O Futuro da Inteligência Coletiva

Texto originalmente publicado em 29/10/2018 no Linkedin de Simone Gasperin.

Aerolito
Aerolito

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Em 2009, através de um post, Tim Gowers, professor de Matemática na Universidade de Cambridge, convocou pessoas do mundo todo a colaborarem na resolução de um teorema.

Vários matemáticos, alguns famosos inclusive, se engajaram e, poucos meses depois, o problema estava resolvido.

No mesmo ano, o grupo submetia à crítica o primeiro de vários artigos descrevendo seus resultados.*

Quase dez anos depois desse experimento, ainda vemos a inteligência coletiva sendo subutilizada. No ambiente corporativo, apesar de discursos que exaltam a colaboratividade, a horizontalidade e a distribuição dos times, o que se vê na prática muitas vezes são empresas engessadas, hierarquizadas. Algumas, inclusive, marcadas pelo medo e por uma dominação nas conversas.

Na minha área, a comunicação, muitas estruturas ainda são baseadas em vozes dominantes. Talvez, se não fosse dessa forma, não teríamos números tão altos de assédio como os trazidos pela pesquisa do Grupo de Planejamento chamada Hostilidade, silêncio e omissão: o retrato do assédio no mercado de comunicação de São Paulo”.

Não entrarei aqui nas questões criminais, éticas e morais envolvidas no resultado da pesquisa. Tampouco vou falar sobre a evidente perda de talentos e das consequências físicas e psicológicas que esse tipo de ambiente traz para os profissionais.

Meu ponto aqui é, num momento crucial de mudanças, em que todos os negócios precisam se adequar a um novo mindset, o quanto dirigentes que permitem ambientes de trabalho hostis, com pouco espaço para a colaboração e onde algumas poucas vozes são ouvidas, estão, eles próprios, matando seu negócio.

Isso porque a inteligência coletiva tem um papel fundamental na inovação.

Thomas Malone, professor do MIT já mostrou que uma das 3 características fundamentais de times inovadores é justamente não haver dominância nas conversas.

Ou seja, todos os membros de times que buscam a inovação deveriam tanto escutar como ter a oportunidade de expor suas ideias e opiniões. Recentemente ouvi Jean Rosier, um dos sócios da Perestroika e especialista em processos criativos falando justamente sobre temas como a presença ativa e a escuta empática. Tratam-se de premissas importantíssimas para permitir a conexão e destravar a criatividade.

Já passei pela situação de, mesmo numa posição de liderança, não ser ouvida em determinadas ocasiões. Além de frustração pessoal, claramente esse tipo de fato causa rupturas na dinâmica do time. E enquanto diversas indústrias e mercados seguem atrasadas em relação à inteligência coletiva, buscando a inovação somente nas ferramentas e não olhando para as pessoas, o futuro se aproxima e, com ele, mudanças cada vez mais rápidas.

O desafio com os quais lidaremos em breve não envolverão somente grupos de pessoas.

O mesmo professor Thomas Malone, no seu novo livro Superminds*, lançado esse ano, traz o seguinte questionamento: “Como pessoas e computadores podem ser conectados de forma que — coletivamente — ajam de forma mais inteligente do que qualquer pessoa, grupo ou computador já fez antes?”

Outra autoridade no assunto, Terrence Sejnowski — neurocientista computacional do Instituto Salk de Estudos Biológicos, pioneiro no estudo de algoritmos de aprendizagem e autor de The Deep Learning Revolution — diz que visões distorcidas sobre a inteligência artificial ignoram as possibilidades e as evoluções que podem acontecer quando a inteligência artificial encontra a inteligência humana nos campos da ciência da computação e da neurociência.

Na estrutura da Aerolito buscamos sempre respeitar as individualidades, abraçar a multidisciplinaridade do grupo, dando voz a todos para encontrar as melhores soluções. Claro que na prática não é tão fácil. Muitas vezes decisões top-down seriam mais simples e rápidas. Mas trabalhar usando o potencial da inteligência coletiva é algo que perseguimos continuamente e que, inclusive, levamos como provocação para as empresas com as quais trabalhamos.

Aos líderes, ficam algumas perguntas:

Você está utilizando a inteligência do seu grupo?

Você está construindo um ambiente favorável à colaboração?

E por fim, você de fato está ouvindo o que as pessoas da sua organização tem a dizer?

Referência:

* Superminds: The Surprising Power of People and Computers Thinking Together — Thomas W. Malone. https://amzn.to/2uaJGSW

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