Como minha criação atrofiou minha capacidade de resolver problemas

Israel Mesquita
Aela
Published in
5 min readJun 20, 2018

A vida sempre dá um jeito de nivelar nossas habilidades no momento certo.

Agora é correr atrás do prejuízo.

Perto de 5 meses como Product Designer na Seedrs, Lisboa/Portugal, chego a algumas conclusões muito interessantes sobre mim mesmo e sobre a vida em si. Mais do que um emprego muito bom, essa oportunidade tem sido um momento incrível de autoconhecimento.

E, em meio aos meus momentos filosóficos, eu percebi algumas coisas:

1. No momento, eu sou um Product Designer bem ruim

Que absurdo admitir isso em público assim, né? Mas, eu acho importante frisar que esse é um estado temporário. É o reconhecimento da minha incompetência e o primeiro passo pra me tornar competente.

Jake sempre soube das coisas

O fato de eu admitir que tenho dificuldades, reais, no meu processo de resolução de problemas fez com que eu me questionasse: Mas… por que isso acontece? Eu achei que fosse alguém minimamente criativo, já que passei anos como Designer Gráfico, sendo elogiado pelos meus projetos, conquistando clientes, galgando posições no mercado de trabalho… Tem alguma coisa errada aí, né? Será que a skill de solucionar problemas, de alguma forma, não está associada à criatividade?

Junto com milhões de perguntas, um coaching de perto da minha mestra Jedi, crises no chuveiro e desespero para estudar o máximo de coisas e superar essa questão, vieram duas perguntas importantes: “Como eu não desenvolvi isso e como eu consegui desenvolver minha imaginação mesmo assim?”

2. Mãe, eu te amo, mas parte da culpa é sua

Crianças são naturalmente curiosas. Elas gostam de entender o porquê do céu ser azul, da água ser molhada, ou o motivo de não poder comer um saco inteiro de biscoitos antes do jantar, etc.

Bom, não sei quanto a você, mas eu era uma criança assim. Porém, minha mãe, logo nessa época das perguntas, não tinha tanta paciência assim comigo e começou a responder “porque sim”, “menino, para de fazer tanta pergunta”, “é melhor você não comer isso ou o chinelo vai voar".

Chega uma hora em que a gente cansa de apanhar e entende que não é pra fazer perguntas.

Claro, a escola também ajuda muito nisso. Dê respostas certas, não faça perguntas. Quem pergunta demais recebe bullying, fica com a fama de ser burro, irrita as pessoas com mais facilidade pela quantidade de perguntas, e assim, a vida vai seguindo em um caminho natural de buscar as respostas que agradam e não as perguntas certas.

E olha que Einstein já cantava a pedra:

“Se eu tivesse apenas uma hora para salvar o mundo, gastaria 55 minutos para definir o problema e 5 minutos para resolvê-lo.”

Então, veio a carreira como designer gráfico e, veja só, muitas decisões já haviam sido tomadas anteriormente e agora eu “só” precisava achar soluções.

Eu conseguia formular algumas perguntas importantes (o que faz com que eu não me sinta uma causa perdida na carreira atual) mas, no geral, meus fusíveis não queimavam com isso, e sim com a imaginação necessária para desenvolver uma boa solução e ter todas as respostas ali nas mãos.

Buscar referências, experimentar, combinar, roubar como um artista, estudar teoria pra entender como aplicá-la, tentativa, erro, tentativa, erro, aprovação, nada disso parecia tão importante quanto chegar a uma resposta.

Veja bem, no Design Gráfico, resolvemos problemas diariamente, mas quando passamos para uma análise mais aprofundada em Design de Produto, é preciso deixar de dar respostas e começar a fazer as perguntas certas!

Nesse processo, eu percebi o quão defasado eu estava. E aí caímos na última questão.

3. E a imaginação? Como eu não senti essa barreira tão grande quando comecei em Design?

Esse foi um questionamento interessante, que me fez lembrar de que, quando eu era criança, tinha o hábito de inventar histórias sozinho na minha cama antes de dormir. Histórias épicas com heróis, mágica e tudo o que tinha direito.

Isso ninguém conseguiu tolir e, nesse ponto, minha mãe me ajudou muito (te amo mãe, não fica brava pelo 2º tópico) incentivando a leitura, a escrita, me deixando assistir a muita televisão (eu não tenho certeza se isso foi vantagem, mas muitas das minhas referências visuais vieram de lá, com certeza), me colocando em aulas de música e em outras atividades culturais que me interessavam.

Daí veio o interesse por desenho, design, trabalho duro, leitura de mil livros e quatro anos de faculdade, que continuaram desenvolvendo minha imaginação. Essa reflexão, me levou à lembrança de que toda e qualquer habilidade pode ser desenvolvida, com o devido tempo e esforço.

E isso me levou à conclusão de que eu vou me tornar um ótimo Product Designer em algum momento, só preciso de paciência para treinar esse músculo atrofiado que sempre me trouxe dificuldades na vida, embora eu nunca lhe tivesse dado a devida atenção.

Com isso, virão outras percepções, outras necessidades de desenvolvimento e outras fases desse joguinho bacana que é a vida.

E você, percebe algum ponto fraco que vai ter que desenvolver pra passar para a próxima fase do jogo da vida?

Israel Mesquita, faz parte da comunidade Aela, como aluno do bootcamp Master Interface Design. Nossos alunos, são estimulados a compartilharem conhecimentos e aprendizados através de textos aqui no Medium.

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