O Futuro da Alimentação

Um olhar sobre tecnologias emergentes e seu impacto na forma como produzimos, armazenamos e consumimos alimentos. Uma hipótese, entre muitas possíveis, em relação ao tema.

Aerolito
Aerolito
6 min readJun 4, 2019

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Recentemente fizemos uma imersão para aprofundar nosso olhar em relação ao futuro da alimentação. Através de uma metodologia autoral — as três ondas de impacto — nos debruçamos sobre centenas de tecnologias emergentes, startups e iniciativas para capturar sinais e, com isso, projetar possíveis cenários.

Para a Aerolito, o futuro é transversal.

Essa forma de encarar o futuro é muito diferente do que vemos no mercado.

Empresas que possuem áreas de inovação.

Empresas que colocam a “transformação digital” sob a responsabilidade do CTO.

Empresas que só estão alertas para o movimento de empresas semelhantes.

Essas atitudes tornam míope a visão sobre de onde vai vir o movimento que tornará obsoletos seus produtos e serviços.

Dessa forma, sempre que analisamos algum uso de tecnologia, nos questionamos:

“Tá… e qual vai ser o impacto transversal?”

Nesse texto trazemos 5 cases para explorar de maneira não óbvia o segmento de alimentação, complementando o conteúdo com o que acreditamos serem boas perguntas. Criar uma lente de futuro depende, mais do que nunca, da nossa capacidade de questionar pontos que estão além da superfície.

1. Silo

Cerca de 33% de toda comida produzida é desperdiçada, ou seja: 1,6 bilhões de toneladas de alimentos todo ano. Segundo um report feito pelo Boston Consulting Group (BCG), a estimativa do desperdício chegará a 2,1 bilhões de toneladas em 2030, o equivalente a US$ 1,5 trilhões.

Recipientes inteligentes capazes de manter os alimentos frescos de 2 a 5 vezes mais através da sucção do ar. Ele inclui a Alexa embutida em seu sistema, registrando na nuvem o alimento guardado, o que torna possível rastrear quais alimentos a pessoa tem guardado, quantidades e estados em que se encontram, tornando mais simples o gerenciamento e dificultando o desperdício.

A empresa arrecadou mais de US$ 1,4 milhões com o apoio de mais de 5 mil apoiadores. A data estimada para o começo da distribuição dos produtos é em julho de 2019.

A partir de possíveis mudanças introduzidas por essas tecnologias e também por outras, haverá uma expansão dos modelos de recorrência/assinatura dentro do mercado como um todo ou somente em alguns nichos?

Se o modelo de recorrência for adotado, quais empresas sairão na frente? Aquelas que possuem a tecnologia de ponta ou um sistema de distribuição mais eficiente?

Com embalagens inteligentes, poderíamos estocar alimentos pedidos por delivery ou “para viagem” por mais tempo. Isso afetaria o nosso próximo pedido. Restaurantes e redes de fast-food estão considerando esse cenário?

2. NuFood

Impressora 3D destinada a criar explosões de sabores em forma, cor e textura, personalizados para acompanhar qualquer refeição ou bebida de acordo com os gostos individuais de quem irá consumir.

O design pode ser feito através do aplicativo e o resultado servido com saladas, bebidas, iogurte, etc. Até abril de 2019, o produto ainda estava em pré-venda.

É possível que pessoas que apostam nessa tecnologia dentro do setor sofram preconceito, partindo de quem consome, que ainda enxerga a cozinha como uma atividade exclusivamente humana.

Por outro lado, projetos como esse não poderiam estimular a participação humana na cozinha? A impressão 3D não poderia ser considerada uma nova categoria dentro dessa “arte” , que é considerada a gastronomia?

Essa tecnologia não poderia, por exemplo, chegar em locais remotos com poucas condições de agricultura e facilitar o acesso?

3. Square Roots

A agricultura industrial é uma prática pouco sustentável da civilização moderna. Herbicidas e inseticidas comumente usados têm sido associados ao envenenamento agudo e a doenças crônicas de longo prazo. A poluição da água causada pelo escoamento de fertilizantes contamina os suprimentos de água potável chegando a custar anualmente quase US$ 2 bilhões.

Startup de agricultura fundada por Kimbal Musk (sim, o irmão do Elon Musk) e Tobias Peggs, que desenvolveu uma forma de cultivar plantações no meio do Brooklyn, em Nova Iorque.

A instalação consiste em fazendas modulares conectadas à nuvem que utilizam um sistema de cultivo hidropônico e são construídas dentro de containers de transporte reformados. Dependendo das condições, cada container consegue produzir mais de 20kg de folhas por semana utilizando apenas 8 galões de água por dia.

Qual é o impacto nos supermercados/feiras/mercearias se as pessoas cultivarem parte de seus alimentos?

Como toda a cadeia de suprimentos reagiria?

Novas formas de cultivo podem ser uma das respostas a falta de recursos e a fome crônica?

4. Tropic Biosciences

Desde a descoberta do CRISPR, ferramenta de edição genética, um novo segmento surgiu: alimentos com gene editado.

Essa empresa inglesa fundada em 2016 utiliza tecnologia de edição genética, incluindo o CRISPR, para desenvolver alimentos de cultura tropical de alto desempenho.

Um de seus principais desenvolvimentos foi a criação de bananas resistentes a um fungo particular responsável por devastar mais de 30% das plantações na Ásia e na Austrália. Além disso, a empresa produz café sem cafeína: ao ‘desligar’ o gene da cafeína — sem precisar passar por extensos processos industriais que envolvem químicos e calor para retirar a cafeína.

Como essa tecnologia pode massificar o consumo de alimentos saudáveis?

Qual o impacto na indústria dos produtos fitofarmacêuticos?

5. Atlas Bio Med

Os últimos anos foram marcados por uma ampliação de possibilidades no mercado mundial de testes genéticos.

Comprando um kit do teste e enviando a sua saliva para o laboratório é possível receber uma enorme quantidade de informações a respeito da sua saúde, de riscos à determinadas doenças e a ancestralidade genética. Segundo uma estimativa do MIT, 26 milhões de pessoas já realizaram e em torno de 100 milhões a mais ainda irão fazer nos próximos dois anos.

Já pensando no próximo passo, surge a Atlas Bio Med que, além de oferecer o teste de DNA, possui o teste de microbioma do intestino. Já conhecido como o "segundo cérebro" por muitos profissionais, através de um diagnóstico da saúde intestinal é possível prescrever uma nova dieta focada em prevenção de doenças, otimização das sínteses de proteína, recomendação de alimentos de forma personalizada e determinação de probióticos e bactérias benéficas.

Com testes como esse disponíveis, como a nossa relação com a comida se altera? Mudamos a forma de fazer compras, de frequentar restaurantes, de cozinhar?

Se recebemos recomendações personalizadas de acordo com o nosso microbioma, ainda precisaríamos frequentar nutricionistas e nutrólogos?

Será que em alguns anos os médicos irão solicitar testes como esse antes da consulta, como é feito com exames de sangue, por exemplo?

Se existem tecnologias que permitem que as pessoas se alimentem melhor, de forma mais barata e com menos interferência de intermediários:

Como o mercado de alimentação está se preparando para isso?

As empresas que produzem alimentos estão desenvolvendo seus produtos com base em comportamentos de consumo?

Se a forma de consumo e os produtos consumidos mudam, toda a cadeia tem impacto. Os mercados de sementes, das máquinas agrícolas, de combustível, de transporte, de seguros, de crédito, de embalagens, não são também modificados?

“Quem não pensa sobre o futuro resolve os problemas do presente com as ferramentas do passado”. — Tiago Mattos

As tecnologias permeiam diversos mercados e, muitas vezes, isso acontece de forma pouco evidente. Esse artigo foi uma pequena amostra do que temos pesquisado (e refletido).

Nos conta o que achou e que outros temas gostaria de ver abordados aqui.

Todo o conteúdo apresentado faz parte do OLI, nosso ecossistema de multi aprendizagem digital via assinatura — por enquanto disponível apenas para ex-participantes dos cursos Tomorrow, Friends of Tomorrow Presencial e Online e FoT Conference.

A Aerolito é um laboratório de exploração de cenários futuros. Ajudamos pessoas e empresas a absorver os conceitos de um contexto pós-digital.

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