Crítica — Buscando…

Mais do que um filme de suspense, um filme que fala sobre diálogo

Caroline Oliveira
Acabou em Pizza
4 min readSep 20, 2018

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Fonte: Divulgação

Buscando… é um thriller contado a partir das tecnologias que usamos no dia a dia, ou seja, ao invés da tradicional câmera que acompanha a movimentação dos personagens, o longa utiliza as câmeras dos dispositivos (computador, notebook e celular) para conduzir a narrativa. O que, para a minha surpresa como espectadora, funciona muito bem.

O longa é dirigido por Aneesh Chaganty, que também foi responsável pelo roteiro, juntamente com Sev Ohanian. Aneesh teve a difícil missão de criar um suspense utilizando poucos recursos de movimentação de câmera. A sinopse de Buscando… leva a pensar que será mais do mesmo no gênero: o sequestro de uma jovem e a busca incessante dela pelo seu pai. Quase um clássico. Um dos exemplos mais famosos baseados nessa história é Busca Implacável (2008), estrelado por Liam Neeson.

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Porém, Searching (no original, em inglês), não usa a violência como um elemento central. Talvez, um dos elementos centrais seja o distanciamento entre pai e filha, que contorna os acontecimentos do filme. O relacionamento entre Margot (Michelle La) e David Kim (John Cho) sofre um gradual afastamento depois da morte da mãe da jovem.

Ao notar o desaparecimento de Margot, David imediatamente aciona a polícia e cabe a detetive Rosemery Vick (Debra Messing) solucionar o caso. Porém, 37 horas após o sumiço da jovem, a polícia não tem pistas sobre o caso. Nesse momento, Kim decide buscar informações que possam auxiliar a polícia. Ele recorre ao notebook da Margot e, a partir dos rastros que a garota deixou na internet, David leva um choque ao perceber que não conhece verdadeiramente sua filha, muito menos, a rotina dela. Através das informações que ele encontra no notebook, Kim assume um papel crucial na investigação.

A atuação de John Cho emociona pouco nos primeiros momentos: parece distante da realidade e do que está acontecendo com a sua filha. Com os acontecimentos, ele vai deixando seus sentimentos — principalmente culpa e desespero — virem à tona. Michelle La, apesar de ter sua aparição ligada aos registros do seu notebook, cativa pela transparência de emoções. Quanto à atuação, merece destaque a atriz Debra Messing. Ela surge como uma policial preocupada e competente, executando bem esse papel protocolar, sem deixar de se emocionar pelo drama vivido pelo pai da jovem. Nas cenas mais fortes, um ponto marcante da atriz é o olhar, que convence o espectador das emoções sentidas pela personagem e, certamente, cria uma vínculo com o público.

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Dentro da investigação, o longa tem muitas reviravoltas, quando o espectador pensa que o caso está resolvido, um novo elemento surge e a história muda de rumo. O desfecho é surpreendente (não pergunte-me como). Todos os plot twits do filme são gerados a partir de pistas descobertas na internet.

A internet (junto com os dispositivos conectados nela), aliás, é um dos personagens do filme. As redes sociais são colocadas em crítica, assim como, o velho perigo da superexposição na internet. O longa utiliza como tema central o desaparecimento de uma jovem, mas, por trás disso, assuntos muito mais delicados surgem, conferindo originalidade e veracidade ao filme. A relação pai e filha é posta em foco várias vezes. Um pai que parece conhecer tão pouco a própria filha. A dificuldade dele criá-la sozinha. A fase da adolescência que agrava a solidão sentida por Margot. A falta da mãe, agravada pela falta de diálogo com o pai. Ao passar por esses conflitos, o filme aproxima o espectador, que, certamente, já passou ou passa por situações semelhantes e pode entender a dificuldade dessas nuances da vida.

Trailer do Filme

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