrência desse fluido, as secreções da glândula pituitária aumentam, ajudando no melhor funcionamento do sistema nervoso simpático, o que acarreta em muitos melhoramentos, inclusive a dilatação dos tubos bronquiais, promovendo grande alívio em asmáticos. Isso gera uma drenagem dos tubos bronquiais, o que traz grande alívio também a pessoas com congestão crônica do peito. Muitos sentem um aumento na capacidade de memória e aumento da capacidade cerebral em geral. Existem até casos de melhoria da visão. Alguns Vinyasas — por exemplo torções, Akunchanasana e extensões da coluna como Viparita Dandasana em Sirsasana ou Uttanamayurasana em Sarvangasana — ajudam a coluna consideravelmente, não só mantendo a flexibilidade dessa estrutura, mas também nutrindo os Nadis e os Chakras, ou seja, os tubos e agrupamentos nervosos na coluna espinhal.

Nas inversões, como mencionado em artigos antigos, os órgãos internos recebem uma correção de posição. Yoginis grávidas podem sentir que as inversões ajudam a aliviar congestão pélvica e edemas nas pernas, condições que são comuns durante a gravidez. Praticar as posições invertidas com a variedade de Vinyasas promove uma massagem completa em todos os músculos e órgãos e aumenta consideravelmente a circulação sanguínea. Talvez seja igualmente importante o efeito dessas posturas irmãs nas principais articulações — os tornozelos, joelhos, quadris e na coluna. O espaço intra-articular das articulações aumenta e, portanto, a mobilidade também deve aumentar quando se pratica todos os Vinyasas.

Executar extensões da planta e do peito do pé enquanto se pratica esses Asanas ajudam significativamente as articulações dos tornozelos. Asanas como Akunchanasana nas inversões trazem bastante alívio aos joelhos, enquanto as inversòes ajudam a abrir os quadris empurrando a estrutura pélvica um pouco para baixo e dando mais espaço para o fêmur se mover e rotacionar agradavelmente no encaixe do quadril (confira em Complete Book of Vinyasa Yoga os Vinyasas nas posturas de pouso sobre a cabeça e invertida sobre os ombros). Talvez os maiores benefícios aconteçam em toda a coluna. O espaço intervertebral aumenta e a pessoa que pratica essas inversões — Vinyasas como Akunchanasana e extensões de coluna — vai notar sua coluna alongando de maneira agradável e tornando-se mais flexível. A diminuição do espaço intervertebral pode ser tratado de maneira positiva e dores na parte inferior das costas reduzem de maneira significativa. Eu diria que as inversões são as melhores posturas do Yoga para aliviar dores na parte inferior das costas. No geral, essas inversões e seus Vinyasas ajudam a manter a coluna forte e flexível. Diz-se que a pessoa tem a idade de sua coluna. Além disso, em decorrência do relaxamento das extremidades inferiores, o Sarvangasana é uma boa postura para melhorar a insônia.

Essas posturas irmãs são muito boas para a saúde. Yogis contemporâneos gostam bastante da outra inversão que é bem importante, a parada de mão ou Vipritvrukshasana. Essa é uma ótima postura, com muitas variações possíveis. Porém, como a cabeça não está estável nesse grupo de posturas, alguns dos aspectos mais sutis das outras duas inversões (Sarvangasana e Sirsasana), em que se mantém a cabeça fixa no chão, podem ficar faltando. É mais difícil de manter o equilíbrio e ficar um tempo suficientemente longo em Vipritvrukshasana (postura da árvore invertida) ou parada de mão e em outras posturas semelhantes como a postura do escorpião. Essas duas posturas magníficas ficam “cabeça e ombros acima” das outras no que diz respeito a conferir benefícios de saúde aos Yogabhyasis (praticantes de Yoga).

IV. MEDITANDO SOBRE MEDITAÇÃO

Há uns 30 anos eu estava assistindo a um programa de televisão que é transmitido ao vivo na Índia, a TV tinha acabado de chegar ao país. Era uma atração na qual um Yogi já idoso foi colocado frente a frente com um médico cardiologista. Era praticamente uma guerra. O Yogi tentava impressionar com algumas posturas incomuns que eram tidas como potencialmente perigosas pelo médico. Quase tudo que o Yogi afirmava era contestado pelo não-Yogi e muito rápido o diálogo degringolava. O Yogi insistia que o pouso sobre a cabeça aumenta a longevidade por segurar o Amrita no Chakra Sahasrara na cabeça e o médico contrariava dizendo que não havia base científica para tais afirmações, afirmando que na verdade aquela pose não era natural ao corpo humano, era periogsa e poderia levar a um infarto. O Yogi respondia dizendo que o Yoga passou pela prova do tempo através de séculos; que a prática estava em voga desde muito antes da medicina moderna se tornar popular. Graças a Deus era um programa em preto e branco, caso contrário veria-se sangue esparramado por toda a tela.

As coisas se tornaram muito mais civilizadas nas últimas três décadas. Agora a prática de Jala Neti, Asanas, exercícios de respiração e meditação do Yoga se tornaram parte do vocabulário médico. Há uma certa apreciação apegadas do Yoga por parte da profissão médica. Muitas vezes os médicos sugerem alguns procedimentos Yogicos, especialmente meditação, para diversas condições de saúde, como hipertensão, ansiedade, depressão e outras doenças psicossomáticas.

Ah! Meditação. O mundo do Yoga está dividido em duas partes. De um lado, temos os Hatha Yogis entusiastas que se especializam em Asanas e, do outro, um grupo que crê fervorosamente que a meditação é a panacéia para todos os males.

Mas como uma pessoa deve meditar? Muitos começam a praticar e desistem depois de alguns dias ou semanas, ao não verem nenhum benefício ou progresso perceptível. A taxa de desistência é altíssima entre os meditadores. A mente continua agitada e não se adequa à rotina de meditação. Ou, bem frequentemente, a pessoa acaba dando pequenos cochilinhos enquanto medita. Por que isso acontece? Devido à falta de preparação adequada. Basicamente, uma pessoa deve preparar-se de maneira apropriada para a meditação. Os Yogis falam sobre duas Sadhanas ou procedimentos Yogicos como preparação: Asanas e Pranayama. Asanas, como já vimos anteriormente, reduzem o Rajas que se manifesta como inquietação da mente, uma inabilidade de se manter focado por um período de tempo desejado. Mas outro Guna, chamado Tamas, também não ajuda durante a meditação, se manifestando como preguiça e letargia, e isso também deve ser controlado se uma pessoa quer meditar. Patanjali, Tirumalar Krishnamacharya e muitos outros Yogis antigos defendem a prática de Pranayama para reduzir os efeitos de Tamas. Patanjali dis que Pranayama ajuda a reduzir Avarana ou Tamas. Junto com outros Ashtanga Yogis tradicionais dizem que Pranayama permite que a mente consiga praticar Dharana ou o primeiro estágio da meditação.

Pranayama é um importante pré-requisito para a meditação, pois há evidências de que sua prática produz um efeito muito saudável em todo o sistema. Em um artigo anterior expliquei os efeitos benéficos para o coração e para o sistema circulatório de praticar Pranayama profundamente. Além disso, quando praticado corretamente, a prática ajuda a inalar de 3 a 4 litros de ar atmosférico comparado a somente cerca de ½ litro na respiração normal. Isso ajuda a estender os sacos de ar dos pulmões, permitindo uma excelente troca de oxigênio e de gases residuais da respiração. Esse resíduo é proativamente jogado para fora do sistema através da prática profunda de Pranayama, o que os Yogis chamam de redução de Tamas.

Portanto, logo após a prática de Pranayama, o Yogi se sente revigorado e calmo, estando adequado ao primeiro estágio da meditação, chamado de Dharana. Sobre o que o praticante deveria meditar? Muitos técnicas falam sobre meditar nos Chakras, com Mantras, com ícones auspiciosos, Tattvas diversos ou sobre o espírito/a alma. Mas o método da meditação em si é detalhado somente por algumas teorias.

Talvez o detalhamento mais preciso seja o de Patanjali nos Yoga Sutras. Patanjali detalha não só um passo-a-passo da meditação, mas também os muitos objetos da Prakriti e, em última instância, o espírito interno sobre o qual se pode meditar. Portanto, seu trabalho pode ser considerado o mais detalhado, completo e rigoroso sobre meditação.

Para começar, Patanjali diz que o Abhyasi deve aprender a técnica corretamente. Assim, ele não começa especificando o objeto, mas meramente dizendo que o Yogi, depois das práticas preliminares de Asana, Pranayama e Pratyaharai, deve sentar-se em uma postura de Yoga confortável e começar a meditar. Manter a mente em um ponto é a prática de Dharana. Qual ponto? Vyasa, em seus comentários, sugere alguns pontos tradicionais, primeiro dentro do corpo, como os Chakras, como um praticante de Kundalini Yoga faria; ou o lótus do coração, como um praticante de Bhakti Yoga faria; ou o ponto entre as sobrancelhas, como um praticante de Siddha Yogi faria; ou até mesmo um ícone externo, como um praticante de Kriya Yoga faria.

O ícone deve ser um objeto auspicioso como a imagem de uma deidade favorita. Muitos acham mais fácil escolher um mantra para focar sua atenção. Milhares de pessoas meditam diariamente sobre o Gayatri Mantra, visualizando o sol no meio das sobrancelhas ou o coração, como parte de sua rotina diária de Sandhyavandana**. Também é uma prática ancestral meditar sobre a respiração com ou sem o Pranayama Mantra.

(**Namarupa publicou meu artigo “Sandhyavandanam-Ritualistic Gayatri Meditaion” com todas as rotinas, mantras, significados, cerca de 40 fotos e também um áudio com o cântico dos mantras, na edição de set/out de 2008.)

Mas e a técnica?

O Yogabhyasi começa o Antaranga Sadhana ou a prática interna trazendo a mente para o mesmo objeto de novo e de novo, conforme a mente tende a se distanciar do objeto de meditação escolhido. As tentativas ativas e repetidas de trazer a mente de volta ao simples objeto escolhido é o primeiro estágio da meditação (Samyama), chamado de Dharana. Mesmo quando se fez tudo que é possível para deixar o corpo e a mente mais Sátvicos, pelos Samskaras ou hábitos acumulados, a mente continua escapando do objeto de meditação escolhido. A mente começa com o foco no objeto, mas rapidamente ela passa para outro pensamento relacionado, vai para um terceiro e em pouco tempo essa cadeia de pensamentos chega em algo que não tem nenhuma conexão com o objeto que iniciou o processo.

De repente, o meditador se lembra que está se dispersando e traz sua atenção de volta ao objeto, reiniciando o trabalho de se manter com o “objeto”. Esse processo se repete de novo e de novo. Essas tentativas consecutivas de influenciar e trazer a mente para o mesmo objeto é Dharana. No fim de uma sessão durando cerca de 15 minutos, o meditador pode (pode quer dizer deve) tomar um tempinho para revisar a qualidade da meditação. Quão frequentemente a mente se dispersou do objeto e por quanto tempo, mais ou menos, a mente devaneou? Além disso, quais os tipos de pensamentos que estavam interferindo? O meditador registra isso. Se eles forem recorrentes e fortes, então o praticante deve tomar algumas providências para resolver o problema que está interferindo na meditação repetidamente ou pelo menos decidir aceitar e suportar a situação, mas comprometendo-se a manter tais pensamentos distantes pelo menos durante o tempo de meditação.

Se, durante o período de prática de Dharana, a mente se distrair com muita frequência e isso não mudar ao longo de dias de prática, talvez seja um indicativo de que Rajas ainda está dominante e o praticante pode escolher trabalhar o excesso de Rajas no sistema fazendo uma prática com mais Asanas. Já no caso do Rajas for causado por influências externas, o praticante pode fazer esforços especiais para aderir aos Yamas e Niyamas de maneira mais escrupulosa. Talvez toda noite, antes de dormir, o praticante pode revisar as atividades do dia e ver se ele deliberadamente infringiu os princípios dos Yamas e Niyamas, como, por exemplo, “eu machuquei alguém com algum ato ou palavra ou objetive satisfação às custas da dor de outros?”; ou “eu contei mentiras ou meias verdades?”; e assim por diante. Por outro lado, se o praticante tende a adormecer durante os minutos de meditação, ele pode considerar aumentar a prática de Pranayama e reduzir as interações, comidas e outras coisas Tamásicas da vida.

Assim, a pessoa pode continuar sua prática diária e revisar seu progresso diariamente, fazendo os ajustes necessários em sua práticas e nas interações com o mundo exterior. Teórica e praticamente, quando essa prática é seguida de maneira diligente e regular, pouco a pouco o praticante de Dharana vai notar que a frequência e a duração das interferências começam a diminuir e, um dia, o Abhyasi vai perceber que se manteve com o objeto durante todo o período de prática. Quando isso acontece, quando a mente está completamente com o objeto, momento após momento, em um fluxo contínuo de atenção, pode-se dizer que o Abhyasi graduou para o próximo estágio da meditação, conhecido como Dhyana. Muitos meditadores ficam felizes por terem atingidos esse estágio. Aí, o praticante deve seguir para que os hábitos ou Samskaras de Dhyana se fortaleçam. O dia seguinte talvez não seja livre de interrupções, mas Patanjali diz que a prática consciente vai levar ao sucesso. “Dhyana heyat tad vrittayah”. Se a pessoa continua com essa prática, meditando por um tempo suficientemente longo em sobre o mesmo objeto diligentemente, ela possivelmente chegará ao próximo estágio da meditação, chamado de Samadhi. Nesse estado, somente o objeto ocupa a mente e o Abhyasi se esquece até de si mesmo.

Naturalmente, se a prática de meditação for continuada, a pessoa passa a dominar a técnica da meditação. Quase todas as vezes que o Yogabhyasi entrar na prática de meditação, ele chegará a Samadhi. Uma vezes que se adquira essa capacidade, a pessoa se torna um Yogi — um Yogi tecnicamente competente — e pode usar essa habilidade em qualquer outro objeto de prática de Yoga para progredir mais. (Tatra Bhumisho Viniyogah) O Yogi realizado pode desenvolver mais refinamentos. Um objeto tem um nome e tem-se uma memória do objeto, separados do objeto em si (Sabda, Artha Gnyana). Se um Yogi consegue refinar ainda mais sua meditação focando a atenção em um aspecto como o nome do objeto, tal meditação é considerada superior. Por exemplo, quando se escuta o som ‘Gow’ (Gow significa vaca), se o meditador intencionalmente mantem somente a palavra ‘Gow’ na mente sem trazer a figura da vaca a sua percepção, essa é considerada uma meditação refinada. Ou quando ele vê uma vaca e não traz o nome ‘Gow’ à mente, também é uma meditação refinada.

O aspecto seguinte que se pode considerar, depois de dominar a meditação, é qual o objeto sobre o qual eu deveria meditar. Para Bhakti Yogis, deve-se meditar sobre O Senhor. De acordo com meu professor, um grande Bhakti Yogi, há somente uma Dhyanai ou meditação, que é Bhagavat Dhyana ou meditar sobre O Senhor. Há uma diferença entre uma pessoa religiosa e um devoto. Um devoto ama O Senhor e medita sobre O Senhor, durante toda a vida. Os Vedas falam de Pararmatmam ou O Senhor Supremo e os Bhakti Yogis meditam sobre O Senhor.

Os Vedas falam de muitos deuses e pode-se meditar sobre eles, também. Ao meditar sobre O Senhor, pode-se transcender o ciclo de trnasmigração. No fim da vida, um Bhakti Yogi chega ao mesmo mundo que O Senhor (Saloka), o céu. Alguns assumem a mesma forma que O Senhor. Os Puranas, textos mais recentes de estimados poetas, personificam O Senhor e os deuses Védicos. Portanto temos muitos Puranas, como o Agni Purana, o Vayu Purana e também alguns sobre O Senhor propriamente, como o Bhagavata Purana, Shiva Purana, Vishnu Purana. Criando milhares de Slokas e páginas, a era Puranica ajudou a venerar O Senhor mais facilmente, já que essas histórias ajudaram a visualizar Deus como uma pessoa, o que era meio difícil de fazer a partir dos Vedas. Mais tarde, Agamas tornou O Senhor mais acessível ao permitir que fossem feitos ídolos a partir de Deus e de seres divinos e que os concentrassem em templos. Portanto, esses diversos métodos ajudaram a população em geral a se manter enraizada na religião e na adoração religiosa.

Portanto, meditar sobre um atraente ídolo ou ícone de Deus fez com que fosse possível para muitas pessoas adorar e meditar. Claro, muitos Brahmins tradicionais, pertencendo às práticas Védicas, se mantiveram nos rituais Védicos do fogo e desgostaram e desaprovaram outras ‘formas de adoração’, mas milhões de outras pessoas encontraram nessas formas de adoração uma grande bênção. Meditar sobre a forma da deidade escolhida em um templo ou na própria casa possibilitou uma contornar a classe sacerdotal intermediária de maneira muito ampla. A pessoa pôde se tornar responsável por sua própria prática religiosa, incluindo a meditação. A realidade última é meditada de diferentes formas, como Shiva, Vishnu, etc., ou como Pai, Mãe, Preceptor ou até mesmo como um Amigo. Algumas pessoas que meditam sobre imagens e ídolos definem meditação como um todo como Dharana. Aí, meditar sobre cada aspecto da imagem, como os dedos, a cabeça, os braços ou os encantadores olhos, seria Dhyana, dando, então, uma interpretação diferente a meditação. Alguns, depois de meditar sobre o ícone, fecham seus olhos e meditam sobre a forma através dos olhos da mente (Manasika).

Darshanas como Samkhya e Yoga, que não se submetem à teoria de um Criador, definiram a ‘compreensão sobre si mesmo’ como o caminho da liberação. O Self (essência), que é permanente, é pura consciência e, através de meditação constante, depois de se aprender a técnica corretamente, a pessoa pode realizar a natureza de si mesmo e ser liberto. Seguindo essa abordagem, o Samkhya recomenda meditar sobre cada um dos 24 aspectos de Prakriti no complexo corpo-mente e transcendê-los para compreender diretamente a natureza real de si mesmo, e isso será liberdade ou Kaivalya. Da mesma maneira, Yogis diriam que a verdadeira natureza só é conhecida quando a mente transcende (Nirodha) seus cinco tipos de atividades, chamadas Vrittis, para atingir Kaivalya, através de um processo de meditação mais e mais sutil.

Os Upanishads, por outro lado, ainda que concordem com os outros Nivritti Sastras como o Yoga e o Samkhya, no que diz respeito à natureza de si, indicam que o indivíduo e o Ser Supremo são um e único, e meditar sobre essa identidade leva à libertação. Eles sugerem que o aspirante espiritual, antes de mais nada, siga uma vida disciplinada para conseguir uma mente Sátvica inabalável. Aí, a pessoa estudaria os textos do Upanishads (Sravana), analisando (Manana) e entendendo seu conteúdo, para então realizar a essência do ser através de diversas abordagens passo-a-passo de meditação (Nidhidhyasana). Os Vedas, para a graça do aspirante espiritual, tem diversos Upanishad Vidyas para serem estudados e entendidos de diversos pontos de vista. Por exemplo, o Panchkosa Vidya indica que a essência real do ser está além (ou dentro) dos cinco Koshas (corpos). Poderia também ser considerado como a consciência pura que está além dos três estados de percepção (Avasta): despertar, sonhar e sono profundo, como o Pranava (Om) Vidya indica. A compreensão e a convicção de que o ser e o Ser Supremo são um e único é o que a pessoa precisa entender antes de fazer as meditações dos Upanishads, de acordo com a interpretação Adváitica.

Resumindo, pode-se dizer que meditação tradicional garante a preparação apropriada para que a mente se torne irreversivelmente Sátivica e, portanto, adequada e capaz de meditar. Segundo, exige prática sobre um simples objeto até que a técnica seja dominada e tais Samskaras (hábitos) meditativos sejam desenvolvidos. Aí o Yogi poderia determinar o objetivo de meditação baseado na convicção de uma filosofia sólida — Bhakti, Samkhya, Yoga, Vedanta, Kundalini (ou, se estiver confortável, Nirvana), ou o que quer que seja.

V. YOGA PARA O CORAÇÃO

Sri Krishnamacharya, meu Guru, descrevia o Yoga como um Sarvanga Sadhana ou um método que ajuda a todas as partes do corpo, não somente aos músculos. Toda parte do corpo pode ser acessada e tratada, afirmam os Yogis. Portanto, a influência do Yoga no coração deve ser considerada. Uma das perspectivas expressadas repetidamente por meu Guru é a de que o coração não deve ser sobrecarregado; que mesmo quando você exercita técnicas de Yoga como asanas, o batimento cardíaco não deveria aumentar significativamente, o que é bem diferente das abordagens ‘aeróbicas’. Além disso, há um outro aspecto. Existem seis kosas ou sacos vitais no corpo, que são os seis importantes órgãos vitais. O coração é chamado de Hrudaya Kosa ou saco do coração, que fica na cavidade torácica e é responsável pela circulação do sangue (rakta-sanchara) para todos os órgãos purificadores como os rins, os pulmões, etc., e também para todos os tecidos do corpo. O coração está rodeado pela cobertura ou saco de revestimento duplo chamada de pericárdio, que permite que o coração se mexa suavemente dentro da cavidade torácica. Esse órgão, que é feito de músculos, está conectado às paredes do peito, que também é feita de músculos. Esses músculos, devido à nossa postura de pé na maioria do tempo, ao longo do tempo, tendem a cair em decorrência da gravidade, mesmo tendo um bom apoio. Essa caída do Hrudaya Kosa, de acordo com os Yogis, tem um efeito debilitante progressivo no coração — que se torna menos eficiente por causa de seu lento deslocamento para baixo de sua posição inicial. A hipótese da ‘caída do coração’ chamava a atenção dos Yogis.

Então, nesse artigo, vamos examinar o que os Yogis de antigamente fizeram para 1. ajudar o coração em sua função de bombear sangue e 2. corrigir o lento declínio de sua eficiência devido ao deslocamento físico, ainda que pequeno, do coração e de sua elasticidade. Há dois segmentos de rakta-sanchara ou circulação sanguínea. Primeiro há o retorno de sangue para o coração para que ele possa bombear sangue para as várias partes do corpo, incluindo os órgãos purificadores como os pulmões (Svasa Kosa) e rins. Todo o sangue que é recebido por todos os tecidos e músculos terão que retornar ao coração. Os músculos, especialmente os esqueléticos, se mantém parcialmente contraídos constantemente para manter o tônus. Essa pequena contração ajuda a espremer um tanto de sangue ‘usado’ para fora dos músculos, entrando no sistema venoso. As veias contêm válvulas que previnem o sangue de voltar para os músculos. Durante os movimentos desses músculos, o sangue é empurrado lentamente na direção da principal veia que carrega todo o sangue de volta ao coração. Em relação a músculos esqueléticos, ambos os músculos extensores e flexores sob inervação normal mantém um tônus constante durante o descanso. Portanto, mesmo uma pessoa muito sedentária pode manter seu sangue circulando devido a esse fenômeno chamado ‘bomba muscular’, ainda que essa circulação não seja muito eficiente. Se o sangue que retorna ao coração é pouco ou abaixo do normal, o coração terá que bater mais frequentemente para empurrar a mesma quantidade de sangue. Se o ‘volume de bombeamento’ aumenta, então o coração consegue bombear sangue de maneira mais eficiente. Ele baterá menos vezes para circular a mesma quantidade de sangue, o que, de acordo com os Yogis, ajuda a reduzir a fatiga do coração. Isso é considerado desejado. Há algumas coisas que o Yogi faz para aumentar o retorno do sangue venoso. Ao fazer uma série de Vinyasas, a pessoa pode espremer mais sangue para fora das células. Na prática de Vinyasa Krama, em uma lógica de Vinyasas e Asanas bem pensada, a pessoa pode trabalhar todos os músculos, tecidos e células do sistema esquelético, a ponto de executar uma limpeza completa do sistema. E, conforme o sangue ‘desoxigenado’ sai, sangue fresco e cheio de vitalidade entra.

O que é igualmente ou mais importante é o efeito da respiração nesse retorno do sangue venoso. Quando inspiramos, expandimos o peito. Nessa expansão, o diafragma desce e há um vácuo parcial criado na cavidade torácica — há uma diferença de pressão significativa entre a cavidade torácica e atmosfera ao lado de fora. Então, conforme o peito se expande, devido à diferença de pressão, o ar entra rapidamente nos pulmões através das narinas, traquéias, etc. Normalmente, isso acontece em alguns segundos, então a inspiração involuntária para, e a exalação começa devido ao relaxamento dos músculos do peito. Então, um tanto de ar, cerca de 500 centímetros cúbicos dos 5 litros de ar do peito, é expelido. Isso é uma respiração normal.

O que é importante em nossa discussão é que quando o peito expande, o vácuo parcial que é criado tem também um efeito no coração que está na mesma cavidade torácica. O sangue, que está se movendo lentamente pela veia principal, a veia cava, é sugado por esse vácuo parcial e sua sucção tem o efeito de acelerar o fluxo de sange para a câmara do coração. Os Yogis tiram vantagem desse fenômeno também chamado de ‘efeito da bomba respiratória’. Ao expandir mais o peito, e mais lentamente, a pressão negativa na cavidade do peito aumenta e é mantida por mais tempo ao segurar o ar, durante Kumbhaka.

Durante a longa inspiração e a retenção do ar, o efeito da bomba de sucção é mantido e o fluxo de sangue de volta ao coração é acelerado. Portanto, uma boa prática de Pranayama ajuda o retorno do sangue venoso para o coração. Por isso, o método Vinyasa Krama de praticar yoga tem uma vantagem adicional. Executar as dezenas de Vinyasas ajuda a espremer para fora o ‘sangue ruim’ de todo músculo e toda articulação, a respiração simultânea lenta e sincronizada aplicada principalmente na inspiração ajuda a sugar mais sangue para o coração. Como os Vinyasas e Asanas ajudam a espremer sangue para fora, a respiração lenta mais profunda, que mantém a pressão negativa da cavidade do peito por um período bem mais longo, ajuda a devolver mais sangue ao coração a ponto de, a cada batimento, ele bombear mais sangue — o volume bombeado aumenta. Em cerca de meia hora de prática de Vinyasa Krama uma pessoa consegue fazer cerca de 100 Vinyasas levando em consideração os períodos de descanso, e durante esse período existe uma melhora significativa na circulação de sangue de todo o sistema. Esse método de yoga tem uma clara diferença em relação aos exercícios aeróbicos. Nos exercícios aeróbicos — que acontecem quando as pessoas praticam yoga como musculação, sem nenhum cuidado com a respiração lenta — a circulação aumenta, mas devido ao funcionamento mais rápido do coração e dos pulmões. A mesma quantidade de circulação de sangue é alcançada através de um número maior de batimentos cardíacos, o que, de acordo com Yogis, é ineficiente e sobrecarrega o coração. Indo além na questão da musculação, o corpo cria mais resíduos e mais ‘sangue ruim’ devido ao metabolismo significativamente aumentado, enquanto no Yoga, quando a respiração lenta e sincronizada é praticada, como no Vinyasa Krama ensinado por Sri Krishnamacharya, o aumento do metabolismo é mínimo.

O Yoga também cuida da circulação sanguínea dos órgãos internos. Enquanto os Asanas beneficiam basicamente os músculos esqueléticos, os Yogis desenharam métodos em que a grande quantidade de músculos e tecidos mais profundos do corpo são exercitados para que grandes quantidades de sangue dessas partes do corpo sejam espremidas para fora e colocadas em circulação. A inspiração profunda feita durante a prática de Pranayama empurra o diafragma para baixo e coloca uma pressão funcional nos órgãos abdominais e pélvicos. Além disso, alguns Yogis praticam Mula Bandha e um pouco de Uddiyana Bandha depois da inspiração (enquanto seguram o ar) para que haja pressão vinda de cima, de baixo e da parte frontal nos órgãos internos (órgãos abdominais e pélvicos), trazendo ainda mais sangue para fora desses órgãos e músculos. De novo, depois da exalação, Bandhas ainda mais potentes são engajados para que os órgãos e músculos internos sejam exercitados, pressionados e massageados.

No Uddiyana Bandha durante Bahya Kumbhaka (pausa da respiração sem ar), o praticante, como meu Guru, consegue empurrar o diafragma bem fundo para dentro da cavidade torácica proporcionando uma pressão externa saudável nos músculos do coração para espremer o sangue para fora e massagear gentilmente o coração, portanto ajudando a elasticidade da musculatura no processo.

Há um outro procedimento único que os Yogis praticam para o retorno do sangue venoso para o coração — os Asanas invertidos, como o pouso sobre a cabeça, a invertida sobre os ombros e os vários Vinyasas nessas posturas. O coração fica bem alto no corpo, no terço mais alto do corpo, enquanto estamos de pé. Enquanto essa posição ajuda a bombear sangue de maneira mais eficiente para os dois terços do corpo que estão para baixo, como os órgãos viscerais e as extremidades inferiores, o retorno do sangue para o coração é comprometido em algum nível devido à resistência da gravidade. Então as inversões, como Sarvangasana, ajudam a drenar fluidos, especialmente sangue, das extremidades inferiores do corpo e da musculatura visceral. Isso se acentua ao praticar diversos Vinyasas nas inversões. A combinação de Vinyasas nas posturas invertidas com respiração sincronizada e o engajamento dos Bandhas ajuda a devolver mais sangue dos músculos e tecidos inferiores para o coração. Exercícios como Kapalabhati, Vanhi Sara (Agni Sara) e os Bandhas ajudam no processo.

Como mencionado anteriormente, outra percepção que era reforçada frequentemente por meu Guru era a de que todos os órgãos internos tendem a se deslocar ou ceder lentamente, se tornando menos eficientes ou doentes ao longo do tempo, em decorrência da perda parcial do tônus. O tônus muscular do coração é muito bom quando se é jovem, mas com a atuação to tempo e da gravidade os músculos começam a decair — perdem um pouco seu tônus, se tornam menos elásticos, como todos os outros músculos. Então os Yogis recorriam às invertidas ou Viparita Karanis. Para o coração, Sarvangasana é ideal, posição na qual o coração fica confortavelmente na porção superior da cavidade torácica, bem apoiado e em descanso. Talvez essa seja uma das razões pelas quais Sarvangasana seja conhecido como o Coração dos Asanas. Uma permanência de dez minutos em Sarvangasana com os Bandhas ajuda a recolocar — ou até a trazer demais na direção oposta — o coração em sua posição original. Diz-se que o Pranayama feito posteriormente ajuda a normalizar a posição do coração, neutralizando qualquer correção demasiada que possa ter acontecido durante a inversão.

Um Uddiyana Bandha profundo e outros exercícios abdominais, como Kapalabhati, Vahni Sara, etc., ajudam a massagear e fortalecer a musculatura do coração para que ele continue a bombear sangue para todo o corpo de maneira eficiente. Portanto, se a condição do coração está normal para uma pessoa, pode ser uma boa prática os exercícios para o peito e para os músculos auxiliares do tórax — confira os Hastha Vinyasas no capítulo de Tadasana do meu livro “The Complete Book of Vinyasa Yoga”. Esses exercícios trabalham os músculos que sustentam a respiração e ajudam a expandir a cavidade torácica significativamente. Depois, pratique o máximo de Vinyasas possível em diferentes Asanas para cuidar do corpo todo. Fique na invertida sobre os ombros por uns bons dez minutos, executando uma série de Vinyasas. É melhor ainda se o praticante também conseguir fazer o pouso sobre a cabeça por alguns minutos. Pratique Pranayama por cerca de dez minutos, precedido por Kapala Bhati e acompanhado dos Bandhas. Pratique uma boa meditação por cerca de 10 a 15 minutos para que a mente e a musculatura torácica relaxem. Você pode também considerar entoar em voz alta mantras védicos ou outros mantras Laukika como os Sahasranamas, ou leia em voz alta as escrituras por cerca de 15 a 20 minutos todos os dias. Diz-se que a oração é muito eficaz.

Há uma oração védica dedicada ao Deus sol (o sol é o Deus da saúde) que é especialmente bom para o funcionamento do coração:

“Hrudrogam mama surya harimaananca nasaya.”

Oh, Deus Sol. Remova a doença do meu coração e as marcas esverdeadas da minha pele (devidas à oxigenação e à circulação sanguínea impróprias).

Nessa prática, o batimento cardíaco diminui, voltando para o padrão de descanso. De acordo com os conselhos do meu Guru, devemos evitar praticar Yoga como musculação, pois isso aumenta substancialmente a taxa de batimento cardíaco. No Hatha Yoga Pradipika, o autor Svatmarama, citando outro grande Hatha Yogi, Gorkshanatha, menciona que o Yogi não deve praticar atividades extenuantes (Kaaya Klesa), pois comprometem o progresso geral no Yoga.

Brahmananda, que escreveu um comentário esclarecido sobre esse texto, dá exemplos que são considerados exercícios extenuantes e que devem ser evitados pelo Yogi. Ele fala especificamente de levantar e carregar muito peso e fazer saudações ao sol repetidamente (Bahu Suryanamaskara) como exercícios extenuantes que devem ser evitados pelo Yogi. Meu professor dizia que o Yogi deve ser esbelto (Krisa) e não manter sobrepeso. Pode-se dizer que “sobrepeso é ruim, de musculatura ou de gordura”, pois sobrepeso coloca carga adicional no coração.

Exercícios aeróbicos são bons de uma maneira particular; eles ajudam a fortalecer o sistema cardiovascular. Ainda assim, Yoga, praticada de acordo com o sistema de Vinyasa Krama, é a antítese de exercícios aeróbicos. O Yoga da respiração deliberadamente reduz a taxa de respiração e, consequentemente, os batimentos cardíacos, enquanto exercícios aeróbicos e o Yoga aeróbico (como na prática de 108 Suryanamaskara seguidos) aumentam significativamente a taxa de respiração e de batimento cardíaco. Enquanto musculação e a prática de Yoga como musculação ajudam a reduzir Rajas, elas acentuam Tamas. Entretanto, Vinyasa Krama Yoga praticado com atenção na respiração sincronizada e lenta, seguido de Pranayama ajuda não só a reduzir Rajas como também Tamas. A redução desses Gunas faz a mente ficar mais calma e clara ou Sátvica, e uma mente mais calma contribui para o bom funcionamento do coração. Portanto, pode ser uma boa ‘Política de Saúde’ estimular jovens, especialmente adolescentes, a praticar Yoga, os Asanas e Vinyasas, Pranayamas, diversos Mudras, Viparita Karanis e meditação de forma adequada, comer de maneira moderada e comidas Sátvicas, para que aprendam a sempre cuidar da saúde de seus corações.

VI. NERVOS NO YOGA

O cérebro e seus caminhos nervosos formam um sistema importante do ser humano: o sistema nervoso, constituído por cérebro, cordão espinhal que contém as fibras nervosas, gânglios, plexus e nervos periféricos. Mais uma vez, o Yoga tem alguns procedimentos únicos para ajudar no funcionamento desse sistema. Já vimos os benefícios que a técnica ogica de meditação pode trazer para o cérebro. Ela ajuda a criar novas conexões neurais e reduzir a agitação. Essa técnica de Raja Yoga atua dentro do cérebro e o transforma (Parinama) em um órgão com um funcionamento melhor. Os Hata Yogis, através de práticas de Hata Yoga como Pranayama, Viparitakaranis e alguns Mudras mantinham a boa saúde do cérebro. As duas posturas que realmente ajudam o cérebro são, como você pode adivinhar, as inversões, Sirsasana e Sarvangasana.

Muitas pessoas, quando começam a praticar a invertida sobre a cabeça, percebem que sua face fica corada e sentem um fluxo de sangue para a face e para o crânio. Depois de um pouco de prática regular, em um período curto de tempo, o corpo se ajusta à nova postura e autorregula o fluxo sanguíneo. Quando se pratica essa postura por um período de tempo significativo, a circulação sanguínea no cérebro melhora consideravelmente, já que as veias cerebrais não contraem e dilatam como as outras veias. Isso é muito revigorante para o cérebro e normalmente as pessoas sentem uma sensação de renovação. Igualmente importante é o fato de que o fluído cerebrospinal, que é um líquido claro e transparente que envolve o cérebro e o cordão espinhal, escorre e se concentra na porção superior do cérebro. Ele entra nos ventrículos e nos pequenos espaços do cérebro e ajuda a nutrir as células cerebrais. O terceiro ventrículo leva a um pequeno espaço na parte posterior da glândula pituitária. A pressão do fluído cerebrospinal, enquanto estamos na invertida sobre a cabeça, ajuda a glândula a liberar mais hormônios para o fluído que, por sua vez, acredita-se estimular o sistema nervoso simpático. Dessa maneira, pessoas com um sistema simpático fraco podem se beneficiar ao permanecer na invertida sobre a cabeça por um período de tempo considerável. Um sistema simpático fraco é considerado como uma das causas de doenças com asma brônquica. Portanto, esse exercício, ao estimular o sistema nervoso simpático, pode ser útil para aqueles que sofrem de condições como asma brônquica, seu primo eczema e sua parente distante, a epilepsia.

Em relação à invertida sobre a cabeça, Sarvangasana é semelhante em alguns aspectos, mas diferente em outros. Nela, em vez da coroa, a parte que fica no chão é a parte traseira inferior da cabeça (nuca), e o fluído cerebrospinal se concentra na altura média e na parte posterior do cérebro, incluindo a medula. Essas áreas são muito estimuladas em uma boa execução de Sarvangasana. Diz-se que os núcleos do nervo vago são estimulados nesse exercício. Assim, ele resulta na ativação do sistema nervoso parassimpático. Isso acarreta a redução da ansiedade e da insônia. Meu Guru dizia que ajuda também a normalizar as funções sexuais. Portanto, uma mistura cuidadosa de invertida sobre a cabeça e sobre os ombros ajuda a trazer um equilíbrio saudável entre os sistemas nervosos simpáticos e parassimpáticos.

O Yoga tem um foco particular em manter a integridade da coluna. O cordão espinhal tem cerca de 45cm em homens e 43cm em mulheres. A coluna vertebral óssea envolve e protege o cordão espinhal que é relativamente menor. Na verdade, o cordão espinhal se estende somente até a última vértebra torácica, ou à espinha torácica, e então o rabo continua pela lombar. O cordão espinhal está dentro do canal neural — quaso do diâmetro do dedão — da coluna vertebral. Os nervos saem da espinha para ambos os lados através de aberturas chamadas forames neurais e então seguem para o sistema nervoso autônomo e para vários órgãos. Os mais sutis deslocamentos de uma vértebra resultam em dores crônicas ou agudas. No Yoga, são feitos esforços para manter a coluna vertebral em sua posição e mobilidade adequadas. Há fibras de ambos os sistemas nervosos autônomo e central e, quando há pressão nos nervos devido aos mais sutis deslocamentos de vértebra, há uma dor que inibe vários impulsos que passam pelo cérebro, pelo cordão espinhal, por vários órgãos e músculos. Isso pode ser comparado a um barulho no sistema de transmissão de um telefone. Nesses casos, os sinais não chegam de maneira apropriada aos órgãos ou ao cérebro e o cordão espinhal não recebe os sinais adequadamente, devido à ineficiência desses órgãos. Por isso, os Yogis tomam um cuidado especial e se certificam de que a coluna vertebral esteja sendo exercitada de maneira apropriada para mantê-la flexível e forte. Os exercícios são projetados para evitar qualquer pressão vertebral nos nervos ao manter um espaço saudável entre as vértebras. Dessa maneira, esses exercícios de coluna ajudam na circulação de sangue e fluído cerebrospinal para nutrir os nervos da coluna. Eles também aconselham fortalecer a musculatura das costas para que a coluna vertebral esteja bem apoiada. Paschimatanasana, como o próprio nome diz, supre essa necessidade admiravelmente.

Os movimentos para a coluna incluem flexão lateral e frontal, curvamento das costas, extensão da coluna e, claro, torção. Eles podem ser feitos em diferentes posturas como de costume no Vinyasa Krama. Uma das sequências mais simples que ajuda a suprir todos esses movimentos é a de Hasta Vinyasas e movimentos torácicos do Tadasana. (Veja meu livro “Complete Book os Vinyasa Yoga”, capítulo sobre Tadasana).

Esse alongamento da coluna vai ser melhorado se a pessoa praticar as variações de vinyasas em posturas como Sarvangasana e Sirsasana. O cordão espinhal está dentro da região torácica da coluna vertebral. Assim, quando mexemos os braços e fazemos os vários movimentos, a espinha na região torácica não se alonga, pois a caixa torácica se mexe para cima e para baixo como uma coisa só. Os discos intervertebrais na região torácica da coluna são muito mais finos que nas regiões cervical e lombar. O resultado é que geralmente há menos movimento entre as vértebras da região torácica. Os Yogis encontraram uma maneira única de alongar a coluna torácica ao fazer todos os movimentos com respiração profunda, especialmente a inspiração. Quando fazemos inspirações profundas, o peito se expande lateralmente, para frente e para trás e para cima e para baixo, o que ajuda a alongar a coluna na região torácica e manter um bom espaço intervertebral para mobilidade e liberdade dos nervos. Portanto, o método Vinyasa Krama de praticar Asanas com respiração adequada tem essa vantagem adicional. De novo, uma boa execução de Pranayama, especialmente Nadishodhana (limpeza dos nervos) com um leve, gracioso e firme Jalandhara Bandha podem ser muito benéficos para o cordão espinhal. As profundas inspirações e longas pausas com ar (1:4:2) depois da inspiração (Antah Kumbhaka) beneficiam diretamente os nervos dentro da espinha. Portanto, quando você faz inspirações profundas, segura o ar e alonga a coluna, a própria respiração atua como tração interna na coluna torácica.

VII. PRÁTICA DE VINYASA KRAMA

A maioria dos leitores desta newsletter estudaram a prática de Asanas pelo Vinyasa Krama comigo por tempos variados — um programa de fim de semana, um programa de uma semana sobre Core Vinyasa, um programa completo de 60 horas de Vinyasa Yoga ou o Treinamento para Professores de 200 horas. Muitas pessoas veem algo único neste sistema, de alguma maneira diferente do Yoga contemporâneo amplamente difundido. A maioria já leu o livro “The Complete book of Vinyasa Yoga” e então se perguntou “o que mais?”. Como eu posso construir uma prática diária a partir destas sequências? Há mais de 700 Asanas e Vinyasas e eu normalmente recomendo fazer cada Vinyasa 3 vezes. Considerando repetições a um ritmo de 4 a 5 movimentos por minuto (poderia ser até 3 por minuto para bons respiradores), poderia levar de 8 a 9 horas para completar todo o Vinyasa Krama. Além disso, meu Guru recomendaria fazer uma pequena prática de Pranayama, por 15 a 30 minutos, e então entoar mantras ou meditar por mais 15 a 30 minutos, diariamente. Também devemos considerar que, na prática de Asana, há algumas posturas bem representativas que requerem uma permanência longa. Então é praticamente impossível praticá-la completamente todos os dias mesmo para uma pessoa que se dedica integralmente a ‘praticar-viver-e-dormir-no-tapete-de-yoga’. O livro foi escrito para apresentar da maneira mais completa possível todos os Vinyasas em uma série de sequências que seja lógica e de fácil aprendizado, assim como aprendi do meu Guru. É um livro para aprender sobre o sistema. Qualquer estudante sério de yoga que se dedica por anos a estudar e ensinar Yoga deveria ter em seu repertório o maior número possível de Asanas, Vinyasas e sequências lógicas (Krama). Então, deve-se primeiro estudar toda a amplitude dos Asanas e Vinyasas do sistema Vinyasa Krama com um professor, como por exemplo em um programa de 60 horas.

A partir daí, deve-se atentar aos Vinyasas que são um pouco mais difíceis de fazer. Deve-se praticar diariamente, de meia a uma hora, o máximo possível de Vinyasas seguindo as sequências recomendadas, com ênfase especial nos mais desafiadores. Após um período de seis meses a um ano de prática consistente, é provável que o praticante se sinta confortável com o sistema, com as sequências e, especialmente, com a respiração sincrônica que é demandada. Isso completaria o processo de aprendizado. Aí, pode-se preparar uma “lista verde” de Asanas e Vinyasas que se consegue e se quer praticar diariamente. Haverá também uma outra lista, a “lista alaranjada”, com os Vinyasas que são desafiadores no momento, mas que se quer praticar mesmo que estes ainda estejam um pouco imperfeitos. E haverá uma terceira lista, a “lista vermelha”, que conterá os procedimentos que não são apropriados e também ainda não são possíveis para o praticante — que provavelmente poderão ser encarados na próxima Janma (na próxima vida). Então chegou a hora de se concentrar em usar o Vinyasa Krama como prática diária e também em ensinar outras pessoas suas práticas individuais.

Adaptar o Yoga para necessidades individuais é uma arte por si só. Temos que entender que não há uma prática padrão que seja adequada a todas as pessoas. Na medicina, você tem que dar tratamentos diferentes a pacientes diferentes; o que é adequado a alguém sofrendo de problemas digestivos será diferente do que o que é adequado para alguém com dores lombares. De acordo com um lema importante de Krishnamacharya, Yoga para crianças e adolescentes (fase de crescimento) é diferente do Yoga para pessoas de meia idade, que por sua vez é diferente da prática para pessoas mais velhas. O corpo, a mente e os objetivos mudam durante as diferentes fases da vida. O ensinamento de Sri Krishnamacharya é baseado nesse princípio como podemos ver em seus trabalhos Yoga Makaranda e Yoga Rahasya.

Basicamente, Yoga para crianças e jovens adultos tem uma quantidade considerável de Asanas — muitos Vinyasas, posturas desafiadoras, etc. Vai ajudá-los a trabalhar uma quantidade considerável de Rajas em seu sistema e em seu crescimento adequado (Vriddhi). É claro que eles também devem praticar um pouco de Pranayama e meditação ou cantos de mantras.

Para um Yogi de meia idade, a prática ainda vai incluir um tanto de Asana, mas especificamente algumas das posturas que cultivam a saúde e restauram o corpo como as inversões, Paschimatanasana, Mahamudra, etc., nas quais pode-se sugerir uma permanência longa. Haverá mais ênfase em Pranayama e em meditação, canto de mantras, adoração, etc.

Quando eu comecei a estudar com meu Guru eu tinha 15 anos de idade. Nos primeiros anos de estudo, eu fazia majoritariamente Asanas e Vinyasas difíceis. Balanços, saltos, Utplutihs (elevações), e outras sequências cheias de diversão eram as séries dos dias. Conforme eu cresci, meu professor vagarosamente e com assertividade mudou a composição, o foco e a direção da minha prática. No último dia que eu estive com ele (eu já tinha quase 50 anos), fizemos somente o canto dos mantras do Surya Namaskara (Aruna) durante toda a prática. Na terceira idade, a ênfase é geralmente espiritual e/ou devocional mesmo que se continue fazendo alguns movimentos simples e Pranayama.

E em cada fase, a prática diária pode variar dependendo das demandas e objetivos definidos pela própria Yogini ou Yogi. Por exemplo, para um Yogi de meia idade, o principal objetivo será manter boa saúde mental e física, em vez de ser capaz de se sustentar em uma perna ou em uma mão (é claro que a criança dentro de mim quer fazer isso). Ele ou ela deve evitar movimentos arriscados para que a prática seja segura e não cause lesões — imediatas ou cumulativas. Esforço demais (Kayaklesa), como muitas repetições de Suryanamaskara de maneira contínua e sem pausas para descanso devem ser evitadas, segundo Brahmananda em seus comentários sobre o Hatha Yoga Pradipika. Algumas pessoas podem se sentir mais inclinadas e colocar mais espiritualidade em suas práticas. Muitos podem querer desenvolver a habilidade e o hábito de visitar a zona de paz da mente diariamente.

Algumas pessoas são mais Rajásicas ou mais Tamásicas, o que exigirá que a mescla de Asanas e Pranayama seja ajustada de maneira apropriada, cuidando até mesmo das variações diárias dos Gunas. É necessária muita atenção e cuidado para decidir a prática específica do dia. Portanto, sugerir uma prática com uma série de Asanas ou uma rotina para todas as pessoas, independentemente de idade, condição, temperamento e objetivo é incorreto. Tal abordagem desconsidera não só a versatilidade e riqueza da prática tradicional e ortodoxa de Vinyasa Krama Yoga, como também não considera os diversos e variáveis fatores das necessidades individuais.

Pela atenção dada às necessidades individuais das pessoas, o Yoga de Sri Krishnamacharya pode ser adequadamente chamado de “Yoga Apropriado”.

Entretanto, como uma regra geral, para um Yogi de meia idade, uma prática diária com duração de 90 minutos a 2 horas será necessária e suficiente. Segue uma sugestão passível de mudanças: depois de uma curta oração, pode-se praticar brevemente Tadasana, fazendo os principais Vinyasas duas ou, preferivelmente, três vezes. Deve durar cerca de 10 minutos. Aí uma subsequência das posturas sentadas assimétricas podem ser feitas, pode ser Marichyasana ou Triyangmukha ou Ardha Baddha Padma Paschimatanasana. As escolhas podem variar diariamente. Uma permanência de 5 minutos em Paschimatanasana e as posturas complementares devem ser praticadas. Então uma preparação para o Sarvangasana pode ser feita, seguida de uma permanência na invertida sobre a cabeça (Sirsasana) por 5 a 10 minutos, e também em Sarvangasana por 5 a 10 minutos, se as invertidas forem adequadas à pessoa. Paschimatanasana, Sarvangasana e a invertida sobre a cabeça devem ser praticadas preferivelmente todos os dias por seus benefícios à saúde. Se o tempo permitir, pode-se fazer alguns Vinyasas nessas posturas. Pode-se fazer uma subsequência do triângulo, como a postura do guerreiro e/ou uma sequência de posturas em uma perna só. Mahamudra por 5 minutos em cada lado pode ser praticado. Por que essas posturas são importantes? Em um artigo anterior eu tentei explicar os benefícios das posturas invertidas irmãs. Na verdade as inversões, Sirsasana e Sarvangasana são Mudras, são Viparitakarani Mudras. Me lembro do meu Guru nos pedindo para fazer a sequência do Paschimatanasana com frequência — diz-se que é uma postura importante para Kundalini Prabhoda, especialmente com os Bandhas são engajados e o assoalho e a musculatura pélvica são trazidos na direção das costas. Você pode observar também que o Paschimatanasana ajuda a alongar todos os músculos e tecidos da parte posterior do corpo (como o nome do Asana indica) onde há músculos pesados — coxas, panturrilhas, glúteo, etc. Mahamudra, como o nome indica, é considerado o melhor/maior dos Mudras. Acredita-se que essa postura ajuda a direcionar o Prana para o Sushumna já que supostamente ela bloqueia os Nadis, Ida e Pingala, separadamente. Auxiliada pelo Jalandhara Bandha, ela também ajuda a manter a coluna ereta. Depois, sentar em Vajrasana ou em Padmasana, deve-se praticar o Kapalabhati, por 108 repetições, e então um Pranayama apropriado, talvez Ujjayi, Nadishodhana ou Viloma com ou sem mantras por cerca de 15 minutos, seguido de 5 minutos de Shanmukhimudra e então entoar mantras ou meditar por cerca de 15 minutos. Qualquer ênfase sobre a eficácia da prática de Pranayama em todo o sistema e na mente não é suficiente. Por favor, leia um artigo anterior meu chamado “Yoga para o Coração”… ele fala dos benefícios do Pranayama para o coração e para o sistema circulatório.

Se for do interesse, a pessoa pode separar 30 minutos adicionais (ou praticar em outro momento do dia) para praticar subrotinas de outras sequências que não foram incluídas na prática principal do dia. Mesmo o livro tendo 10 grandes sequências, o leitor poderá discernir mais de 100 sequências de Asanas, cada uma com uma estrutura única. Na verdade, cada capítulo é uma sequência macro (onda) de muitas sequências específicas (ondulação), que por sua vez é composta de alguns Vinyasas (gotas de água). Então, o livro todo é uma grande sequência (maré) das principais sequências no oceano do Yoga. Se você olhar para o Tadasana, há primeiro os Hasta Vinyasas, então os Parsva Bhangis, Uttanasanas diferentes, Utkatasana, Pasasana e finalmente o Tadasana. Cada subrotina tem, por si só, de 3 a 20 Vinyasas. Então há uma versatilidade considerável no sistema. É melhor se ater à integridade das subrotinas (como Ushtrasana, Virabhadrasana ou Vrikshasana), como descrito no livro. Portanto temos um componente variável e um componente fixo na prática diária.

Todos os dias, antes da prática, o Yogi deve tomar um minutinho para decidir sua agenda e tentar se ater a ela tanto quanto possível. Quais Asanas e Vinyasas, qual Pranayama, quantas repetições e outros detalhes devem ser determinados de antemão e deve-se aderir ao que se decidiu. Isso traz disciplina e coerência à prática. Costuma-se terminar a prática com um canto de paz.

Adaptar o Vinyasa Krama a necessidades individuais pode ser chamado de Viniyoga Krama. Por exemplo, quando meu Guru recebia alguém de meia idade ou alguém de 9 anos de idade com uma condição específica, tipo escoliose, ele desenhava um programa específico para a necessidade individual. Quase todas as pessoas que vinham a ele recebiam uma rotina que não era a mesma dada a outra pessoa. Eu já escrevi sobre a aula em família que tínhamos com meu Guru quando eu comecei a aprender com ele. Durante o mesmo tempo ele ensinava Vinyasas, posturas e procedimentos diferentes para cada um de nós — meu pai, que era mais velho, minha mãe que tinha algum peso acumulado, minha irmã mais nova que era flexível e talentosa, meu irmão que tinha mais dificuldade e eu. Um motivo pelo qual hoje em dia as pessoas buscam uma rotina definida é porque algumas das práticas de Vinyasa mais famosas tem um número limitado de sequências definidas que são ensinadas repetidamente para quase todos os praticantes. Então há uma mentalidade de que deveria haver uma sequência rígida que seja aplicável a todas as pessoas, mas essa não foi a maneira como aprendi com meu Guru. Primeiro, o professor deveria aprender o sistema completo e então aplicá-lo a indivíduos de acordo com suas necessidades — elegendo sequências de Vinyasas, Pranayama e práticas de meditação, restrições de dieta, etc. A questão que deve ser respondida o que o praticante quer e precisa e como a rotina de prática de Yoga pode ser desenhada para se chegar ao benefício necessário.

Vinyasa Krama é como um supermercado do Yoga e cada um deve colocar no carrinho o que precisa. E o termo Vinyasa Krama inclui não somente Asanas, mas também outros aspectos do Yoga como Pranayama, meditação, etc. É uma progressão de diferentes aspectos do Yoga. O Vinyasa Krama tem uma coleção gigante de Asana e Vinyasas, uma seção robusta de Pranayama, o departamento de meditação e a seção de estudo e contemplação espiritual também. Portanto, é necessária bastante iniciativa por parte de cada consumidor, como um praticante que deve tomar a responsabilidade de desenhar junto ao professor uma prática inteligente e eficaz para si. Reduzir o Vinyasa Krama a uma rotina padrão como se faz com várias práticas contemporâneas de Vinyasa e colocar isso numa sacola de tamanho único não é algo desejável. Discorri sobre essas ideias para muitos participantes de programas longos e pensei em falar um pouco sobre isso aos leitores mais distantes que podem estar se perguntando como forçar o elefante (ou camelo) do Vinyasa Krama através do buraquinho da agulha que é a prática diária.

Alguns amigos, após completar o programa, fazem algumas lições particulares para customizar o sistema Vinyasa Krama para suas necessidades particulares. Discutimos sobre condições físicas e estados mentais, idade, obesidade, batimento cardíaco, pressão sanguínea, taxa de respiração e pausas, disposição em geral, disponibilidade de tempo, níveis de estresse, etc., e desenhamos uma rotina para seu benefício. Por haver uma série gigante de Vinyasas, Pranayamas, Mantras, etc., dessa maneira temos uma chance melhor de desenhar um programa individual. Se há um problema com o Vinyasa Krama, é o problema de muitas opções sobre as quais escolher.

Há alguns praticantes experientes que têm uma rotina diária curta, mas que fazem o Vinyasa Krama completo separadamente em outro momento por cerca de uma hora, passando por todas as séries ao longo de uma semana. Nos cantos Védicos, o Taittiriya Saka consiste em mais de 80 capítulos e levaria de 40 a 45 horas para cantá-lo inteiro. Aqueles que aprenderam todo o Taittiriya Saka durante a infância devem continuar cantando durante toda a vida. Eles fazem isso cantando de 1 hora a 1 hora e meia por dia para que eles o completem em uma Mandala ou cerca de 40 dias. De maneira semelhante, músicos Carnáticos aprendem muitas músicas, mas para sua prática eles praticam algumas músicas por dia e ao longo de algumas semanas eles cobrem todas as canções que aprenderam. Da mesma maneira, a prática de Yoga pode ser diversa e rica. A variedade torna possível que o interesse pessoal na prática Yoga em casa se mantenha. A prática não vira uma obrigação.

Uma lista de mais de 120 rotinas de Asana e Vinyasa está contida no “The Complete Book of Vinyasa Yoga”. Baseado na discussão aqui presente sobre os critérios para definição de uma prática diária você pode decidir sobre sua rotina escolhendo sequências específicas de Asanas e ter um programa único feito para e por você diariamente.

Por favor, se atenha às sequências inteiras de Asanas. Se você ensina, você pode modificá-las para pessoas que estão doentes ou têm limitações físicas. Pranayama, inversões, Paschimatanasana, Mahamudra e meditação podem ser incluídas com certeza. Você tem uma infinidade de possibilidades. Não há uma prática universal rígida no Vinyasa Krama, como já expliquei. Eu peço aos amigos que gentilmente considerem a possibilidade de se gravar em vídeo fazendo uma ou duas sequências de Asanas de que gostem e subirem no YouTube. É bom ter o áudio da respiração e uma instrução/introdução. Você pode colocar a legenda “Vinyasa Krama Yoga — — Sequência de Asana ******** e seu nome”. Coloque o link no seu site e me envie para que eu possa colocá-lo em minha próxima newsletter.

Reflexão final: Por que Deus desenhou o corpo humano da maneira que o fez? Para que se possa praticar e desfrutar das centenas de movimentos e posturas lindas contidas no sistema Vinyasa Krama Yoga.

Atenciosamente,
Srivatsa Ramaswami.

VIII. CHITTA VRITTI

A palavra Vritti, do sânscrito, é usada comumente em muitas línguas indianas para indicar a principal atividade ou um passatempo de uma pessoa. Um fazendeiro trabalha com Krishi Vritti ou agricultura. Um Sanyasin é conhecido por viver um Uncha Vritti ou um modo de vida elevado, o que significa basicamente pedir por comidas singelas com uma cumbuca. Portanto, Vritti é usado para indicar o Jivana ou meio de subsistência de alguém — Vritti-Jivane, como o livro de gramática diria. Um mantra do Surya Namaskara é o “apa ca avrittim”, que é uma oração para se estar bem empregado — “a” + “vritti” significa desemprego. Alguns outros prefixos também modificam o significado da palavra: “pra” + “vritti” ou Pravritti indica atividades para conseguir o que se quer enquanto “ni” + “vritti” ou Nivritti significa atividades (e o resultado) associados a se livrar de algo que não se quer. Chitta Vritti significa a atividade de Chitta. Chitta, por sua vez, tem um significado interessante.

Chitta, que geralmente é traduzida como coisas da mente ou do cérebro, é aquilo que apesar de ser matéria inerte parece ter consciência. “Cit iva bhavayati”, como meu computador, que nem sequer tem vida para parecer ser super inteligente (sei que já usei essa comparação antes).

Então o que Chitta faz, quais são suas Vrittis ou atividades? Basicamente, Chitta, através de suas Vrittis, nos proporciona experiências de tipos variados. Ela projeta diferentes imagens dentro de seus limites — em seu espaço interno, mental, mesmo que as projeções pareçam estar no espaço externo, real. Por conveniência, muitos estudos dividem funcionalmente Chitta em Manas (mente), Buddhi (intelecto), Ahamkara (ego) e Smriti (memória). Eu recebo informação do mundo externo através dos meus sentidos, olhos, orelhas, etc., em decorrência das Vrittis dos Indriyas. Então a Manas ou mente, que também é conhecida como a 11ª Indriya, reproduz, coordena e apresenta a informação para outra faculdade de Chitta chamada Buddhi. Buddhi analisa toda informação, faz julgamentos e então o ego ou aspecto Ahamkara de Chitta entra em ação. Se ele gosta do que vê, fica feliz, mas se não gosta, demonstra insatisfação e produz uma série de reações. Quando Buddhi ou intelecto está ativo, então a Chitta Vritti também é conhecida como Buddhi Vritti, mas quando ela está dominada por Ahamkara, a atividade é conhecida como Ahamkara Vritti. Quando alguém diz que sou uma boa pessoa, me sinto feliz, minha Ahamkara Vritti me engrandece e eu fico da altura do telhado. Se, então, alguém diz que sou um professor de Yoga horrível, me sinto mal, muito mal, um lixo, por causa de Ahamkara Vritti. Portanto, momento a momento, eu tenho um Chitta Vritti que inclui imagens não só dos objetos externos, mas também de mim como sujeito de toda a experiência. Aquele que experimenta e observa toda essa sucessão de Chitta Vrittis é o “Eu” real, o Purusha, o Drashta ou observador, ou a imutável e portanto eterna consciência pura.

Patanjali diz que Chitta é capaz de transcender todas as Vrittis e se manter alheia a todas elas. Para compreender esse estado ele lista todas as Chitta Vrittis em 5 categorias, com o principal propósito de conhecer ou inferir o estado que está além do estado de Chitta Vritti, diferenciado o que se conhece do desconhecido. Quais são essas Chitta Vrittis conhecidas? A primeira se chama Pramana Vritti ou atividades que produzem conhecimento correto de vários objetos. Através dos sentidos, eu recebo informação sobre o mundo exterior graças aos Tanmatras recebidos dos objetos e o conhecimento produzido é Pramana Vritti. Se o conhecimento produzido for incorreto, então essa Vritti é classificada como Viparyaya Vritti.

Cada um pode interpretar correta ou incorretamente a informação que chega para a Chitta. Produz-se uma Vritti por experiência. Chitta às vezes não precisa de nenhuma informação externa para produzir uma experiência de Vritti que, nesse caso, é chamada de Vikalpa Vritti, cujo típico exemplo é a atividade de sonho. Temos também o sono profundo, que é considerado uma outra atividade de Chitta em que as Vrittis acontecem em decorrência da dominância de Tamas e, portanto, é chamada de Tamo Vritti. Por fim, temos muita informação armazenada em nossa Chitta e quando nos lembramos de algo de maneira vívida na mente, a atividade se chama Smriti Vritti. Há algum momento em nossas vidas em que a mente está sem nenhuma Vritti? Não. De acordo com a classificação completa das Chitta Vrittis, não há nenhum momento em que Chitta para suas atividades, suas projeções no espaço mental, suas Vrittis.

Enquanto a Chitta ordinariamente está imersa nessas Vrittis, Patanjali fala de um estado em que ela transcende todas as Vrittis mencionadas acima e se mantém nesse estado de transcendência. Esse é o estado de Yoga. Acontece quando Chitta usa todas suas capacidades e treinamento Yôgico para se concentrar e reconhece com certeza a natureza real do eu observador, da alma, da imutável e portanto eterna consciência. Com esse conhecimento, com essa experiência direta, Chitta se mantém em um estado de resolução ao reconhecer a natureza do Eu em sua forma verdadeira (Svarupa). Quando há a realização na Chitta de que nada, nenhuma das Vrittis, muda a natureza essencial de Purusha, ela se torna quieta — completamente quieta. Nesse estado, Chitta não tem nenhuma das Vrittis mencionadas acima. Mas quando não se está no estado de Yoga, ela não conhece a natureza real da alma. Em vez de tentar localizar e realizar a natureza verdadeira do Eu (como um praticante de Raja Yoga tenta fazer), ela cria e projeta a sombra do eu usando suas próprias Vrittis, uma Viparyaya Vritti. Chitta é capaz de criar essa decepção. Veja, por exemplo, o que a Chitta preguiçosa faz durante o estado de sonho: saindo do sono profundo, mas ainda não estando pronta para acordar completamente, Chitta cria seu próprio espaço, objetos e um eu no sonho, que vai tudo ser descartado quando acordar.

Patanjali usa dois termos sobre a natureza do Eu e a natureza do pseudo-eu. Ele usa o termo Svarupa ou forma própria para indicar a natureza do Eu verdadeiro. Ele usa o termo Sarupa ou algo semelhante para a forma do eu que é uma imagem, criada por Chitta. É como a diferença entre a pessoa e a modelo de cera. Não importa o quanto a modelo de cera se pareça com a pessoa real, ainda é uma cópia e não o Eu oficial. De fato, Patanjali usa o termo Sarupa, que significa “parecido com” em vez de Tadrupa, que significa “identico a” ou réplica exata. A ênfase não é tanto em quanto se parecem (como a imagem ou reflexo em um espelho, que seria Tadrupa), mas no fato de que a modelo de cera não é a coisa real. A implicação é que o eu criado, o ego ou Ahamkara, é uma criação da própria Chitta; é, na verdade, uma Chitta Vritti (Vritti Saarupya).

O estado final de Yoga é aquele em que a Chitta transcende todas suas Vrittis. Nesse estado semelhante a um transe, o Yogi não tem mais atenção em seus arredores, não está dormindo, nem sonhando e nem pensando no passado.

O cérebro ou as coisas da mente tem também um outro grupo de Vrittis. Os Shamkhyas a chamam de Samanya ou Samanya Karanaa Vrittis. Esse grupo de Vrittis ajuda a manter a vida, mesmo de um Yogi. São Vrittis de Prana que, por sua vez, é um aspecto de Chitta. Essas Vrittis ordinárias, não-descrits, mantém a vida no corpo. Elas são conhecidas como Prana, Apana, Vyana, Udana e Samana Vrittis e correspondem às atividades autônomas do cérebro que sustentam a vida. Elas funcionam até que o Yogi decida dizer tchau.

O que eu estou fazendo?
Eu estou dando uma aula.
O que eu estou experimentando?
Eu estou experimentando que dou uma aula.
Na última frase, há dois “Eus”.
Qual “Eu” sou eu?

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