Projeto Acalanto Sergipe: conscientização a respeito da adoção e auxílio aos pretendentes

Yasmin de Freitas
Adotar
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5 min readJan 5, 2018

O caminho da adoção é delicado e, na maioria dos casos, longo. Os pais adotivos passam por um processo muito semelhante a aquele enfrentado pelos pais biológicos; são os mesmos medos e incertezas. Porém, no caso da adoção, não há uma previsão de quando esta espera irá acabar, podendo durar anos. E, além disso, essa gravidez do coração, como é chamada pelos pais adotivos, é invisível à sociedade e ainda vítima de muitos preconceitos.

Assim, diante dessa necessidade de se discutir sobre adoção, promover a quebra de preconceitos e auxiliar aqueles que já adotaram e os que estão na fila, é que surgem os grupos de apoio à adoção. Formados, em sua maioria, por pais adotivos e profissionais que lidam diretamente com a adoção, estes têm lutado pelo direito de crianças e adolescentes crescerem em uma família, conscientizado a sociedade sobre a adoção e dado apoio aos pretendentes e aos pais adotivos.

Em Sergipe, desde 2015, o Projeto Acalanto tem sido o único grupo de apoio à adoção responsável por buscar desmistificar muitos preconceitos relacionados à adoção, legitimar os filhos e famílias por adoção na sociedade e auxiliar aqueles que desejam construir ou que formaram a sua família através da adoção. Formado por pais por adoção ou pretendentes, filhos adotivos, profissionais de várias áreas (serviço social, psicologia, direito) que são interessados pelo tema e outros voluntários que não têm relação direta com a adoção, mas apresentam certo interesse; o grupo, atualmente, tem feito parcerias com órgãos jurídicos, auxiliando-os em suas ações, mas também tem desenvolvido ações próprias.

Conversando sobre Adoção do mês de dezembro de 2017, com o tema “História de uma adoção ‘especial’”. Créditos: acervo do projeto.

Conversando sobre adoção

Dentre os projetos desenvolvidos está o Conversando sobre Adoção, um encontro mensal, realizado pelo Projeto Acalanto, geralmente no primeiro sábado do mês. Nestes encontros, o grupo de apoio traz profissionais de diversas áreas que possam tratar de temas relacionados à adoção, mas também conta com a participação de famílias formadas pela adoção que sempre contribuem compartilhando suas experiências. “O objetivo realmente é divulgar o tema da adoção, tirar dúvidas, trazer pessoas que estejam interessadas em adotar ou aquelas que querem amadurecer um pouco sobre esse tema”, esclarece Célia Machado — presidente do Acalanto.

Por não possuir uma sede, o grupo faz parceria com escolas e universidades para que seus membros possam utilizar alguns desses espaços oferecidos pelas instituições. Em 2017, uma parte dos encontros foi realizada na clínica de psicologia da Universidade Tiradentes, porém o espaço começou a ficar pequeno e os demais encontros aconteceram no colégio Liceu.

Curso Pré-Natal da Adoção

O Acalanto tem vários parceiros, e a Universidade Tiradentes é um deles. Juntamente com o curso de psicologia, está em desenvolvimento um projeto de extensão voltado para pretendentes à adoção, chamado Pré-Natal da Adoção. Realizado na clínica de psicologia da universidade, o curso tem como objetivo preparar os futuros pais, porém diferente daquela preparação fornecida pelo curso exigido no processo de habilitação para adoção. “É um curso teórico vivencial, são passadas informações teóricas, mas a ideia mesmo é que eles vivenciem”, explica. A proposta, segundo Célia, é de fazer um curso mais reflexivo, com questões como: por que quer ser pai e mãe, qual o significado do filho em sua vida, por qual motivo se optou pela adoção e o que levou a escolher aquele perfil.

Terceira turma do curso “Pré Natal da Adoção”, em março de 2017. Créditos: acervo do projeto.

Desenvolvido com a participação dos formandos de Psicologia, o curso já teve algumas turmas e a resposta sempre foi positiva, porque além de auxiliar nessa reflexão, promove a integração entre pessoas que estão passando pela mesma fase. Tem ainda auxiliado bastante no processo de adoção que, assim como na gravidez, é repleto de medos e incertezas.

Além disso, Célia cita que este projeto de extensão também tem uma importância para os acadêmicos, pois a adoção é um tema que, em geral, não é muito discutido durante os cursos de formação. Sendo assim, também é uma forma de fazer com que esses futuros profissionais criem uma nova mentalidade relacionada à adoção.

Grupo Novos Pais

O auxílio aos pais após a adoção já era uma realidade entre o grupo de apoio à adoção. Já existia, nas mídias sociais, um grupo de pós-adoção para reunir as pessoas que os procuravam demonstrando interesse em adotar e discutir sobre as questões que envolvem esse tema. Porém, devido ao aumento no número de adoções de crianças mais velhas e de irmãos, o Acalanto sentiu a necessidade de fazer algo que pudesse dar um maior apoio a esses novos pais, principalmente porque essas crianças já vêm com uma história e uma carga cultural diferente, tornando a adaptação mais difícil.

Assim, surgiu o grupo Novos Pais, que se reúne também mensalmente para refletir questões relacionadas à adoção, tirar dúvidas e trocar experiências, angústias, dificuldades. O grupo é mais voltado para aqueles que optaram pela adoção de crianças mais velhas ou irmãos, e ainda é pequeno (cerca de umas 10 pessoas), facilitando inclusive essa possibilidade de troca de experiências.

Busca Ativa

Já utilizada em diversas regiões do país e com bons resultados, a busca ativa é uma ação dos grupos de apoio com o objetivo de efetivar adoções consideradas necessárias como, por exemplo, a de crianças mais velhas, grupos de irmãos e até mesmo de crianças com problemas de saúde. Isto porque estas crianças, em sua maioria, não possuem pretendentes disponíveis no Cadastro Nacional de Adoção (CNA).

A busca ativa acontece através da parceria das Varas da Infância com estes grupos. Quando há a autorização dos juízes para que esta ocorra, os dados (idade, problemas de saúde, sexo e raça) destas crianças são enviados para os responsáveis por este grupo que, por sua vez, lançam em sua rede de contatos. E se trata de uma verdadeira rede, já que em muitos casos o contato acontece através dos grupos de WhatsApp pelos quais os pretendentes à adoção, que geralmente frequentam reuniões de apoio, se comunicam. Porém, é importante destacar que a atuação dos grupos se encerra após a divulgação. O pretendente que deseja adotar aquela criança deve procurar a Vara da Infância e não mais o grupo de apoio. “A gente não faz nenhuma tramitação jurídica, a gente só faz essa divulgação interna entre os grupos de apoio à adoção para ver se encontra algum pretendente para as crianças e adolescentes”, esclarece Célia.

Como fazer parte

Para quem deseja participar do grupo, a melhor forma de entrar em contato ainda é comparecendo as reuniões mensais, já que estas são abertas ao público. Mas também é possível entrar em contato através do telefone (79) 99968–7355, do site do projeto e de seus canais nas mídias sociais (Facebook, Instagram e Youtube) ou ainda pode fazer parte de uma das turmas do projeto de extensão, o pré-natal da adoção.

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A Revista Adotar é uma revista experimental sobre adoção, apresentada como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Jornalismo. revistaadotar@gmail.com

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