Crítica — Slender Man: Pesadelo sem rosto

Estreia da semana, terror sobre figura mítica da internet consegue prender a atenção do espectador, mas peca ao não conseguir assustar

Lucas Boaventura
Acabou em Pizza
3 min readAug 24, 2018

--

Reprodução

A história de Slender Man é um produto: já criaram jogos, curta-metragens de baixo orçamento, action figures e até um documentário da HBO sobre um crime real cometido por duas adolescentes, em 2014, que alegavam estar sob controle do Slender Man. O monstro, que surgiu a partir de um fórum na internet, em 2009, agora é uma produção hollywoodiana distribuída no Brasil pela Sony Pictures, estrelada por Joey King, do filme sensação da Netflix A barraca do beijo, e Julia Goldani Telles, da série The Affair. Completam o quarteto de protagonistas, Jaz Sinclair, de Cidades de Papel, e Annalise Basso, de Capitão Fantástico.

Slender Man: Pesadelo sem rosto nos apresenta a um grupo de amigas entediadas com suas vidas em uma pequena cidade dos Estados Unidos. Após invocarem a entidade Slender Man em um fórum virtual, Katie, interpretada por Annalise Basso, desaparece sem deixar rastros, exceto por uma série de desenhos do monstro espalhados por seu quarto. Cabe então às amigas de Katie tentar encontrá-la, enquanto tentam não enlouquecer com as aparições de Slender Man.

O roteiro, assinado por David Birke, não traz nada de novo para o horror. A atmosfera de tensão consegue ser eficiente, porém os sustos não são inesperados. No entanto, é interessante destacar que os trailers exibidos nos cinemas nacionais eram repletos de jump scares, o que, felizmente, não acontece no longa — há alguns jump scares, sim, mas de forma moderada. A maior falha da história é criar situações pouco prováveis para o contexto de uma adolescente desaparecida. Apesar do foco ser nas amigas de Katie, não vemos nenhuma busca pela jovem, nem pais preocupados com filhos na rua à noite. É bastante inverossímil.

Outra grande falha do filme é a montagem: em diversas cenas a má montagem muda drasticamente o ritmo da narrativa — há uma, em particular, cujo rosto de um personagem é desfigurado e o tom, que deveria ser horror, torna-se cômico. Não fosse esse problema com a montagem, o filme conseguiria funcionar com mais fluidez.

Dana Starbard © 2018 CTMG, Inc. Todos os direitos reservados.

Contudo, o elenco funciona. A personagem com mais tempo de tela é Hallie, interpretada por Julia Goldani Telles, confortável no papel, porém é Joey King que se destaca. Carismática, King já havia trabalhado com o cinema de horror no grande sucesso Invocação do Mal e também no irregular 7 Desejos. Aqui, ela interpreta Wren, uma adolescente rebelde inconformada com o desaparecimento da melhor amiga, e convence com naturalidade nas cenas em que é atormentada pelo monstro.

Em cartaz

Desde o anúncio de seu lançamento, Slender Man: Pesadelo sem rosto vem acompanhado de polêmicas em razão do crime real, ocorrido em 2014 — há quem diga que o filme não deveria ter sido feito em respeito à vítima. Controverso ou não, o filme estreou bem nas bilheterias de seu país de origem e já ultrapassou o orçamento de sua produção em arrecadação. Apesar de possuir diversos defeitos e não ser um filme de horror com identidade própria, o longa é capaz de agradar o público adolescente que se interessa pela lenda do personagem-monstro-entidade-ídolo.

--

--