Demonstrar afeto e se relacionar de forma Não Monogâmica

Nem toda demonstração de afeto é controle, mas pode ser

Ana Paula Fernandes
Afetos Insurgentes
3 min readDec 23, 2020

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Arte de Marie Boiseau

No texto Status de relacionamento do Facebook, do Blog Relationship Anarchy, Kale Chan, a autora, diz:

Para mim, independentemente das mudanças que o Facebook faça, o status do relacionamento está se apegando a uma norma monogâmica da qual não quero mais fazer parte.

Não importa como você defina seu status, alguém sempre será deixado de fora. Quem você inclui?

A pessoa A é aquela com a qual estou me conectando profundamente em um nível emocional, mas a pessoa B é com quem estou passando mais tempo. Depois, há a pessoa C, por quem sou louco, mas não dormimos juntos.

Já que não concordo com a ideia de que o sexo torna um relacionamento mais importante do que outro, isso não influencia quem são minhas Pessoas Importantes. Além disso, os relacionamentos em minha vida estão sempre mudando, e o que eles significam para mim também está mudando.

Se eu vincular alguém ao meu perfil e, alguns meses depois, perceber que não estou vendo essa pessoa com frequência, devo retirá-la?

Mesmo se eu conectasse cinco, vinte, cinquenta pessoas, alguém poderia se sentir excluído. Onde isso para? Assim que vincular alguém, estou separando-o de todos os outros.

(tradução Google)

Acho que esse texto é uma ótima reflexão sobre essa forma de demonstrar afeto, que na verdade está muito mais para uma forma de controle.

Mas ao mesmo tempo eu tenho uma outra reflexão importante sobre demonstração de afeto, dentro e fora das redes sociais.

Eu passei por uma fase de negar qualquer demonstração de afeto quando comecei a me relacionar de forma anárquica e consequentemente desromantizar o amor.

Em 2018 vi um vídeo que fala de como é violenta a negação de afetividade para com as pessoas trans, e de como a demonstração afetiva é empoderadora.

Com esse vídeo percebi que eu estava me negando e negando as pessoas que eu gosto uma forma importante de afeto. Eu me sentia desconfortável com qualquer micro demonstração de afetividade e passei um tempo achando que eu não poderia demonstrar afeto, porque isso seria hierarquizar a relação. Olha como a toxidade da forma como as relações são impostas para gente causa na nossa cabeça quando começamos a mudar as formas de se relacionar. A dicotomia é tanta que eu jurava que demonstrar afeto era hierarquizar.

E aí chegamos na questão de quando é demonstração de afeto e de quando é controle.

Nem toda demonstração de afeto é controle, mas pode ser.

Por exemplo, status de relacionamento do Facebook para mim é totalmente monogâmico e super hierarquizante. Estou 100% de acordo com o texto da Kale sobre isso. Por outro lado eu posto algumas demonstrações de afeto nas redes sociais. Cada relação de forma diferente, porque as relações são diferentes mesmo. Mas quando tenho vontade e já conversei com a pessoa sobre isso, eu as faço. Me empodera e empodera as pessoas que eu gosto também.

Eu hoje consigo administrar melhor a demonstração de afeto sem me sentir controlada e nem controlar as pessoas que eu gosto.

Acredito que se consegue isso com prática, muita reflexão e leitura sobre as estruturas de opressão e as suas intersecções.

Indicação de leitura:

Textos de Dandara Abreu, Geni Núñez, eu e o livro “O desafio poliamoroso: por uma nova política dos afetos” de Brigitte Vasallo.

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