Mitos e verdades sobre daltonismo e acessibilidade

Há vários tipos de daltonismo em homens e mulheres, com diferentes causas, graus de severidade e impactos no dia a dia. Matéria do Bureau of Internet Accessibility esclarece os principais mitos sobre o tema.

Vinícius Cassio Barqueiro
Acessibilidade e Inclusão
4 min readSep 29, 2020

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Artigo adaptado/traduzido por Vinícius Cassio Barqueiro a partir do original Myths and Facts About Color Blindness and Accessibility, publicado pelo Bureau of Internet Accessibility (BoIA).

O daltonismo afeta cerca de 300 milhões de pessoas no mundo, segundo a organização Colour Blind Awareness. Embora seja uma das condições de visões mais comuns, às vezes é esquecida nas discussões de acessibilidade web.

Isso acontece por causa de alguns equívocos comuns sobre daltonismo. Assim como em muitas outras deficiências, o daltonismo não tem um conjunto único de sintomas, nem afeta as pessoas da mesma maneira no dia a dia. Confira a seguir os mitos mais comuns.

Mito: Apenas pessoas do gênero masculino são daltônicas

Cerca de 95% de pessoas daltônicas são do gênero masculino, mas cerca de 1 a cada 200 mulheres possuem alguma forma de daltonismo.

O daltonismo é mais comumente causado por diferentes variações genéticas. O daltonismo vermelho-verde, por exemplo, é causado por um gene recessivo no cromossomo X. Pessoas do gênero masculino geralmente possuem um cromossomo X e um Y, então, se herdarem um gene recessivo, eles desenvolverão daltonismo vermelho-verde.

Quando uma pessoa possui dois cromossomos X, no entanto, a mutação deve existir em ambos os cromossomos para que a condição se desenvolva. A visão de cores azul-amarelo se desenvolve a partir de um padrão autossômico dominante, e é tão comum em homens quanto em mulheres.

Em outras palavras, qualquer pessoa pode ser daltônica, mas pessoas com cromossomos XY são muito mais propensas a desenvolver alguma forma de daltonismo.

Mito: Daltonismo significa uma inabilidade total de distinguir cores

Algumas pessoas têm visão monocromática (acromatopsia, também chamada de “daltonismo total”), o que significa que não conseguem distinguir as cores de jeito nenhum. A maioria dos indivíduos com visão monocromática também tem uma sensibilidade aumentada à luz e outros problemas de visão.

No entanto, alguns médicos acreditam que a acromatopsia não deve ser considerada como um tipo de daltonismo, e a condição é muito mais rara do que outras formas de daltonismo; o National Institute of Health (NIH) estima que a acromatopsia afete 1 em 30.000 pessoas em todo o mundo.

Mito: Daltonismo significa que você não pode ver vermelho ou verde

O daltonismo vermelho-verde é o tipo mais comum de daltonismo, mas não é a única variação, e sua severidade varia de pessoa para pessoa. De acordo com o National Eye Institute do NIH, há dois tipos principais de daltonismo, cada um dividido em subtipos: vermelho-verde (protanomaly, deuteranomaly, protanopia, and deuteranopia) e azul-amarelo (tritanomaly or tritanopia).

Pessoas com protanopia ou deutoteranopia são incapazes de dizer a diferença entre vermelho e verde, mas pessoas com outros tipos de daltonismo vermelho-verde apenas possuem dificuldades de distinguir entre diferentes tons dessas cores. Possivelmente aumentando a confusão, pessoas com daltonismo azul-amarelo muitas vezes têm dificuldade em distinguir vermelhos e verdes também.

Mito: Daltonismo é sempre diagnosticado na infância

Deficiências na visão de cores nem sempre são severas, e muitas pessoas daltônicas não recebem um diagnóstico clínico até a idade adulta, se é que recebem um diagnóstico. É importante notar que qualquer pessoa vê as cores de modo diferente, e quando o daltonismo é leve, as pessoas podem não notar as deficiências de cores em seu dia a dia.

Embora a maior parte do daltonismo seja genética, deficiências podem se desenvolver com o tempo devido a lesões ou condições como o glaucoma. Alguns medicamentos, incluindo hidroxicloroquina, também podem causar daltonismo em adultos.

Mito: Daltonismo não é desafiador

Embora o daltonismo não cause sérios problemas de saúde, ele pode impedir que as pessoas assumam certas ocupações (por exemplo, pilotos com deficiências de cor significativas não podem operar aeronaves à noite, de acordo com os regulamentos da Federal Aviation Administration) e pode apresentar outros desafios.

Por exemplo, pessoas daltônicas podem ser menos capazes de navegar em sites que dependem muito de códigos de cores. Os recursos de acessibilidade podem ajudar; iOS e Android têm configurações de acessibilidade de cores que aplicam filtros especiais à tela do telefone para apresentar o conteúdo visual de uma forma mais intuitiva.

Ao planejar a acessibilidade, os desenvolvedores da web podem melhorar a experiência do usuário para pessoas com daltonismo. Isso começa no nível de design. O Google Chrome inclui ferramentas de acessibilidade para desenvolvedores, incluindo recursos que simulam deficiências de visão em cores, visão turva e outras deficiências visuais. Os desenvolvedores podem usar essas ferramentas para evitar que problemas de contraste afetem a usabilidade do site.

Como sempre, a melhor abordagem é priorizar a acessibilidade no início do desenvolvimento da web. Seguindo as diretrizes WCAG e prestando muita atenção ao uso de cores, um desenvolvedor pode garantir que pessoas com daltonismo ou outras variações de percepção de cores não sejam deixadas de fora — e que sejam capazes de experimentar o site de uma forma natural e intuitiva.

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Vinícius Cassio Barqueiro
Acessibilidade e Inclusão

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