Lendo o futuro — Ou por que essa é hora ideal de repensarmos nossos amanhãs imaginários

Kim Trieweiler
Aerolito
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15 min readMay 25, 2020

Esse texto foi escrito durante a pandemia da COVID-19.
Acho importante começar explicitando isso, situando ele no tempo e no espaço. E como já falei do tempo, também preciso localizar ele no espaço, no caso, o Brasil. São tempos caóticos, de fato. Se vivíamos uma crise política, econômica e social, ter um vírus com grande tempo de incubação e alta transmissão só aumenta a volatilidade já existente. Isso, é claro, criou uma urgência coletiva de entender o que vem a seguir, o que vem depois, “o que acontece quando tudo isso acabar”. E ela é justificável: nunca antes vivemos algo nessa escala. O contexto no qual a pandemia acontece também faz dela única. Não tínhamos internet na gripe espanhola, a possibilidade de trabalho remoto na primeira guerra mundial ou lives na segunda. Não tínhamos como saber as coisas ao vivo, em tempo real, com streaming. Não podíamos ficar vendo o contador de mortes e de infectados. Eu certamente poderia seguir citando exemplos aqui, mas acho que mensagem está dada. Essas coordenadas de tempo e espaço são vitais para você, que vai estar lendo isso no futuro, poder refletir com mais detalhes sobre o que pensei aqui no momento em que eu estava. Elas vão servir também para quando eu venha a revisitar esse texto eu possa atualizá-lo onde ele precisa ser atualizado. A ideia não é datar como limitação, é localizar como recurso metodológico.

Fazendo melhor uso do coletivo

Você já viu. Eu também. Junto com as lives que invadiram nossos telas, brotaram centenas de profecias, previsões e cenários possíveis, incluindo os que eu faço como forma de ganhar a vida, que apresentam possibilidades para um futuro pós-corona vírus. E a necessidade delas também é óbvia, as previsões que fizemos antes precisam ser atualizadas ou, pelo menos, revistas. E por favor, não enxergue esse comentário sobre o volume como uma crítica, é uma observação. Acho que todas elas merecem seu espaço e tem suas razões de serem, que muitas vezes estão intimamente ligadas à quem fez eles¹.

Esse crescimento repentino me fez pensar sobre como nunca antes tivemos tanta gente pensando conscientemente a respeito do futuro. Decidindo, com base nos pressupostos que elas tem sobre que ainda está por vir, o que planejar para a sua carreira. Onde vão morar. Como colocar comida na mesa. Quando vão poder viajar. Enfim, sobre o que vão fazer no dia depois de amanhã de uma forma geral. Não vou aqui apresentar as minhas teses. Pelo menos não hoje, não nesse texto. Se você me permite, vou guardar elas para o horário de expediente². Minha contribuição para esse momento³ vai ser na construção do nosso pensamento sobre o futuro, em como pensamos no que vem a seguir. Juntos e individualmente. Nunca acreditei no mito do previsor de tendências / futurista místico e inalcançável. Uma figura de cera que se desfaz quando exposta à um holofote mais forte do que o que ela controla. Acho que precisamos conversar sobre nossos pressupostos, nossas metodologias e nossas formas de pensar. Quanto mais pessoas de diferentes backgrounds puderem contribuir, melhor.

Por isso, no momento conheci o trabalho do Riel Miller para a Unesco e o termo Futures Literacy, eu fiquei meio obcecado, confesso. Acho que esse é o momento ideal para pensarmos não só em qual é a nossa visão do futuro, mas no como construímos ela. De onde vem a previsão. Então, por um lado, sim, quero falar sobre o futuro. Mas não como eu penso ele, mas das formas, artifícios, mecânicas, recursos e articulações (metodológicas ou não), que nós podemos usar para pensar ele. Minha tese é de que não existe um momento mais oportuno do que esse para repensarmos como pensamos o futuro.

O próprio uso do termo Literacy, que, em português, pode ser traduzido como letramento ou alfabetização é, em si próprio, interessante. Para mim fica evidente o paralelo que pode ser traçado aqui entre o conceito do Futures Literacy e a hipótese de Sapir–Whorf do relativismo linguístico. Ela alega que a linguagem que falamos molda a forma como pensamos o mundo. Ou seja, pessoas que falam uma língua específica, pensam de uma forma específica e, portanto, aprender uma nova língua seria como aprender uma nova forma de pensar. O que, é claro, também teria consequências no nosso comportamento, que também mudaria. Acredito que ao nos tornarmos futures literate, estamos aprendendo uma nova língua. E as línguas, como a gente sabe, são entidades vivas, que mudam, se moldam e evoluem na medida que são faladas. Então, quanto mais gente aprender a falar ela e trazer o seu sotaque e a sua visão de futuro, só temos a ganhar enquanto coletivo.

Aprendendo a falar futuro

E se o futuro, assim como uma linguagem, fosse algo que a gente pudesse ser letrado? É isso que pensa o Riel Miller, renomado estrategista, um dos autores do livro Transforming the Future: Anticipation in the 21st Century e Head of Futures Literacy na Unesco. Ele explica o termo Futures Literacy, como uma capacidade que podemos desenvolver para “usarmos” melhor o futuro. Para Miller, alguém letrado no futuro pode ser definido como “uma pessoa que adquiriu as habilidades necessárias para decidir porquê e como usar a sua imaginação para introduzir o futuro não existente no presente”. Acho que aqui já podemos começar a digerir algumas coisas sobre o Futures Literacy.

  1. Se ele é uma habilidade e também uma capacidade, ele pode ser aprendido, aperfeiçoado e transmitido.
  2. Temos como decidir, de forma consciente, como pensamos o futuro. Isso também implica que muitas das nossas suposições em relação ao futuro são inconscientes.
  3. A imaginação é uma parte fundamental do processo. O que não significa que é um processo de imaginação livre. Por ser um processo ele tem métodos e, por consequência, uma base referencial.
  4. Ao pensarmos o futuro, e sabendo que ele ainda não existe, estamos introduzindo ele no presente.

Se podemos escolher quais as nossas suposições do futuro, também precisamos saber quais são elas, para poder empregá-las no momento mais adequado. Por isso Miller definiu seis Anticipatory Assumptions (AAs), Suposições Antecipatórias, que são uma combinação entre o propósito do uso do futuro, o sistema aonde pensamos que o futuro acontece e os métodos empregados para pensarmos o futuro. E antes de chegar nessas suposições, acho importante explicar os conceitos que as compõem.

O futuro, de forma prática, não pode ser acessado de outra forma que não seja através da nossa antecipação a ele. Ele é elusivo. É impossível estudá-lo diretamente uma vez que sempre que o futuro chega ele se torna o presente. Algo que apesar de óbvio, nem sempre é evidente ou evidenciado. Principalmente quando o futuro enquanto objeto de reflexão se torna tão presente nas nossas cabeças, como se tornou agora. Por isso, é através de processos antecipatórios que utilizam diferentes recursos e partem de diferentes suposições que podemos acessá-lo. Miller explica que existem dois tipos de propósitos antecipatórios: o anticipation-for-the-future, ou AfF, e o anticipation-for-emergence, ou AfE.

AfF — de acordo com Miller, é o uso do futuro que parte de um planejamento e uma preparação. Para isso fazemos uso de processos antecipatórios em sistemas fechados ou semi-fechados. Ele é probabilístico e normativo. Adicionaria aqui nessa definição que ele parte de uma visão Laplaciana, que defende que a realidade é um mecanismo sistêmico como um relógio e que sabendo como se comportam todas as suas engrenagens seria possível sabermos o que acontece a seguir. Quando utilizamos o futuro assim estamos, de uma certa forma, impondo nossa vontade no amanhã. Estamos colonizando o futuro com nossas ideias de hoje. O futuro vira um objetivo a ser atingido.

AfE — aqui o uso do futuro, para Miller, busca “[…] entender o presente com base em sistemas antecipatórios não-determinísticos”. Ele é não probabilístico e não normativo. O futuro deixa de ser um objetivo e se torna um construto que tem um caráter descartável, que não está preso ao que é desejável e nem provável. Esse “entendimento do presente” é importante de ser reforçado aqui. Muitas vezes ficamos cegos pelos sistemas fechados e previsíveis do AfF, que esquecemos que mudanças e inovações partem justamente quando paramos de tentar controlar o futuro. E se o AfF é Laplaciano, o AfE é mais “Lorenziano” como seu efeito borboleta, teoria do caos e a impossibilidade da previsão. Ele pressupõe o nosso universo como uma máquina não-trivial. Ou seja, diferente de uma máquina onde eu coloco A esperando que o resultado seja B, vivemos em uma realidade que é uma máquina onde ao colocar A não consigo prever qual será o resultado final.

Pelle Cass

Esses dois tipos de uso do futuro estão intimamente ligados a duas formas de pensarmos o mundo. De forma determinista (mas não necessariamente reducionista) e indeterminista.

Acho que não preciso nem dizer qual desses sistemas é o mais comum e usado de forma mais recorrente, não é? Mas como vimos, ser futures literate significa saber escolher os sistemas. Sendo assim, não é uma escolha entre uma forma certa e outra forma que seria errada. É um entendimento de que existem fenômenos que podemos entender de forma mais previsível e outros que não são necessariamente reproduzíveis. É saber como combinar o recortes históricos do passado com mudanças não previstas nos sistemas. Significa ser capaz de empreender esforços para entender que o mundo complexo em que vivemos. Para Miller, esses dois sistemas ajudam a compor os tipos de AAs. O primeiro é um sistema Fechado, quando as variáveis são finitas e nós conhecemos elas e seus efeitos, e a segunda é o Semi-Fechado/Semi-Aberto, que aceita o sistema como um que é influenciável por variáveis externas que não controlamos. Quem manja de teoria dos sistemas conhece bem essas classificações.

Não quer dizer que tudo é imprevisível, nem que tudo é previsível. Precisamos conseguir navegar entre essas suposições, lembra? Isso que nos faz futures literate. Como bem colocou o Philip Tetlock em seu livro Superprevisões: a arte e a ciência de antecipar o futuro:

A imprevisibilidade e a previsibilidade coexistem de forma conflituosa nos sistemas inextricavelmente entrelaçados que compõem nosso corpo, nossa sociedade e o cosmos.

E que eu complemento aqui com a definição dada por Edgar Morin sobre complexidade, em Introdução ao Pensamento Complexo:

[…] a complexidade é um tecido (complexus: o que é tecido em conjunto) de constituintes heterogêneos inseparavelmente associados: coloca o paradoxo do uno e do múltiplo. Na segunda abordagem, a complexidade é efetivamente o tecido de acontecimentos, ações, interações, retroações, determinações, acasos, que constituem o nosso mundo fenomenal.

Dessa forma dissociar fenômenos do todo para facilitar o seu entendimento seria uma simplificação preocupante. Seria tirá-lo do tecido daquilo que é o complexo. Não estaríamos empreendendo em relação a complexidade quando usamos apenas um dos sistemas. O que Miller defende é que sejamos capazes de “andarmos em duas pernas”, que sejamos capazes de intercalar entre as formas como usamos o futuro e esses sistemas.

Para dar um pouco mais de concretude pra essa conversa, vou dar o exemplo da moda. Nesse mercado a previsão de tendências serviu durante décadas como um sistema de validação e controle do lançamento de produtos, que eram orientados a partir de feiras de matéria-prima e produto pronto, analisados por bureaus de tendência que indicavam aquilo que iria acontecer com base no que já havia sido lançado e, que por serem acatados pelas empresas de moda, acertavam a suas previsões. A mídia também tem uma importância grande nesse mecanismo, nivelando o desejo das pessoas consumidoras para aquilo que as marcas oferecem e os bureaus anteciparam. No Brasil o fenômeno é ainda mais forte, pois por estarmos “uma temporada atrás” (atrás de quem?) as tendências são importadas do hemisfério norte, principalmente dos países Europeus e do Estados Unidos. Um sistema que é claramente AfF e Fechado, e que começa a desmoronar quando seus mecanismos param de funcionar. Recentemente a Vogue Business lançou uma notícia com o seguinte título “Trend forecasters predict a more trendless future”, considerando as consequências da pandemia. É claro que teremos menos tendências, sem feiras e com menos dados de consumo a colonização do futuro com base no passado e no presente para de acontecer. Vale ressaltar que, enquanto uma parte do mercado tradicional encontra dificuldade em atuar fora do AfF, temos inúmeros exemplos de marcas que estão repensando as lógicas mais básicas, como a da concorrência ou mesmo a de produtos, para atuar em um modelo mais AfE.

Voltando à Futures Literacy, o Miller cruza essas duas definições que acabamos de ver, AfF e AfE e sistemas fechados e semi-fechados/semi-abertos, que tem uma relação com o nosso uso do futuro e os sistemas onde pensamos eles, com dois outros grandes guarda-chuvas de métodos o GS e o SU.

GS significa General-Scalable — Geral-Escalável — são métodos que afirmam a repetição dos fenômenos. Tem relação com estatística, denominadores comuns, universalidades e repetição.

SU é a sigla de Specific-Unique — Específico-Único — são métodos em que a repetição não é reconhecida. Aqui ela não é o foco. Inovação, efemeralidade, espontaneidade, improvisação e diferença são keywords desses métodos.

E agora que conhecemos os elementos que compõem as AAs, a gente junta todas as peças. Então, temos a nossa forma de usar o futuro (o anticipation-for-the-future e o anticipation-for-emergence) que é o propósito. Temos também o sistema aonde pensamos que o futuro opera, que pode ser Fechado ou Semi-Aberto. Por fim temos os métodos através dos quais nós analisamos o futuro, que são o General-Scalable ou o Specific-Unique. É na intersecção entre o propósito, o sistema e o método que chegamos nas AAs que comentei antes e vou apresentar a seguir.

Miller desenvolveu esse framework para evidenciar as 6 AAs nos laboratórios de Futures Literacy desenvolvidos pela Unesco em diversos países do mundo.

Essas suposições antecipatórias são as estruturas específicas com as quais pensamos o futuros. São, talvez, a lente que escolhemos para ver o futuro. Indo para além da analogia da visão, quem sabe já meio batida, também podemos pensar que elas são os elementos mais básicos dessa linguagem do indivíduo letrado no futuro. São ao todo seis AAs, divididas de acordo com confluência dos conceitos que as compõem.

Abaixo vou descrevê-los brevemente, pois a minha intenção é de, eventualmente, produzir um texto para cada um dos seis.
Ou talvez um texto para cada grupo deles, veremos.

Dentro de AfF temos quatro suposições antecipatórias:

AA1 = AfF + GS + Sistema Fechado
‘Previsão’. Imaginação determinística totalizadora. Fazer. Colonizar o amanhã. É a apólice de seguro do amanhã. Normalmente são modelos que pressupõem que o passado deve se repetir no futuro.
Lembra da moda?

AA2 = AfF + SU + Sistema Fechado
‘Destino’. Fazer. Atrofia da Imaginação. Fatalismo. As pessoas que utilizam esses pressupostos costumam ter assimilado previsões fatalistas e futuros já pré-determinamos.

AA3 = AfF +GS + Semi-Fechado/Semi-Aberto
‘Reforma Criativa’. Imaginação criativa determinística. Fazer. Aqui a criatividade é empregada em formas de usar o futuro que são AfF, com o futuro como um objetivo a ser alcançado. Boa parte dos processos de inovação das empresas e a busca por novas soluções para problemas antigos se enquadra aqui.

AA4 = AfF + SU+ Semi-Fechado/Semi-Aberto
‘Auto-aperfeiçoamento’. Imaginação adaptativa introspectiva. A diferença desse essa e a AA3 pode parecer sútil, mas é crucial. Enquanto a anterior está focada em fenômenos reproduzíveis, esse dá mais importância para aqueles que são efêmeros, únicos e não previsíveis. Ele aprecia mais o processo criativo das possibilidades geradas, mas ainda coloca no futuro um alvo a ser atingido.

Já as AAs de AfE são duas:

AA5 = AfE +GS + Semi-Fechado/Semi-Aberto
‘Pensamento Estratégico’. Combina o fazer e o não fazer relacionado ao processo imaginativo dos métodos gerais-escaláveis. O uso do futuro, evidentemente, muda aqui. A partir do AA5 temos o futuro sendo usado para, de acordo com Miller, “sentir e criar sentidos no presente”. Já que por aqui não necessariamente temos a repetição, temos outras formas de identificação de padrões operando dentro daquilo que é novo.

AA6 = AfE + SU + Semi-Fechado/Semi-Aberto
Sabedoria-Tao-Ser’. Combina o fazer e o não fazer relacionado ao processo imaginativo dos métodos específicos-únicos. O foco é naquilo que é local e específico, portanto, único.

Ao final, temos seis suposições que podemos escolher quando, como e por qual motivo usar. Elas são, pra mim, um convite à tomada de consciência.
Um chamado para pensarmos durante um instante em como chegamos nas nossas conclusões e também como essas imagens que fabricamos sobre o futuro, abstratas e fantasiosas, afetam nossa forma de agir no mundo real e concreto.
É essa pausa para pensarmos como construímos, de forma inconsciente, diversos pressupostos que orientam nossas forma de entender o mundo ontem, hoje e amanhã.

Como será que eu uso o futuro? Esse uso é para o futuro(AfF) ou para a emergência(AfE)?

Será que eu consigo identificar quando estou usando algum AA específico?

As previsões que vi em relação ao fim da pandemia se encaixam aonde? Quem fez ela pensa como? Como eu reflito em cima dessas considerações?

Aprendemos a usar o futuro assim como uma criança aprende a falar uma língua, espontaneamente e sem muito controle. O ponto sobre Futures Literacy é que, além de podermos nos letrar nela, nosso próprio uso vai começar a moldar ela enquanto uma língua. Infelizmente ainda tem pouca gente “falando futuro”, mas acho que esse momento que estamos vivendo pode ser o ponto de virada.

Dando e encontrando sentido

E se a importância e a razão de exercitarmos essa capacidade ainda não está muito clara, acho que cabe aqui abrir um espaço para endereçar isso de forma bem direta.

O motivo clássico para pensarmos o futuro você já deve conhecer e, ao longo desse texto, eu falei dele também. É pensar no futuro para planejarmos e moldarmos ele à nossa vontade. Fazer do futuro um fim para que consigamos chegar nele através de diferentes meios. E já que falamos de pressupostos, na minha visão, muitas vezes, quem pensa assim pressupõe que temos total controle sobre o hoje e, por conta disso, também do amanhã. Mas será que temos, realmente?

Tem também o motivo menos óbvio, mas talvez mais pertinente.
O futurista Thomas Frey elucida muito bem ele com a seguinte frase:

[…] ao mudarmos a visão de alguma pessoa sobre o futuro, nós também mudamos a forma como ela toma suas decisões hoje.

Logo, não é só como nós agimos hoje que muda o futuro, o que é uma relação causal bem simples, mas a forma como nós imaginamos que o futuro vai ser molda como agimos hoje. É o futuro imaginado impactando o presente concreto. Ou, usando termos do Miller, a forma como antecipamos o futuro é que molda as nossas decisões hoje.

Em um post recente na página da Singularity University eles citaram o investidor e fundador iStockphoto, Patrick Lor:

“It’s an entrepreneur's job to be a Futurist. Not just to think about the future of their sector or their company. No one operates in a vacuum.”

Me dou o direito de ir além. Acho que é o papel de todos nós sermos capazes de pensar sobre o futuro. Sendo um empreendedor ou não. Como um futurista ou não. Afinal, como ele bem colocou, não vivemos no vácuo. Da mesma forma como os outros impactam a nossa vida, nossa existência, nossas ações e nossos pensamentos também impactam o resto do universo.
Fazemos parte do tecido da complexidade.

Pensar o futuro não precisa ser apenas um meio de planejar e construir o amanhã. Pode ser uma forma de achar sentidos ou dar sentidos para o hoje.

E se tem uma coisa que o hoje precisa, é fazer um pouco mais de sentido. Talvez, se o esforço for coletivo, a gente consiga.

Zack Dougherty

¹ Acho que esse tema dá um texto bem interessante e que dialoga com o que eu escrevi aqui. Não podemos também cair na fábula de que somos um observador externo. Neutro ao que observamos. Impassíveis. Não somos. Temos skin in the game. A relação sujeito x objeto tem mais camadas do que a gente costuma pensar. Talvez ele seja o próximo.

² Se você não me conhece e caiu nesse texto, acho que vale uma breve intro. Trabalho com Futures Studies já faz uns 8 anos, inicialmente na "escola" do Trend Forecasting e, mais recentemente, com Futurismo. Agora, se era uma tese sobre a COVID-19 que você estava buscando, recomendo o curso da Aerolito O que vem depois da Pandemia. Ele é conduzido pelo Tiago Mattos, com participação do Igor Oliveira, da Simone Gasperini e mais uma penca de gente competente e do bem. Tem meu dedo lá e, modéstia a parte, tá bem legal.

³ Acho que a minha contribuição continua válida em tempos pós-pandemia, da mesma forma como ela seria em tempos pré-pandemia. Mas a localização dela no tempo e espaço a torna mais necessária e, espero, útil.

⁴ Se você acha esse tema interessante, eu recomendo esse TED aqui, da cientista cognitiva Lera Boroditsky.

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Kim Trieweiler
Aerolito

pesquisador de futures studies e mais algumas coisas