Bolsas e afeto: o movimento das cores como marca de Fernanda Batista
A mulher que cria formas e cores que inspiram
Fernanda Batista gosta de contar histórias, como na identidade visual d’ADobra, e com suas bolsas e carteiras. São histórias feitas com suas mãos e, assim como um fio puxa o outro, as histórias vão se encontrando e formando sua trama. A infância em Recreio, no interior de Minas, vem com cheiro de manga espalhado no azul do céu, o som da máquina de costura da mãe, uma Singer de pedal herdada da avó, brincadeiras e costuras com linha e agulha para vestir as bonecas. Entre mulheres, entre meninas, entre gerações: assim o gosto pelas cores e formas que se misturam foi ganhando espaço na vida da pequena Fernanda.
“É uma certeza que eu tenho: o céu azul, os pássaros coloridos, as árvores verdinhas, as frutas tropicais. Uma beleza gratuita dessas, isso fica em você, de forma inconsciente”.
Em meados dos anos 1990 mudou-se com a família para Juiz de Fora e, anos depois, para o Rio de Janeiro para cursar Desenho Industrial na PUC. Bolsista integral pelo Prouni, durante os cinco anos de graduação foi estagiária na área de moda, passando por moda praia, calçados e pesquisa de figurino para a novela Ciranda de Pedra. No contexto universitário ampliou suas referências estéticas e artísticas, ficou marcada pela escola vanguardista de design Bauhaus e o pintor Kandinsky, quem abriu a ela as janelas dos museus de arte e despertou seu amor pelas artes plásticas.
“A inspiração não vem sem trabalho. É preciso estar constantemente consciente para desenvolver a nossa linguagem estética”.
Em 2012 mudou-se para Chicago para se casar com seu namorado à época, Héctor, com quem compartilha a vida desde então. Recém chegada aos EUA, começou a estudar em uma escola de inglês para migrantes e, como passava a maior parte do dia na escola de idiomas, chegava em casa mentalmente exausta. A princípio como um hobby, para descansar a mente, começou a costurar e, entre experimentações, erros e acertos, projetou e finalizou uma bolsa para levar seus livros e cadernos para a escola de inglês. Vendeu algumas para colegas de curso, depois comprou um tecido de motivos mexicanos e fez mais algumas para a loja de um amigo, que rapidamente se esgotaram: assim começou a trajetória de sua marca.
Aconteceu então o encontro de uma paixão antiga, as bolsas e seu efeito psicológico de levar um pouco do que somos e, por isso também, a liberdade de se mover, com o design e a moda, alinhavando, assim, os princípios de sua marca: funcionalidade, alegria e singularidade. Desde então, fez diversos cursos sobre materiais variados, como o couro que oferece maior durabilidade e resistência, ampliando suas possibilidades criativas. Com a mudança para Los Angeles, em 2013, feiras e exposições começaram a fazer parte de sua marca, o que representou um passo significativo, ao se apresentar para um público mais amplo.
Atualmente, vive em Raleigh e trabalha em um estúdio, um espaço coletivo de artistas da cidade chamado Art Space, onde costura, pinta e cria suas peças. Este foi outro passo importante para a sua marca, é a primeira vez que possui um espaço de exposição e partilha permanente.
Nos últimos dois anos começou a pintar o couro, com motivos alegres e festivos, cheios de energia, o que podemos sentir nas Little Sister, carteiras femininas singulares, pois cada uma é cortada, costurada e pintada à mão. Com persistência e trabalho, vem desenvolvendo sua identidade estética, combinando qualidade, técnica e design próprios, o que nos permite perceber de forma consistente as mãos e o coração de Fernanda Batista em suas criações.
“Não tem como pintar duas bolsas iguais: é pura liberdade artística. Pelas cores manifesto meu estado de espírito, minha intenção é transmitir emoção”.
O ano de 2020 está sendo um período de muitas reflexões e mudanças, o que se reflete em novas formas de ser e estar no mundo. Nesse sentido, Fernanda vem pensando em outras maneiras de estar próxima das pessoas, de tocá-las com seu trabalho, e também em sua identidade como mulher latina, brasileira e empreendedora.
Algumas das mudanças decorrentes em repensar seu lugar no mundo e no mercado envolve a provável mudança do nome de sua marca e evidenciar ainda mais sua relação com o Brasil e a América Latina. Em um futuro próximo, deseja estreitar os laços entre EUA e Brasil, mediante seu propósito como artista e empreendedora, que envolve produção e consumo consciente, valorizando cada gesto na criação.