Crítica — Aquaman

Sobra beleza e cor, mas falta roteiro

Caroline Oliveira
Acabou em Pizza
5 min readDec 13, 2018

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O novo longa da DC, Aquaman, é uma tentativa de ressignificar o herói dos quadrinhos e trazê-lo de volta aos seus dias de glória. O personagem, criado por Paul Norris e Mort Weisinger em 1941 e incorporado na Liga da Justiça em 1960, é o rei de Atlântida e, além de notável força e habilidade de controlar os animais marinhos, ele tem a capacidade sobreviver tanto nas profundezas do mar, quanto na superfície. Com o passar do tempo, adaptações mais voltadas para a comédia, como em Superamigos, fizeram com que o Aquaman perdesse o prestígio entre o esquadrão de heróis.

Reprodução

O filme, dirigido por James Wan (A Freira), aposta em um visual colorido (de encantar os olhos do espectador), recheado de criaturas marinhas mágicas e efeitos especiais incríveis (ou, pelo menos, a maioria deles). A história começa com o encontro do faroleiro Tom Curry (Temuera Morrison) e a rainha Atlanna (Nicole Kidman), que está fugindo de um casamento arranjado com o rei Orvax. Como manda a regra, os dois se apaixonam e o fruto desse amor é Arthur. O menino nasce com uma poderosa missão, segundo acredita sua mãe, de unir os povos subaquáticos e os da superfície.

O rei Orvax, contudo, não aceita a deserção de Atlanna e envia um grupo para levá-la de volta ao mar. Para não colocar sua família humana em risco, ela parte de volta para Atlântida, mas não sem antes mostrar ao público do que é capaz. Em poucos minutos, ela derrota os guerreiros de Orvax sozinha, demonstrando ser uma poderosa combatente.

Muitos anos se passam e somos apresentados a um Arthur (Jason Momoa) musculoso e tatuado, que já tem conhecimento e certo domínio dos seus poderes. Já reconhecido como Aquaman pelo povo da superfície, ele combate piratas modernos em alto-mar.

Enquanto isso, em Atlântida, o seu meio-irmão e rei planeja atacar a superfície para combater a constante poluição nos oceanos e o perigo que os humanos podem representar ao povo subaquático. Para isso, Orm (Patrick Wilson) precisa do apoio das outras nações dos mares, não importa a que custo. Caso consiga, ele se tornará o Mestre dos Oceanos, cujo poder é praticamente ilimitado e se estende por todas as águas.

O vizir Volko (Willem Dafoe) e a Princesa Mera (Amber Heard) organizam secretamente um plano para combater Orm. Nele, Arthur é a peça central, pois, como primogênito de Atlanna, o trono de Atlântida é seu por direito. Contudo, dificilmente o povo atlante irá confiar em um “mestiço” para chefiar sua poderosa nação. Por isso, Arthur e Mera partem em uma jornada para recuperar o tridente de Atlan (fundador de Atlântida). Nesse ponto, o filme ganha uma forte similaridade com as aventuras de Indiana Jones. Em posse de um artefato, os dois partem para o Deserto do Saara em busca de um local que possa desvendar a mensagem contida no objeto. A partir daí, eles rumam para o esconderijo do tridente e parece que mudamos para Fúria de Titãs e seus monstrengos.

© 2018 WARNER BROS. ENTERTAINMENT INC.

Aquaman aposta em contínuas cenas de ação, o que funciona e ajuda o espectador a engolir tantas histórias. Como um bom filme de super-herói deve ser, as batalhas entre vilão e mocinho são de tirar o fôlego e, nesse caso, mostram todas as habilidades sobre-humanas dos personagens. Contudo, o longa, ao precisar contextualizar tantas histórias ao público (o surgimento de Atlântida, os Sete Reinos, as criaturas mágicas, as leis do mundo subaquático e a própria trajetória de Arthur são apenas alguns exemplos), acaba deixando o roteiro e as relações entre os personagens com ares de superficialidade.

O casal Arthur e Mera não precisava acontecer, honestamente. Os dois criam uma proximidade baseada em pequenos toques e olhares e praticamente vazia de diálogos. Eles, assim como Atlanna e Tom, servem para cumprir a cota de casais que os filmes “devem” ter.

Arthur, em parte pelo roteiro, em parte pela atuação de Momoa, cai no estereótipo de muitos músculos e pouco cérebro, abusa de piadas toscas e da tentativa de parecer incrivelmente sexy ao sair da água molhado. O destaque para atuações fica aos vilões: Orm e Arraia Negra (Yahya Abdul-Mateen II). Ambos convencem nos papeis e levam o espectador a criar empatia com as suas histórias. Inclusive, ambos não são vilões tradicionais. Orm, apesar de ser consumido pela ambição de se tornar o Mestre dos Oceanos, busca proteger sua nação (ainda que pelo caminho errado, usando de violência e ameaças, forma ensinada pelo seu pai como única via). Arraia Negra poderia continuar sendo mais um pirata em busca de sobrevivência em uma sociedade desigual. Porém, ao cruzar com Aquaman e sua impiedade com os criminosos, sua sede de vingança é acendida. Se formos muito sinceros com nós mesmos, provavelmente, todos desejaríamos nos vingar.

© 2018 WARNER BROS. ENTERTAINMENT INC.

Aquaman merece os créditos por conferir respeito à história do poderoso reino de Atlântida, contudo, peca ao apresentar um roteiro fraco e personagens que carecem de bagagem emocional. A carga de emoções mais contundentes vem dos encontros entre Arthur e Orm, mas que se perde pela rapidez com que é apresentada. A batalha pela qual Orm luta poderia ser melhor trabalhada se apresentasse os efeitos nocivos que os seres humanos vêm provocando aos mares. Aumentando, inclusive, o papel social do próprio filme. Preciso reconhecer que, apesar do longa ser protagonizado por um homem, Mera e Atlanna foram reconhecidas nas suas habilidades guerreiras e demonstraram mais coragem que quaisquer outros personagens (enfim, não fez mais que sua obrigação).

TRAILER DO FILME

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