O Futuro do Entretenimento

Possíveis cenários futuros no universo do entretenimento e o impacto das tecnologias como ferramenta de mudança de paradigmas

Aerolito
Aerolito
8 min readJun 11, 2019

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Na semana passada demos início a uma série de publicações elaborando hipóteses e reflexões sobre cenários futuros em diferentes segmentos. A nossa primeira publicação foi sobre o futuro da alimentação.

Frequentemente nos deparamos com profissionais e líderes de mercado com dificuldades em absorver conceitos dos contextos digital e pós-digital. A preocupação com resultados de curto prazo, a visão linear, unidimensional e a falta de uma postura de aprendiz, não permitem que se desenvolvam novas lentes, necessárias para compreender e se preparar para o futuro.

Para nós, é importante entendermos o impacto da tecnologia de forma transversal.

Nesse texto abordamos algumas hipóteses para o Futuro do Entretenimento.

De modo geral, temos a percepção de que por ser uma área muito humana, que demanda criatividade e talento, está mais blindada à substituição por processos automatizados. Mas até onde essa crença é verdadeira?

Quais experiências temos hoje e quais teremos no futuro? Inteligência Artificial, hologramas e algoritmos podem nos ajudar a entender melhor como esse universo vem tomando forma. O avanço tecnológico permite novas formas de se conectar com o público, ampliando o repertório sensorial e audiovisual de formas que antes não eram possíveis.

Abaixo selecionamos 5 cases que podem nos ajudar a entender o que está por vir.

1. Produção musical em parceria com algoritmos

Em 2018 a artista Taryn Southern lançou o seu novo álbum em colaboração com uma inteligência artificial. Usando plataformas como Ampar e Watson a cantora foi capaz de criar melodias que inspiraram a sua composição e então se tornaram músicas.

Ela, que entende pouco de instrumentos em geral, ao invés de se juntar a um time de músicos para compor uma melodia, uniu uma equipe de programadores e desenvolveu ferramentas para fazer composições de acordo com o seu gosto.

Qual o próximo passo?

No início desse ano a Warner Music assinou o primeiro contrato musical com um algoritmo. O responsável foi o software alemão, Endel, desenvolvido para criar músicas personalizadas para atividades como foco ou relaxamento. Ele coleta dados de localização, horário e clima local da pessoa para criar os sons. Ainda que o resultado não seja música no sentido mais tradicional, a tecnologia promove um novo gênero que tem sido cada vez mais acessado em plataformas de streaming nos últimos anos.

No futuro, podemos imaginar que vamos pedir à Alexa um “som para cozinhar em um dia frio” ou “música animada para quem acabou de terminar o namoro” e vamos receber músicas programadas em tempo real.

Existirão preconceitos em relação a músicas feitas por algoritmos ou seremos indiferentes à essa informação?

As músicas concebidas por artistas serão mais ou menos valorizadas?

Se as músicas refletem os cenários políticos, culturais e comportamentais de uma época, onde os algoritmos vão buscar essas inspirações? Em redes sociais, nas bases de dados públicas, nos portais de conteúdo?

Existirão eventos musicais, como Rock in Rio ou Coachella, somente com algoritmos?

Qual será a nova metodologia de avaliação nos eventos de premiação da indústria da música? Os algoritmos poderão concorrer? Ou serão seus desenvolvedores?

Como ficam os valores de contrato com as gravadoras?

2. Circus Roncalli: uma nova forma de espetáculo

Esse circo alemão criou o primeiro show de circo holográfico do mundo — onde nenhum animal é prejudicado, eliminando as práticas frequentemente criticadas de utilizar animais treinados durante seus shows. As projeções feitas por hologramas 3D e criam um novo formato de show.

A ideia é que o público possa ter a mesma sensação de admiração ao ver animais exóticos em um espetáculo de circo tradicional, mas sendo eles apenas hologramas, sem o risco de haver quaisquer tipos de maus tratos.

Com o crescente conhecimento do público sobre as crueldades dos animais por trás da vida nos circos, muitos governos estão proibindo o seu funcionamento — o que poderia significar que esses espetáculos holográficos são o circo do futuro.

Se os circos forem projetos em holografia, faz sentido nos deslocarmos até as instalações físicas? Headsets e plataformas de Realidade Aumentada, Virtual e Mista podem tomar parte desse espaço.

Utilizando Realidade Mista, será que a experiência do circo pode ser híbrida, envolvendo o elenco e a platéia?

Quais serão as novas profissões que vão surgir dentro desse contexto? Como diretores e diretoras de cena híbridos e designer de experiências híbridas.

3. Vídeos realistas através de imagens

Pesquisadores em Moscou conseguiram treinar um programa baseado em redes neurais para criar vídeos realistas de rostos de pessoas através de poucas imagens.

A ideia em si não é tão recente. Pesquisadores da Universidade de Washington já haviam criado um vídeo simulando um discurso do Obama utilizando redes neurais, enquanto um outro grupo de cientistas já havia desenvolvido em 2016 o projeto Face2Face, também para capturar movimentos de um rosto e inserir em outro, simulando discursos que nunca feitos.

A inovação tecnológica da vez está na mínima quantidade de informação que a máquina precisa para gerar os vídeos, como por exemplo animando em diversos ângulos a Monalisa e Salvador Dalí.

Ao mesmo tempo que facilidade para criar esse vídeos em tempos de fake news possa ser assustadora, pode também representar uma grande revolução na indústria das animações e efeitos especiais. Com poucas imagens de um desenho animado por exemplo, seria possível criar um frame inteiro.

Ainda nesta semana foi divulgado uma última inovação criada por cientistas da Universidade de Stanford que possibilita que os usuários editem a transcrição de texto de um vídeo para adicionar, excluir ou alterar as palavras que saem diretamente da boca de alguém. Ainda que a tecnologia não seja perfeita, a projeção é que com o tempo ela se torne cada vez mais realista.

Como essa tecnologia pode afetar por exemplo a profissão dos atores e atrizes no futuro? Eles continuarão necessários ou será possível programar a sua performance apenas através de fotos e editar suas falas através de vídeos?

Como será a forma de remuneração de quem atua nos filmes? Qualquer pessoa poderá estrelar uma campanha, documentário ou filme?

Será possível fazer filmes ou shows inteiros com pessoas que já faleceram?

Uma vez que um softwares como esses se tornem acessíveis a todos, como separar o que é real do que foi programado? Haverá uma legislação para evitar fraudes e fake news?

Qual será o impacto em toda cadeia da indústria de vídeos? Com menos captação há menos necessidade de equipamentos, por exemplo.

4. Edição de vídeo em tempo real

O mercado de transmissões ao vivo teve um crescimento explosivo na China nos últimos anos, estimado em US $ 4,4 bilhões em 2018, com até 456 milhões de espectadores, de acordo com um relatório da Deloitte. Ainda, em junho do ano passado, a porcentagem de tempo gasto em aplicativos de mensagens entre usuários diminuiu de 36% para 30,2% em comparação ao ano anterior, enquanto em aplicativos de vídeo curtos subiu de 2 para 8,8%, segundo dados da QuestMobile.

A startup chinesa SenseTime especializada em reconhecimento facial e visão computacional através de inteligência artificial e conhecida por fornecer software de vigilância para a polícia da China, decidiu entrar para o mercado de vídeos live streaming.

A empresa criou um filtro que através da inteligência artificial é capaz de editar vídeos transmitidos ao vivo enquanto eles são feitos. A função foi desenvolvida especificamente para editar pessoas. O filtro identifica diferentes partes do corpo e do rosto do usuário e os edita automaticamente para modificar a sua aparência, sem distorcer o fundo.

Qual é o impacto nos trabalhos de edição, caso as alterações consigam ser feitas em tempo real de fato?

Durante o streaming de um evento, poderemos ter somente uma pessoa atuando de verdade e várias reproduções estéticas diferentes? As reproduções podem ser feitas de acordo com região, idade, idioma e outras características.

Como essa tecnologia impacta a indústria de influencers?

Na França, há uma lei em vigor desde outubro de 2017 que determina a inserção de uma tarja, com a mensagem “Photographie reouchée”, em qualquer foto usada em um contexto comercial ou publicitário, caso os corpos dos modelos tenham sofrido qualquer tipo de alteração feita por softwares de edição. Poderia ser essa uma solução viável para reduzir os impactos psicológicos de assistir um conteúdo editado? Isso afetaria a adoção da tecnologia em alguns países? Será que ela seria utilizada apenas fora do contexto comercial, por exemplo?

Disclaimer: Não acreditamos em qualquer tipo de padronização da beleza. Também entendemos que as tecnologias captam vieses do próprio criador ou de um histórico comportamental das pessoas. Por isso, não consideramos essa a melhor aplicação para a tecnologia.

5. Animação hiper-realista produzida em tempo real

Com inovações tecnológicas surgindo em velocidades impressionantes, o uncanny valley — quando réplicas parecidas, mas não perfeitas, de humanos são gerados através da robótica e computação gráfica, e nos causam estranheza — tem se tornado cada vez mais raso.

Esse foi o caso da parceria entre as empresas Cubic Motion, 3Lateral, Vicon and Tencent, responsáveis pelo desenvolvimento da Siren, uma animação hiper-realista de rosto e corpo produzida em tempo real.

A tecnologia desenvolvida permite a captura de movimentos com ênfase na animação facial de uma pessoa, e a transforma em um avatar de altíssima qualidade em poucos segundos. A inovação tem a capacidade de transformar o mercado audiovisual de games e animações.

Será que precisamos estar fisicamente nos ambientes para termos uma experiência muito próxima de alguém que admiramos?

Se não estamos fisicamente nos lugares, qual será o impacto na área de consumo dentro do entretenimento?

O quanto as plataformas de streaming, seja de vídeos tradicionais ou realidade virtual vão crescer, caso essa tecnologia seja aderida massivamente?

Quando falamos em tecnologia transversal — e esse é um mantra dentro da Aerolito — procuramos ultrapassar os limites de cada segmento para entender movimentos mais amplos.

Se as sugestões do Netflix e a timeline do Facebook são diferentes para cada usuário, porque, muito em breve, não poderemos ter filmes e músicas produzidas exclusivamente para cada um de nós por algoritmos? E roupas? E casas?

Com isso, estaremos cada vez mais conectados ou mais separados?

Se a indústria do entretenimento se torna mais automatizada, surge uma nova indústria dedicada apenas à arte produzida por humanos? Mas se tiramos o peso de produzir entretenimento rentável, pois as máquinas farão isso por nós, não ficamos mais livres para criar de acordo com a nossa própria expressão?

A tecnologia é transversal, mas é importante exercitarmos os tipos de desdobramentos comportamentais que podem se dar a partir dela.

Nos conta que outros temas gostaria de ver abordados por aqui.

Todo o conteúdo apresentado faz parte do OLI, nosso ecossistema de multi aprendizagem digital via assinatura — por enquanto disponível apenas para ex-participantes dos cursos Tomorrow, Friends of Tomorrow Presencial e Online e FoT Conference.

A Aerolito é um laboratório de exploração de cenários futuros. Ajudamos pessoas e empresas a absorver os conceitos de um contexto pós-digital.

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