Crítica — A Favorita

Luara Rodrigues
Acabou em Pizza
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3 min readJan 20, 2019
Reprodução: AZ Movies

Sendo um dos filmes mais comentados e premiados até agora, A Favorita (The Favourite) mostra-se forte competidora dos grandes prêmios em diversos quesitos: do cenário à trilha sonora e do figurino às atuações, o longa supera as expectativas e o diretor, Yorgos Lanthimos, entrega ao público uma obra completa.

O filme retrata a realeza do século XVII de forma original, em uma narrativa irônica e, por vezes, absurda. Nele, Sarah Churchill (Rachel Weisz) e Abigail Masham (Emma Stone) disputam o afeto da rainha Anne (Olivia Colman) como suas damas de companhia. Colman, que se entrega de corpo e alma ao papel, interpreta uma personagem infantil e insegura, que se deixa manipular por Lady Sarah, que praticamente comanda o reino em seu lugar. No entanto, o relacionamento das duas, de amizade misturada a subordinação, é afetado pela chegada da aparentemente simpática e ingênua Abigail, prima de Sarah que precisa de um cargo na casa da rainha depois da desgraça financeira de sua família.

Reprodução: Kino

As atuações das três, que dividem o protagonismo, são exemplares. Todas sabem fazer jus ao desenvolvimento e aprofundamento das personagens proporcionado pelo roteiro, que cria personalidades fortes, loucas e que se entrelaçam de maneira harmônica. Tudo se encaixa, as ações das mulheres são consistentes com quem elas são ou com quem nós descobrimos que são, ao longo do filme, e a narrativa se desenrola exatamente como deveria, apesar de nos surpreender a todo instante. Weiz brilha na sua frieza, sabendo entregar uma atuação mais contida que as de suas colegas, porém igualmente intensa; e Emma Stone mostra maturidade para saber conciliar sátira e genuinidade, sem nunca ferir a integridade da própria personagem. Inclusive, o filme como um todo faz exatamente isso: com cenas e diálogos vulgares, combinados com as ações absurdas das personagens, o longa consegue transformar o que muito facilmente poderia se tornar um besteirol, em uma produção de classe e bom gosto.

Por se passar na corte britânica do século XVIII, já se esperam belos cenários e figurinos, mas não é qualquer um que consegue potencializar a beleza do período como o diretor de fotografia Robbie Ryan, que arrisca no uso de lentes grande angular — a famosa “olho de peixe” — e trabalha talentosamente a iluminação natural. Para complementar, a trilha sonora, por vezes desconfortável, está mais que de acordo com o filme, fomentando a dramaticidade de cada cena.

Escrito por Tony McNamara e Deborah Davis, A Favorita mescla humor e leveza a um drama de relações interpessoais complexas — costurado elegantemente ao contexto histórico da época — e agrada tanto o público, quanto os críticos.

Trailer do Filme

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Luara Rodrigues
Acabou em Pizza

- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.