Crítica — Animais Fantásticos: Os crimes de Grindelwald

Confuso, novo filme do mundo mágico de J.K. Rowling apresenta um deslumbre visual, mas é fraco na história

Daniel Giussani
Acabou em Pizza
4 min readNov 11, 2018

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Foto: Jaap Buitendijk / Divulgação

Quando o primeiro Animais Fantásticos foi lançado, em 2016, tinha poucas expectativas e temia que a história só serviria para conseguir arrancar dinheiro dos fãs do mundo bruxo tão bem criado por J.K. Rowling com Harry Potter. Me enganei. A história era consistente, os efeitos especiais eram muito bem construídos e saí do cinema satisfeito com o que vi. Agora, no segundo filme da nova saga, porém, a sensação não foi a mesma.

Dirigido por David Yates — diretor dos últimos filmes da franquia Harry Potter e também do primeiro filme desta nova saga — , Animais Fantásticos: Os crimes de Grindelwald começa com a fuga do personagem título, interpretado por Johnny Depp, durante o seu deslocamento de Nova York para Londres. Grindelwald foge para começar a dar início ao seu confuso plano de exterminar os trouxas — nomenclatura dada para os não-bruxos — , e fazer com que os sangue-puros dominem ambos os mundos: os dos mágicos e dos pobres humanos mortais.

Foto: Warner Bros / Divulgação

Para seu plano funcionar, ele precisa que, do seu lado, esteja Credence (Ezra Miller, de As Vantagens de Ser Invisível), um Obscurus, uma criatura que libera todo seu poder mágico quando atinge o ápice de seu estresse físico e mental. O garoto está na França em busca da verdade sobre sua história e é lá, em Paris, que todos os personagens se encontram. Isso porque o filme se trata, justamente, da busca dos personagens por Credence. Recrutado por um jovem Dumbledore (Jude Law), Newt Scamander (Eddie Redmayne) se junta ao trio conhecido no primeiro filme para achar Credence e tentar derrotar Grindelwald.

Se a história já é, naturalmente, confusa e cheia de subtramas, J.K. Rowling (que assina o roteiro do filme) nos dá, ainda, uma penca de novas personagens. Entre as mais interessantes estão Nagini (Claudia Kim), uma jovem que tem a maldição de se transformar em cobra até o ponto em que, um dia, não conseguirá voltar a ser humana, e Leta Lestrange (Zoë Kravitz), uma personagem que foi levemente tratada no primeiro filme e que tem sua história aprofundada no segundo.

Foto: Jaap Buitendijk / Divulgação

Em pouco mais de duas horas e dez minutos de trama, J.K. Rowling nos enche de subtramas e de novos personagens, o que torna a experiência confusa e o que prova que Rowling tem uma excelente capacidade de costurar tramas: algo muito bom para literatura, mas que não funciona direito em um filme.

Se o roteiro peca por enrolar demais e dar tramas confusas, acerta presentear os fãs com várias referências e momentos nostálgicos ao mundo Potter. O retorno à Hogwarts, a breve aparição da professora McGonagall e os pesados dramas do passado de Dumbledore são elementos que marcam durante o filme, tais quais o Espelho de Osejed e a aula em que os alunos devem encarar o bicho-papão usando o feitiço Ridiculous. Além disso, somos presenteados com uma curta participação de Nicolau Flamel (Brontis Jodorowsky), o alquimista imortal criador da Pedra Filosofal.

Foto: Warner Bros / Divulgação

Outro ponto positivo é o fantástico uso dos efeitos especiais. As novas criaturas que aparecem no filme são realmente bonitas, os feitiços e magias são muito bem mostrados e você volta se sentir no mundo mágico de uma maneira natural. Mérito de David Yates, que dirige o filme de maneira interessante e com um tom sombrio semelhante aos outros Harry Potter que dirigiu.

Quanto à atuação, Eddie Redmayne e seus colegas do primeiro filme seguem fazendo um bom trabalho. Com a cara de confuso que o marca no primeiro filme, Redmayne segue aparentando estar completamente perdido e inocente. Katherine Waterston, interpretando o par de Newt, Tina, também apresenta uma boa performance, apesar da personagem ter bem menos destaque do que no primeiro filme. Ezra Miller, assim como Redmayne, segue com a cara de confuso e sem entender o que está acontecendo, mostrando com dignidade as inquietudes do personagem. Johnny Depp, todavia, apresenta mais do mesmo: um cara com olhar perdido e excêntrico.

Foto: Jaap Buitendijk / Divulgação

É de Johnny Depp, porém, que temos um dos melhores momentos do filme. Com um monólogo histórico-social bastante interessante, conseguimos entender um pouco as pretensões de Grindelwald, algo que estava obscuro durante o primeiro filme.

No final das contas, Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald apresenta um resultado interessante, justamente por sua dicotomia. Tem um roteiro confuso, mas mesmo assim interessante. Insiste em plot twists que parecem forçados, mas que mesmo assim, chama atenção e excita o público. E entrega, como esperado, um vislumbre visual que anima qualquer um que esteja sentado assistindo ao filme, e por isso, acerta ao nos colocar, mais um vez, dentro de um mundo tão mágico e tão complexo.

TRAILER DO FILME

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