Crítica: Vingadores — Guerra Infinita

O filme é o início do fim. É o desfecho de um universo construído cautelosamente. Temos, enfim, o filme mais ousado da Marvel.

Lorenzo Duso
Acabou em Pizza
4 min readApr 30, 2018

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“O destino sempre chega”. Essa frase, dita por Thanos, o Titã Louco, resume perfeitamente a magnitude do terceiro filme dos Vingadores, que simboliza o momento no qual todas as tramas dos filmes anteriores culminam. Após 10 anos, temos o início do fim, o desfecho de um universo construído cautelosamente. Temos, enfim, o filme mais ousado da Marvel.

Para os nerds que acompanharam as declarações dos Irmãos Russo, diretores do longa e responsáveis pelo aclamado Capitão América: Soldado Invernal, as expectativas se mostraram reais. Segundo eles, em entrevistas, Thanos foi construído para ser o novo Darth Vader. A comparação pode ser forçada para alguns, mas é inegável que ele é o maior vilão do universo Marvel e que sua influência reverberará na cultura pop por muito tempo. Suas motivações transcendem os clichês dos filmes anteriores, beirando a psiqué de grandes vilões dos quadrinhos, como Ozymandias. Aliás, Thanos tem um plano muito semelhante ao do vilão de Watchmen. Obstinado, Thanos é um trator alienígena. Por onde passa, traz o caos e instaura o medo. A complexidade de antagonista é construída a partir de cenas em forma de contraponto à jornada dos heróis, basicamente compondo a jornada do vilão, uma quebra de protocolo com os outros filmes do universo Marvel. Em seus momentos de tela, a tensão é palpável, e o espectador teme a cada segundo pela vida dos seus heróis preferidos. Assim, os Irmãos Russo cumpriram sua promessa, fazendo um filme sobre o vilão, e não sobre o herói.

Por mais que o medo permeie toda a narrativa, momentos de humor são muito bem trabalhados ao longo da história. Esse equilíbrio torna o filme leve e faz as duas horas e meia de duração passarem extremamente rápidas. Parte dessa leveza é resultado das interações entre personagens que nunca haviam se encontrado ao longo do MCU, como os Guardiões da Galáxia, já conhecidos por seu caráter pitoresco. A construção das alianças e do companherismo dá vazão para momentos hilários, e para os nerds que acompanham os quadrinhos, a sensação que os HQs já passam a muito tempo em termos de conexão entre as histórias de personagens distintos é extremamente bem feita. Para o futuro dos filmes desse universo, as possibilidades agora são, perdão pelo trocadilho, infinitas.

Aos Irmãos Russo também cabe dar o mérito de extrapolar a consagrada fórmula Marvel. Sua coragem é percebida no número de mortes de personagens queridos e na narrativa pouco usual apresentada. O filme é o maior do estúdio até agora, entretanto, dada sua magnitude, foi difícil encaixar tudo em um único filme. Em virtude disso, escolhas foram feitas e alguns personagens não têm tanto tempo de tela quanto outros. Exemplo disso são os filhos de Thanos, a chamada Ordem Negra, que são um mero obstáculo para os heróis terem uma leve sensação de vitória antes de Thanos chegar e mostrar quem manda. Críticas podem ser feitas a algumas mortes, supostamente desnecessárias, mas acredito que toda morte teve seu papel para a construção das jornadas individuais de cada herói. O filme brinca com todas as teorias e expectativas acerca dos seus possíveis desfechos, distorcendo cenas dos trailers para nos entregar algo totalmente novo e improvável.

Em termos de background e conhecimento dos filmes anteriores, espectadores que não são tão assíduos nas sessões de cinema da Marvel não terão problemas ao acompanhar a trama. À todo momento o filme apresenta pequenos diálogos que explicam acontecimentos marcantes que seriam de suma importância para o entendimento da Guerra Infinita. Dessa forma, a história é para fãs e não fãs, uma experiência visual absurda que irá encantar à todos. Esse espetáculo, composto também por uma trilha arrepiante e atuações que, mesmo pontuadas em pouco tempo, são boas e cativantes, irá marcar para sempre o gênero de filmes de super-heróis.

Após a cena pós-créditos (um link perfeito para o próximo filme), a sala de cinema estava em um silêncio mórbido e profundo. Pasmas, as pessoas se retiravam e somente após alguns minutos começavam a comentar os acontecimentos. Estampado nos rostos dos nerds, estava o peso do maior filme da Marvel até agora. Imprevisível e arrebatador, Vingadores: Guerra Infinita honra as histórias em quadrinhos e é, sem sombra de dúvida, uma amostra de maturidade, mostrando que é possível inovar em um gênero supostamente saturado. É basicamente impossível não sair pasmo da sala de cinema.

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