Crítica: Homem-Aranha No Aranhaverso

Ousado e emocionante, o longa de estreia de Miles Morales nas telonas é uma experiência única

Cainan Silva
Acabou em Pizza
4 min readDec 31, 2018

--

Junto de Batman, o Homem-Aranha é um dos heróis com o maior número de adaptações cinematográficas. A grande parte delas foi um sucesso, seja comercialmente ou pela aclamação da crítica, mas nenhuma foi tão unânime quanto está sendo Homem-Aranha no Aranhaverso. Inovador e irreverente, o filme não tem medo de arriscar demais ao introduzir o conceito de multiverso para quem não está familiarizado com o termo.

A história do Homem-Aranha que conhecemos teve início nos quadrinhos, no ano de 1962. O personagem, criado pelas lendas Stan Lee e Steve Ditko, tornou-se um ícone da cultura pop e entrou para sempre no imaginário de gerações de adeptos dos super-heróis. De lá pra cá, muitas foram as mudanças e evoluções no mundo de Peter Parker. Uma das mais emblemáticas é, com certeza, o surgimento de de diversas dimensões, o multiverso. Com ele, foi possível o surgimento de diferentes Homem-Aranha. Num desses universos, surge Miles Morales, o protagonista da melhor animação de 2018. Brian Michael Bendis e Sara Pichelli inspiraram-se em figuras importantes da cultura negra, como Barack Obama e Donald Glover, para a criação de Miles. O adolescente negro e de origem hispânica teve sua primeira aparição nos quadrinhos em 2011. O próprio Stan Lee elogiou o novo personagem. Ele exaltou, em diversas oportunidades, a importância da representatividade dele para crianças negras leitoras de quadrinhos.

O longa é co-dirigido por três experientes diretores: Peter Ramsey, Rodney Rothman e Rob Persichetti. Eles têm em seu currículo animações como Gato de Botas e A Origem dos Guardiões. O que chama a atenção do espectador, logo na introdução do filme, é a estética quadrinhesca que eles utilizam. Gera a sensação de estarmos assistindo à uma história em quadrinho que ganhou movimento e áudio. A explosão de cores acompanhada de uma fantástica trilha sonora é companhia fiel do filme do início ao fim.

Foto: Polygon

Miles (Shameik Moore) vive com seus pais: o policial Jefferson Davis (Brian Tyree Henry) e sua mãe Rio Morales (Lauren Vélez). Ele nasceu e cresceu no Brooklyn e mesmo sua família não tendo grande poder aquisitivo, ele conseguiu acesso à uma prestigiada escola particular, a Brooklyn Visions Academy. Miles sente dificuldade em se adaptar ao local, mas é incentivado por seus pais a continuar lá e almejar um futuro brilhante. Ele vê em seu tio, Aaron Davis (Mahershala Ali), uma inspiração para seguir seus sonhos. Os dois são muito próximos e costumam sair juntos em pequenas aventuras. Em uma dessas saídas, Miles é picado por uma aranha geneticamente modificada e ganha seus poderes.

Tentando entender e lidar com suas novas habilidades, Miles acaba encontrando Peter Parker. Ele está tentando impedir que o Rei do Crime abra um portal para outras dimensões, mas falha. Assim, diversos outros tipos de Homem-Aranha são trazidos para o universo de Miles. Após um pedido de Peter, ele se torna responsável por reverter as ações do vilão, antes que os danos tornem-se irreversíveis. Peter B. Parker (Jake Johnson) e Spider-Gwen (Hailee Steinfeld), os respectivos heróis de suas dimensões, são fundamentais no processo de ajudar Miles a realizar essa missão. A dinâmica dos dois com o protagonista é maravilhosa, assim como os diálogos entre eles. O roteiro da dupla Phil Lord e Chris Miller é inteligente, faz bom uso de referências a cultura pop e até mesmo a outros elementos do universo do Homem-Aranha, de forma similar ao que acontece nos filmes do Deadpool. O timing perfeito das piadas tornam os personagens e situações ainda mais engraçados.

Foto: Polygon

Além da comédia, o filme sabe trabalhar muito bem com situações mais pesadas, que não são poucas. O protagonista atravessa a clássica jornada do herói e tem de lidar com a dor e a perda. Ao lado de sua família e amigos ele vai percebendo o que realmente significa ser o Homem-Aranha. Miles é um personagem tão carismático e tão bem construído que conquista o público rapidamente. Em certo momento, a sensação é de que já o conhecemos há muito tempo, mesmo sendo sua estreia nos cinemas.

Homem-Aranha no Aranhaverso é uma experiência única e divertidíssima. Grande parte disso é resultado da preocupação com os mínimos detalhes e nuances na composição do longa. Depois de Pantera Negra, é ótimo ver outro personagem negro dominar o mundo dos super-heróis. Que o ótimo começo de Miles Morales abra caminho para muitas outras adaptações de suas aventuras.

TRAILER DO FILME

--

--

Cainan Silva
Acabou em Pizza

Há muito tempo eu já sabia que nem tudo é céu azul, que há também melancolia na vida de cada um