Uma missão quase impossível

A pressão familiar, a diversidade de cursos e o receio de fazer a escolha errada são alguns dos motivos que levam os jovens à loucura na hora de escolher uma profissão

Bruna Jacobovski
Acabou em Reportagem
5 min readJul 4, 2018

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A indecisão ao escolher o curso | Foto: Freepik

Escolher a carreira profissional a ser seguida é um grande desafio para os jovens, pois cada vez há mais variedades de cursos, e tomar uma decisão como essa na adolescência não é uma tarefa fácil. Ainda mais para as gerações atuais, que nasceram na era da tecnologia, em que tudo muda o tempo todo. O que satisfazia as vontades ontem, hoje não satisfaz mais. Além disso, também existe a pressão e influência da família e dos amigos. Muitos adolescentes acabam escolhendo um curso para realizar o sonho que era de seus pais e acabam deixando o seu em segundo plano.

Dessa forma, a missão de escolher uma carreira para seguir se torna ainda mais complicada, pois quem garante que amanhã o jovem ainda vai gostar da profissão que escolheu? Ou melhor, será que ela ainda vai existir?

A Escolha

Para a estudante de curso pré-vestibular Mariana Magnus de Souza, 18 anos, a maior dificuldade estava em escolher algo que ela realmente gostasse. Quando se formou no ensino médio, prestou seu primeiro vestibular para Arquitetura e Urbanismo por ter facilidade com números, mas logo percebeu que, na verdade, gostava era da área da saúde. Com auxílio de sua mãe, que deu algumas sugestões, e por meio de uma pesquisa por cursos, ela optou por prestar vestibular para Fonoaudiologia.“Meus avós têm problemas de fala, acho que também posso ter escolhido com a intenção de ajudar”, diz Mariana. Ela também afirma que, apesar de ter cogitado outros cursos anteriormente, hoje em dia não vê outra opção além da Fonoaudiologia.

Já Diullie Hoppe Lobins, 19 anos, também estudante de curso pré-vestibular já cogitou vários cursos de diferentes áreas, dentre eles Odontologia e Moda. Mas sua paixão por idosos e também a influência da família de médicos fez com que ela optasse pela Medicina. “Meu sonho sempre foi me especializar em geriatria para cuidar dos idosos, mas também gosto muito de ortopedia, por isso acho que vou acabar fazendo as duas especializações”, diz Diullie. Para ela, que está prestando vestibular pela segunda vez, a maior dificuldade em escolher o curso é o receio de passar anos estudando e não conseguir entrar em uma faculdade de Medicina, por isso cogita a possibilidade de cursar Enfermagem, caso não passe nos próximos anos para o curso desejado. Apesar disso, não se vê longe da área da saúde.

A troca de curso

As médias altas de alguns cursos e a indecisão fazem com que muitos jovens troquem no meio do caminho. Isso pode ocorrer por diversos motivos, um deles é a mudança de interesse do próprio aluno pela profissão. Esse é o caso do Teófilo Szczesny Maciel, 19 anos, que, após cursar Pedagogia por três semestres, resolveu trancar a faculdade e voltar a estudar para o vestibular. Segundo ele, a opção de cursar Pedagogia veio por meio de uma bolsa de estudos integral em uma faculdade privada devido a sua nota do Enem. Teófilo afirma que se deu conta de que estava no curso errado quando começou a parte prática, na qual envolvia ir à escolas dar aulas e trabalhar com crianças, algo que ele não se vê fazendo no futuro. Segundo ele, na época se sentiu um pouco fracassado, mas por ter “perdido” tempo se dedicando a esse curso, ao invés de estar estudando pra passar em algum que ele realmente goste. “Atualmente, estou em dúvida entre Design de Produto e Nutrição, acho que essa dúvida se deve mais à oferta de emprego, porque hoje o mercado de trabalho está bem difícil”, diz Teófilo. Para ele, a concorrência no mercado é maior na Nutrição, porque muitas pessoas já cursam ou atuam na área. Já o curso de Design de Produto é relativamente novo, ou seja, é pouco conhecido e não possui muitos profissionais, o que facilitaria sua entrada no mercado de trabalho por ser uma área em ascensão.

O que aconteceu com Teófilo é comum entre os adolescentes, afinal a adolescência é um período de muitas transformações, então é compreensível ter dúvidas e até mesmo fazer uma escolha e se arrepender depois, não há nada de errado nisso. O estudante Bruno Dorneles Suarez, 21 anos, também passou pela mesma situação. Ele cursou dois semestres de Engenharia de Produção. “Eu pensava que era uma engenharia mais humana, mas percebi que não, na verdade ela trata as pessoas como máquinas”, diz Bruno. Seu principal motivo para desistir foi a quebra de expectativa em relação ao curso, pois percebeu que só o concluiria para ter um diploma, já que não tinha intenção nenhuma de trabalhar na área. “Na época considerei como um fracasso, mas hoje em dia vejo mais como um aprendizado”, afirma. Atualmente, Bruno está cursando o segundo semestre de Relações Públicas na UFRGS e diz que está satisfeito com sua nova escolha. Apesar de não descartar completamente a ideia de trocar de curso, hoje não tem outra profissão em mente e acredita estar no caminho certo.

Para a psicóloga Carla Cristiane Ballico Gratsch, de Porto Alegre, que realiza testes vocacionais, essa frustração relatada pelos jovens se dá pelo fato de o curso inicial não ter atendido as suas expectativas e por ter que iniciar novamente o processo de escolha e de estudo para uma nova profissão. Além disso, ela afirma que essa frustração pode vir também pelo estudante ceder a pressão dos pais, que, muitas vezes, motivam os filhos a seguir determinada carreira por questões financeiras, ou porque era o desejo deles, limitando a escolha profissional do jovem.

Quanto à indecisão, a psicóloga indica que os adolescentes façam um teste vocacional, pois, além de facilitar o processo de escolha, descartando áreas do conhecimento em que o candidato não tem vocação, ele também ajuda a diminuir a ansiedade.

A importância dos testes vocacionais

A escolha do curso não é uma tarefa fácil para maioria dos jovens, por isso recomenda-se os testes vocacionais. Esses testes vão desde questionários até entrevistas presenciais e encontro com profissionais que atuam na área.

Com apenas uma breve pesquisa no Google, é possível ter acesso a inúmeros testes, os quais definem por meio de perguntas as áreas mais adequadas para cada perfil. Entretanto, é difícil relacionar as habilidades de uma pessoa com seus interesses, afinal alguém pode ter facilidade com cálculos e não gostar da área da Economia. Pensando nisso, surgiu a “orientação vocacional”.

A orientação vocacional é uma versão “atualizada” dos testes, pois envolve um processo de autoconhecimento, além de apresentar de maneira mais clara as profissões. Essa orientação se inicia com uma conversa com um psicólogo que procura, por meio de questionários e entrevistas, estabelecer uma relação entre as áreas de aptidão e seus interesses. O diferencial desse teste é que, após a apresentação das profissões e da “escolha”, é proposto ao orientado um encontro com um profissional que atua na área para saber mais sobre o dia a dia da profissão. Por fim, é realizada uma breve pesquisa sobre o mercado de trabalho e a grade curricular do curso desejado, para que assim o aluno possa decidir qual caminho seguir.

Vale lembrar que esses testes não vão fornecer todas as respostas e nem vão apontar apenas uma opção de curso. Mas vão ajudar a ter um melhor autoconhecimento, o que auxiliará na tomada dessa decisão de uma maneira mais tranquila e consciente.

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