A Síndrome do Capaz

Texto originalmente publicado em 14/11/2018 no Linkedin de Simone Gasperin.

Aerolito
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3 min readJan 24, 2019

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A síndrome do impostor é um fenômeno em que profissionais, muitos de sucesso, se convencem de que sua performance não é merecida, atribuindo suas realizações à sorte, e, com isso, vivendo uma ansiedade constante, um medo de ser “desmascarado”.

Segundo um estudo realizado pela psicóloga Gail Matthews, da Universidade Dominicana da Califórnia, ela atinge, em menor ou maior grau, 70% dos profissionais bem-sucedidos.

Mas me parece que no mercado de trabalho hoje existe um fenômeno inverso. Pessoas que se posicionam como profissionais de sucesso, muitas vezes escondendo seu baixo desempenho nas estruturas hierarquizadas de grandes corporações.

Essas pessoas muitas vezes chegam a cargos de liderança, ficando ainda mais distantes da realidade. Yuval Harrari, no livro 21 lições para o século 21, diz que o poder é como um buraco negro, provocando distorções em relação a tudo que está a seu redor.

O Santiago, sócio-fundador da Aerolito recentemente fez um texto provocando uma reflexão sobre os papéis de protagonismo e de relevância dentro das empresas. Eu acredito que o protagonismo só deveria ser alcançado a partir da relevância. Infelizmente, não é assim que acontece. E nesse contexto, dentro do ambiente corporativo, as mulheres são as mais prejudicadas.

No Livro Dar e Receber, o psicólogo organizacional Adam Grant traz resultados de uma pesquisa conduzida por Linda Babock que traz os seguintes dados: “Mais da metade dos homens — 57% — tentava negociar o salário inicial, em comparação com apenas 7% das mulheres. Os homens eram oito vezes mais propensos a negociar que as mulheres. Em média, os alunos que negociavam (na maioria, homens) melhoravam em 7,4% os salários iniciais”.

O próprio livro mostra a causa desse comportamento: segundo o autor, pesquisas mostram que as mulheres tendem a negociar com menos assertividade que os homens pelo medo de não corresponder às expectativas sociais de serem calorosas e amáveis.

Sheryl Sandberg, no seu livro Faça Acontecer, dedica o segunda capítulo — Um Lugar à Mesa — ao assunto da síndrome do impostor e como isso impacta na vida profissional das mulheres. Esse ano, no dia da mulher, palestrei num num evento sobre mulheres e tecnologia. Uma das palestrantes era uma especialista em software, com mais de 20 anos de experiência em desenvolvimento, com atuações em várias multinacionais, que relatou justamente sua experiência com a síndrome do impostor, situação que ficou mais evidente após sua licença maternidade.

Esse assunto por si só renderia um texto. Mas quero voltar meu foco não aos bons profissionais que muitas vezes tem problemas em lidar com sua competência.

Meu incômodo é justamente com o oposto.

Com os profissionais que, com uma entrega muitas vezes medíocre, permanecem no mercado não focando no bem da empresa ou do coletivo, mas na sua própria visibilidade. No seu status. No seu poder. No seu dinheiro.

Esses profissionais irão sobreviver num contexto que caminha para um formato de trabalho horizontal, distribuído, baseado na colaboração, na agilidade da execução e na geração de impacto positivo?

Quando as empresas deixarem de trabalhar em estruturas hierarquizadas, onde esses profissionais irão se esconder?

Concordo muito com o Santiago quando, ao concluir sua reflexão traz o seguinte ponto: “Se você está perseguindo de forma insana o tal do protagonismo, sugiro a você repensar sua busca. De repente você está com o mapa certo, mas correndo na direção errada. Busque ser mais relevante, o protagonismo vai aparecer”.

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