Design Sprint — ONG Miaudota

Isabella Galvão
Aela
Published in
6 min readJun 15, 2020

--

Neste artigo irei descrever como foi a nossa Design Sprint de uma semana para a ONG de Proteção Animal Miaudota. A Sprint foi organizada pelo canal “Design Team” do Rodrigo Lemes e diariamente eram publicados vídeos sobre cada uma das fases diárias. Nossa Design Sprint iniciou na terça-feira (02/06) e finalizou no domingo (07/06).

A equipe, formada por alunos da Aela.io, possuía pessoas com backgrounds diferentes e complementares: Thays Santos, desenvolvedora (Estocolmo, Suécia); Otávio Defavari, diretor de arte (SP); Renan Felipe Cascaes, webdesigner (RS), Murilo Boteon, desenvolvedor (SP) e Isabella Arruda (eu), advogada/UX Researcher (AM). Nosso primeiro desafio foi encontrar um horário comum para as reuniões diárias, já que estávamos trabalhando em 3 fusos diferentes, com diferença de até seis horas entre eles. A vantagem disso é que sempre tínhamos integrantes da equipe trabalhando na sprint em algum horário do dia.

Mapeamento

Iniciamos nossa Design Sprint com uma fase de alinhamento da compreensão acerca do problema. Realizamos uma análise do briefing que nos foi passado e extraímos dali os principais problemas, colocando-os em postits na ferramenta Miro. Depois do alinhamento, passamos para a fase de pesquisa a fim de aprofundar mais na compreensão do nosso problema. Dividimos entre os integrantes do grupo diferentes tipos de pesquisa a serem realizadas ao longo do dia, sendo elas:

Isabella: Entrevista em profundidade com a ONG Clube do Gato

Thays: Entrevista em profundidade com a ONG Pet Salvation

Murilo e Renan: Benchmarking

Otávio: Desk Research

Os roteiros das entrevistas em profundidade foram construídos com a finalidade de entender quais eram os desafios vivenciados pelas ONGs e como elas lidavam com eles, a fim de verificar se havia similaridades com os da ONG Miaudota. As entrevistas nos possibilitaram enxergar algo que até então não estava evidente: a importância das castrações de animais de rua para as ONGs de proteção animal, sendo este um dos maiores custos das ONGs. Questões como dificuldades de divulgação dos pets e arrecadação de recursos também foram bastante evidenciadas.

Após as pesquisas, nos reunimos novamente e alinhamos os resultados do que havíamos encontrado em uma matriz de afinidades.

Invalidando um desafio

Com algumas das dores já mapeadas através da pesquisa, decidimos realizar um mapa de empatia da dona da ONG, a Anita, a fim de entender melhor sua realidade, suas dores e ganhos e assim conseguir selecionar o problema a ser trabalhado. Depois, realizamos uma votação oculta, selecionando uma das dores para ser trabalhada e transformada em problema na próxima fase: a dificuldade de doação de gatos rajados e pretos.

Mas antes de desenvolver o problema e passar para a fase de ideação, decidimos validar se aquilo era de fato um problema ou se tratava-se de uma questão local (Campinas — SP). Realizamos uma pesquisa através do google forms com diferentes tipos de gato, pedindo para que as pessoas selecionassem aquele que adotariam, e divulgamos em nossas redes e em grupos de doações de animais.

Para a nossa surpresa, a pesquisa nos mostrou justamente o contrário do que esperávamos: gatos pretos foram os preferidos no momento da adoção e os gatos tigrados estavam em terceiro lugar, dentre os nove gatos da pesquisa. Nossa pesquisa contou com mais de 750 respostas, o que consideramos um espectro suficiente para a nossa Sprint. Desta forma, a pesquisa nos mostrou que precisávamos modificar nosso problema.

Definição do segundo problema

Buscando por um novo desafio de impacto, realizamos o exercício dos cinco porquês (perguntar 5x por que aquilo está acontecendo) em relação ao problema “dificuldade de arcar com despesas”, que embora aparecesse como uma das principais dificuldades, entendemos que era um reflexo de outras dores não mapeadas. Identificamos duas necessidades-base: castrações de animais de rua e dificuldade da dona da ONG em divulgar as campanhas de doação, rifas, e a própria adoção de gatinhos.

A castração, embora fosse um problema evidente, pareceu um desafio grande demais para ser trabalhado dentro de uma design sprint, uma vez que envolvia diversos stakeholders, inclusive órgãos públicos. Já a centralização de diversas funções na dona da ONG era um problema que oferecia diferentes alternativas de solução, de modo que decidimos abordá-lo, trabalhando de forma específica com a dificuldade da Anita em gerenciar as mídias sociais da ONG. Elaboramos então o seguinte desafio:

“Conseguimos observar a dona da ONG tem dificuldades em administrar as redes sociais devido a falta de conhecimento e tempo no dia-a-dia, o que resulta em divulgação fraca, baixa visibilidade e, assim, uma menor taxa de adoção dos animais”

Ideação e Definição

Realizamos o exercício dos sixups na fase de ideação, a fim de gerar propostas de solução para o desafio selecionado. Em seguida, cada um apresentou suas ideias, mostrando para o grupo como cada ideia resolveria o problema. Fizemos um agrupamento por afinidade das soluções encontradas.

A partir desta análise, realizamos uma votação velada das melhores soluções, para decidir qual delas iríamos desenvolver. Depois, começamos a simplificar a solução selecionada, a fim de que ela fosse efetivamente o Mínimo Produto Viável, aquele que resolveria, da forma mais simples possível, o desafio que propomos.

Optamos, por fim, em desenvolver um guia básico de uso das redes sociais no google docs, com itens que seriam úteis para a Dona da ONG em seu dia a dia.

Prototipação

Optamos pelo google docs pela simplicidade e praticidade da ferramenta, uma vez que, por ser um protótipo, precisava apenas cumprir a missão de instruir o usuário, sendo fácil e prática. Mesclamos o uso de explicação em texto, com explicação através de imagens (prints) e até recurso de vídeo, a fim de identificar quais seriam melhor recebidas pelo usuário final.

Teste

Criamos uma conta para o teste no instagram (@prototipoong) e um email para cadastro e armazenamento de documentação (prototipo.miaudota@gmail.com).

Passamos para a construção do roteiro de teste com as perguntas e falas do mediador, as tarefas a serem realizadas pelo usuário ao longo do teste e as métricas de sucesso associadas. Foram elaboradas seis tarefas para que o usuário executasse, utilizando o manual como base e o instagram do prototipo para o teste.

Começamos a convidar para o teste as ONGs de proteção animal que possuíam um perfil parecido com o da ONG Miaudota (número de seguidores e forma de utilizar o instagram), por meio de mensagens direct. Conseguimos, por fim, um dono de uma ONG, a @ongdegato, cujo responsável, Idelson, se mostrou disposto a realizar o teste conosco no final de semana.

O teste, realizado e gravado através da plataforma zoom, durou 1:40h e, apesar de nossa amostra ter sido pequena, conseguimos gerar insights interessantes a partir dele, tais como:

*O usuário possui o hábito de acessar a internet apenas pelo celular

*Ferramentas disponíveis apenas em inglês não são um empecilho e sim um impeditivo

*Há resistência com o termo “manual” e as instruções por vezes não são lidas

*Um manual apenas visual poderia ser mais efetivo

*Seria interessante conter os melhores horários para publicação também

*O facebook é percebido como um canal de discussão política e, portanto, menos efetivo para divulgação que o instagram.

O usuário reconheceu que o produto seria útil e o ajudaria em suas tarefas diárias.

O teste também evidenciou alguns pontos a serem melhorados no que diz respeito a simplicidade, apelo visual e objetividade do manual para realização das tarefas, o que nos gerou vários insights de melhoria do guia criado. Nosso próximo passo seria a realização de uma segunda sprint, a fim de refinar o produto, bem como testá-lo com outros usuários, iterando e aperfeiçoando o produto final.

A Design Sprint foi uma excelente oportunidade de aprendizado, tanto sobre como desenvolver soluções com uma equipe interdisciplinar, remota e trabalhando em diferentes fusos, como também sobre saber encarar com resiliência e bom humor quando sua hipótese de solução é invalidada pela pesquisa e o escopo do projeto precisa ser modificado.

--

--