Basta o jogo

Lucas Rubio Ayres
Adeptos & Apaixonados
3 min readApr 14, 2020

Imagino que muitos dos amantes da escrita e dos esportes, ou só da escrita, ou só dos esportes, tenha, em algum momento, o desejo, para não dizer o sonho, de produzir crônicas, de tocar uma coluna, essas coisas. Assisto, logo penso, logo escrevo.

Creio que a vontade é de expor seus pensamentos de maneira mais estruturada e, principalmente para os amantes do esporte e da mídia esportiva, longe da gritaria dos programas de debate e das discussões sem fim das redes sociais.

Ironicamente — como, aliás, muita coisa que acontece nesses tempos em que tentamos tocar a vida enquanto ela está parada dentro de casa ou se perdendo nos hospitais — consegui o tempo, a vontade e a organização justamente quando o futebol está, como tudo, parado. Da crise, as oportunidades, diria o pensador liberal.

Se para mim a oportunidade foi lançar ao léu digital essas palavras, para o adicto futebolístico em nível avançado de abstinência a chance é de parar e observar o que envolve o consumo do seu esporte do coração.

Estamos falando, sim, da cobertura, da mídia boleira. “Óbvio”, diria o velho Trimagasi, d’O Poço. Um rápido rolê pelos principais portais e pelos perfis dos principais jornalistas e formadores de opiniões de boteco mostra pautas que, se não são criativas, são dignas de uma boa gambiarra.

Comparações históricas, tipo Ronaldo x Romário, estão em todos os lugares nas redes, e, no sites, a cobertura das redes ocupa um bom espaço.

Ironias à parte, são pautas justas para a situação, até porque não estão impedindo matérias mais aprofundadas, análises da temporada que transcorreu até o fim de fevereiro, efemérides da bola, entre outros bons conteúdos. A bola não rola mas o mundo roda, afinal.

Ai que está: se são pautas justas para momentos em que não há absolutamente nenhuma bola rolando nos principais centros, porque ocupam tamanho espaço em tempos de “paz esportiva”?

O pensador liberal que se manifestou antes pode até dizer que é a simples lógica de oferta e demanda, com o qual eu respondo “óbvio”, fazendo sorrir o Trimagasi duns níveis acima deste parágrafo. É justamente por isso que digo que a oportunidade aqui é observar como consumimos o futebol.

Não deveria o jogo ser o bastante? Ele já é suficientemente complexo, com tantas e tantas ramificações que os programas que pretendem desvendá-lo são feitos em formato de conversa, só para poder capturar todas suas nuances.

Afinal, a conversa é a única maneira de comunicação que consegue unir os seus acontecimentos cotidianos com uma análise socioeconômica de Madagascar, a psicologia por trás do programa do João Kléber ou qualquer outro assunto em que as conversas vão parar sabe-se lá como.

Longe de mim, porém, julgar quem gosta da cobertura comparativa ou quem bate ponto nos perfis do Insta dos atletas. Mais longe ainda está a solução para a tal, a vil situação.

Nem era, aliás, o propósito deste texto-conversa, da mesma maneira que quem puxa o papo da canhotinha do Robben para um manifesto de como o canhoto não é valorizado fora do esporte não apresenta a resposta para o problema. Mas que é verdade, é…

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