Crítica — Bohemian Rhapsody

Rami Malek encarna Freddie Mercury por inteiro em seu primeiro grande papel no cinema.

Lucas Boaventura
Acabou em Pizza
4 min readNov 1, 2018

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Estreia dessa semana nos cinemas brasileiros, Bohemian Rhapsody remonta as décadas de 70 e 80 para contar a trajetória da banda inglesa Queen, desde sua formação até o concerto Live Aid, em seus últimos anos. Dirigido por Bryan Singer, conhecido por dirigir franquias blockbusters, como X-Men, o filme conta com Rami Malek no papel de Freddie Mercury em uma performance digna de indicações na temporada de prêmios do próximo ano.

Bohemian Rhapsody nos transporta para 1969, quando Mercury ainda atendia pelo seu nome de batismo, Farrokh Bulsara, e Brian May e Roger Taylor tocavam em uma pequena banda, a Smile, nos pubs de Londres. Freddie, que acompanhava os shows dessa banda, teve a chance de se tornar vocalista quando Tim Staffell deixou Smile para tocar em outro grupo. Assim nascia o vindouro Queen. Freddie Mercury, além de cantor, era pianista, mas a banda ainda precisava de um baixista, e, após se apresentar com diferentes profissionais, foi só após encontrar John Deacon que Queen fechou sua formação.

Copyright 2017 Twentieth Century Fox

Completam o elenco, Lucy Boynton interpretando a ex-esposa de Freddie, Mary Austin, e Gwilym Lee, Ben Hardy e Joseph Mazzello, nos papeis de Brian May, Roger Taylor e John Deacon, respectivamente. É nesse elenco que se encontra um dos pontos fortes do longa. Ainda que o roteiro seja pouco inovador e não dê tanto espaço para os demais quanto para Rami Malek, os intérpretes dos membros da banda estão bastante confortáveis em seus papeis, incorporando os trejeitos e a rebeldia jovem dessas personas de modo convincente. Lucy Boynton sustenta a dramaticidade do contexto em que sua personagem está inserida, mudando de tom no decorrer dos atos de maneira bastante crível. Menina dos olhos de Bohemian Rhapsody, Malek brilha sem seu primeiro grande papel nos cinemas. Sua interpretação está em nível bastante elevado, conseguindo carregar com graça toda a linguagem corporal de Freddie Mercury — seja em palco ou fora dele. No palco, o ator é Freddie Mercury puro: energético, performático e intenso. Quando comparamos as cenas do filme com a apresentação real do Queen no Live Aid vemos Malek realmente encarnar Mercury. É uma atuação potente.

Copyright 2017 Twentieth Century Fox

A trilha sonora é outro ponto forte do longa — não teria como ser diferente, tratando-se de uma cinebiografia musical. Embalando a passagem das décadas e as fases da banda, temos clássicos como Bohemian Rhapsody, We Will Rock You e Love Of My Life em gravações originais do Queen. É muito interessante acompanhar a composição dessas canções que consagraram a banda no hall da música mundial, sobretudo da música que dá título ao filme. Ver a criação de A Night at the Opera é essencial para entender o próprio Queen e sua força enquanto banda que se propõe a revolucionar a música — e a si mesmos.

Copyright 2017 Twentieth Century Fox

É comum cinebiografias pecarem ao mostrar a genialidade de quem retratam, muitas vezes esquecendo seus aspectos psicológicos. Em certa altura do longa, vemos de perto a solidão de Mercury e esse background emocional do artista, porém faltou do roteiro uma construção desses sentimentos no decorrer do longa, preparando terreno para o terceiro ato. Contudo, a experiência não é fortemente afetada por essas falhas de roteiro, de um modo geral. Bohemian Rhapsody cumpre o papel de ser um bom filme de entretenimento que busca apresentar figuras de enorme relevância para a cultura mundial. O ritmo é bom, a ambientação consegue nos transportar àquele espaço e a trilha sonora é extremamente vibrante — inclusive, é necessário salientar que assistir ao filme em IMAX contribuirá significativamente para impressões finais, visto que a qualidade de imagem e som são de altíssimo nível. Assistir ao filme retratando o Live Aid é quase como sentir a sensação de um show, mesmo que muito parcialmente — observar a dinâmica dos músicos com seus instrumentos e entre si, a performance do vocalista, a multidão preenchendo o Estádio de Wembley. O IMAX possibilita que a experiência seja ainda mais intensa.

Copyright 2017 Twentieth Century Fox

Antes de estrear mundialmente, o filme estava sendo fortemente cotado para a temporada de premiações e não seria surpreendente vermos Rami Malek entre os nomes nas categorias de atuação. Bohemian Rhapsody não tem força para ser uma cinebiografia referência ou um dos grandes filmes do ano, mas certamente proporciona um resgate competente da trajetória de uma das maiores bandas de rock da história, além de apresentar para um público que talvez não conheça Queen a força da natureza que é Freddie Mercury.

TRAILER DO FILME

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