#2 — Da repressão ao diálogo

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2 min readMay 25, 2020

Invisibilidade da cultura negra

Por Ana Luíza Cardoso e Laura Marina Remesso

Foto: Reprodução

O pai de santo Diih D’Obaluaê conhece a intolerância de perto. Há quatro anos como líder de um terreiro de Umbanda, precisou ser resiliente quando sofreu ataques por simplesmente levar adiante suas doutrinas. Enquanto estava tocando a gira (o culto umbandista), vizinhos saiam na rua gritando para que ele parasse e atiravam pedras na casa. Por conta desses e outros episódios de incompreensão com a religião seguida por ele, Diih mudou-se para um lugar mais isolado e precisou restringir o público que comparecia a sua casa.

Desde pequeno em contato com a Umbanda, ele se diz realizado pela escolha que fez, aos 18 anos, de se batizar. “Toda casa de Umbanda está de portas-abertas, independente de quem você é. Busque conhecer, principalmente para quebrar seus preconceitos. Quando pisar a primeira vez, tenha medo de se apaixonar”, ressaltou o líder com emoção.

A Umbanda é uma religião afro-brasileira que nasceu no sudeste do Brasil e cultua entidades, como Caboclo e Preto Velho, mas também dá espaço aos Orixás. Fundada pelo médium Zélio Fernandino de Morais, nasceu da não aceitação de alguns espíritos e entidades por outras religiões. No Kardecismo, por exemplo, estes eram vistos como seres sem luz e atrasados, sendo rejeitados. Mesmo assim, não deixou de existir a necessidade desses seres terem a liberdade de fazer suas caridades e, por isso, foi fundada a Umbanda.

Na época em que surgiram, momento em que tanto a Umbanda quanto o Candomblé começaram a criar força através dos escravos, os rituais umbandistas eram realizados em sigilo — nos terreiros afastados. Isso porque as crenças, culturas e demais características do povo negro eram muito rejeitadas pelos Senhores das Fazendas. Dessa forma, a nomenclatura se solidificou e o termo terreiro foi adotado até os dias de hoje para se referir aos templos umbandistas.

Com relação a intolerância, Diih afirma que ela se mostra de diversas formas. Diz que é difícil personificar a religião, ou seja, andar com guias, turbantes. As pessoas olham com um olhar atravessado, julgam. Pessoas da própria família se afastam e deixam de visitar a casa. Para ele, a chave para combater esse mal é o respeito. “Eu acredito que as religiões devem se abraçar de alguma maneira. Diferenças vão existir, é óbvio. Meu caboclo já diz: Deus é Deus e ele criou tudo. Dentre essas criações, ele criou o ser humano e nós criamos a forma de cultuar. Não foi Ele. Ou seja, cada um vai se sentir preenchido por algo e nós temos que respeitar isso”, finalizou ele.

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