Preterimento, desejo e flerte: como a não-monogamia mudou minha realidade afetiva

André Luiz
Afetos Insurgentes
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15 min readOct 18, 2022

Ou: como eu neguei a estrutura mono e criei minha própria narrativa relacional

Crédito: Olga Strelnikova

Já vou mandar logo de cara: esse texto é bem pessoal. Não que as outras coisas que eu escrevo não sejam, mas eu costumo trabalhar resgatando outros autores, buscando muitos dados e referências.

Mas nesse aqui quero que as únicas referências sejam as minhas vivências, as histórias que encenei por aí.

A questão é: eu tenho uma trajetória que gostaria de compartilhar sobre como eu saí de uma realidade de completa escassez afetiva/sexual, para uma de certa abundância e coletividade.

Calma, não se assuste, isso não é um texto de autoajuda neoliberal, eu não vou tentar te convencer a entrar num esquema de pirâmide, muito menos quero te vender um “case” de superação.

Eu quero apenas oferecer algumas experiências e perspectivas que podem servir de ajuda para outras pessoas que estão numa trajetória semelhante.

Então respira fundo e vem comigo!

Crédito: Prostock-Studio

Monogamia & Rejeição

Dentro da comunidade NM falamos muito sobre as dores que relações pautadas no controle dos corpos e cerceamento da autonomia alheia causam em todos nós. É de comum acordo que o amor possessivo pregado pela estrutura mono machuca, nos marcando profundamente, as vezes para o resto da vida.

Contudo, tem um outro tipo de marca, menos falada, mas que corta igualmente fundo. Uma marca que brota daquilo que nunca aconteceu, de uma “não história", de uma negação. Pois, veja, ser rejeitado também deixa marcas.

Eu venho de uma realidade que, apesar de compartilhada por muitos, carrega certas peculiaridades que são essenciais para descrever a minha caminhada. Além de homem negro, eu sempre fui gordo (as vezes mais acima do peso, outras vezes era só o “gordinho” da turma). Eu também sou adotado por família branca “classe média”, o que tudo bem, meus pais sempre foram ótimos pais no melhor das suas capacidades, nunca me faltou afeto ou sustento. Mas por causa disso, por toda a minha vida, eu me vi habitando lugares onde não haviam muitos de mim. Você sabe do que eu tô falando, né?

Para além disso, discorrendo sobre a minha personalidade, eu sempre falei muito bem, sempre me expressei com facilidade. Minha mãe tem até hoje meus textos de quando eu era um infante, porque de fato eram muito bons para uma criança. Eu também sempre fui espontâneo, piadista, o cara que fazia a festa acontecer, que todo o dia algum professor mandava para fora da aula, conversador, estudava pouco (quase nada), mas a nota vinha. Vivia na rua, na praia, na casa dos amigos, também jogava muito video game, colecionava quadrinhos, lia bastante, um equilíbrio saudável entre a nerdice e uma vida social agitada. E sempre tive muitos amigos, isso nunca faltou.

Eu posso dizer com tranquilidade que cresci com uma autoestima alta. Claro que passei pelas inseguranças normais de qualquer adolescente e tive meus momentos emo. Mas eu realmente cresci gostando de mim na maior parte do tempo.

Contudo, quando se tratava da minha aparência física e da minha (inexistente) “vida afetiva”, eu sempre tive a autoestima no chão. Não era à toa: mesmo com toda a minha personalidade, mesmo sendo considerado o mais engraçado e divertido pelos lugares que passava, mesmo sendo super sociável (bem mais que a média), enfim, mesmo com varias características que me fariam ter sido um cara bastante interessante para as meninas se eu fosse um homem branco comum, a realidade é que o meu corpo não se enquadrava na narrativa romântica da monogamia. Eu era visto sempre como um amigo, o cara legal que ouvia os problemas e que servia de cupido no final do dia*[1].

Ninguém sonhava em ter um namorado com as minhas características físicas.

Claro que a primeira reação que temos diante de centenas de rejeições consecutivas é acreditar que nós somos o problema. E, na busca por resolver tal problema, eu tive diversas fases:

  • Fingir que não me importava: fazer do problema um “não problema” é uma arte que eu, particularmente, domino. Se não dá para resolver, dá para ignorar — esse é meu lema. Porém, tudo tem seu preço, né?;
  • Tentar emagrecer: essa era a manobra mais óbvia, e em algum momento da minha vida eu dei tudo de mim e cheguei a perder mais de 15kg em 3 meses. Era terceiro ano de faculdade, férias, eu me enfiei na academia e na sibutramina (inibidor de apetite), fiquei bitolado nessa missão e dei uma secada legal. Mas obviamente que não se sustentou por muito tempo;
  • Dar um tapa na aparência: na minha época vivendo entre os “hétero tops” eu gastei uma grana em camisetas polo que hoje eu não usaria para pano de chão. Triste, mas, até aí, tudo bem. Pesado mesmo foi “relaxar” o cabelo por anos, numa óbvia tentativa de embranquecimento. E depois dessa fase, manter ele curto (e a barba feita) para ter um ar “profissional”, enquanto meus amigos brancos exibiam seus coques samurais por ai;
  • Aprender “pickup art”: Não sabe o que é isso? Clica aqui então. E sim, eu cheguei a esse ponto deplorável. Que esculacho, meu pai.

Nada disso proporcionou alguma mudança efetiva. Eu me desdobrava para caber dentro do ideal romântico, mas pouco era notado.

“Ah André entendo, mas eu tenho um amigo que emagreceu 35 kg, virou halterofilista e passou a pegar geral. Hoje, é casado com uma super modelo e tem 3 filhos lindos…”

Certo, mas aí entra uma coisa muita importante que muitos de nós já sentimos: eu não queria ter que mudar tudo que eu era para que a sociedade me aceitasse. Caralho, eu gosto de comer (e de cozinhar), não quero entrar numa dieta rigorosa e com certeza não quero virar um halterofilista (ou entrar pro crossfit). Entenda que eu não to falando que nunca quero mudar. Na minha visão, viver é mudar, é tentar aprender mais e se tornar uma pessoa melhor tanto para você quanto para a sociedade. Porém, nesse caso não era questão de mudança, era questão de entrar num padrão.

Eu não sabia na época, mas eu não estava falhando, eu estava resistindo.

O fordismo relacional da estrutura mono

Conheci minha primeira namorada no meio de um intercâmbio. Foi uma relação tranquila e, na maior parte do tempo, cordial. Ela era uma pessoa legal, muito cristã e trabalhadora, cheia de planos. Queria voltar pro Brasil com grana para dar entrada num apartamento, casar, ter filhos. Sempre deixava claro que não estava ali para brincadeira e que precisávamos correr para que todos esses planos, que agora eram meus também, se realizassem.

A relação não deu certo, por n motivos que não cabem aqui, e terminamos depois de 3 anos (com ambos já de volta ao Brasil).

A questão é: no dia que terminei com ela, eu rompi com a monogamia também. Te dizer que eu achei namorar um bagulho muito chato. Por mais que a minha vida sexual/afetiva tivesse sido patética antes daquele relacionamento, pelo menos eu tinha minha liberdade. Eu sempre fui extremamente ativo, com vários grupos de amigos diferentes, sempre fazendo viagens de última hora, organizando todo o tipo de festas, todo dia na rua, indo aonde eu queria, na hora que eu queria, com quem eu queria e sem ter que dar muitas satisfações (nem pros meus pais). Aí, do nada toda aquela maravilhosa autonomia foi pro ralo e eu me transformei num casal.

Mais uma vez, eu me vi tendo que escolher entre duas opções injustas:

Ser eu mesmo e ficar sozinho, ou, me adequar as normas prisionais das relações monogâmicas para poder ser amado.

E foi exatamente nessa bifurcação que eu descobri a não-monogamia.

Foi revelador. Quanto mais eu estudava e vivia, mais eu entendia as questões sistêmicas que me causaram tanta solidão. Com grande alívio, pude perceber que eu não era o problema e sim mais uma vítima da opressora estrutura mono.

Um olhar NM sobre o fenômeno do preterimento

Acho importante contextualizarmos que o preterimento se trata de um tipo muito específico de rejeição, que ganhou notoriedade nos últimos anos aqui no Brasil graças ao debate fomentado por mulheres negras sobre o assunto. O termo se refere ao ato de deixar algo ou alguém de lado, em favor de outra coisa ou pessoa. Dando um exemplo prático, é a clássica situação da mulher negra que é boa para transar, mas não boa o bastante para ser assumida como namorada ou esposa, por exemplo — lugar esse reservado a corpos mais “aceitáveis & desejáveis” dentro da estrutura mono.

Vamos direto ao ponto: o preterimento só existe num mundo pautado pela escassez afetiva. Se as relações são exclusivas e excludentes, e são poucos os corpos considerados adequados e desejados, é óbvio que a conta não fecha.

Por vivermos numa realidade mercantilizada e competitiva, somos ensinados a procurar o “melhor negócio possível” em todos os âmbitos de nossas vidas. E, quando se trata de relacionamentos, a estrutura monogâmica é quem dita os parâmetros de um bom negócio, distribuindo capital afetivo/sexual para aqueles que melhor se enquadram em seus “valores” base:

A burguesia (e o capitalismo), o patriarcado, a branquitude (e o racismo), o binarismo de gênero, a heteronormatividade, a monossexualidade, o capacitismo, o moralismo cristão, a gordofobia….

Aqueles que se encontram do lado oposto de tais “valores” são invisibilizados nessa narrativa, coadjuvantes da sua própria vida amorosa, prontos para serem substituídos a qualquer momento por atores melhores. Ironicamente, somos a maioria, mas a máquina de propaganda do amor romântico (e do neoliberalismo) nos vende a terrível sensação de que nós somos os únicos de fora desse mundo ideal de príncipes e princesas apaixonados. Ao mesmo tempo, também somos bombardeados com possíveis soluções, que vão desde cursos para ser um “macho alfa e artista da sedução”, até dietas milagrosas e tratamentos estéticos invasivos (e ofensivos). Como relatado acima, eu mesmo já tentei algumas dessas soluções.

Outra característica cruel do preterimento é sua natureza cíclica. Em outras palavras, os preteridos também preterem.

Nesse texto eu estou contando a minha história, mas ao olharmos para mulheres negras, gordas e/ou mães solo, pessoas trans, pessoas com deficiência, pessoas pobres e periféricas, veremos uma realidade ainda mais solitária.

Verdade inconveniente: da mesma forma que eu já fui rejeitado, eu também já rejeitei.

E é por isso que dizemos que NM é uma questão coletiva. Quando eu percebo que eu não sou o único “inadequado” nessa treta toda e começo a vislumbrar o tamanho dessa estrutura opressiva que molda nossas relações, eu também passo a olhar em volta, desenvolvendo empatia e enxergando minha parcela de responsabilidade tanto na minha própria dor, quanto na dor das outras pessoas.

Pensa comigo. Quantas vezes nós, que temos nossos corpos marginalizados, deixamos de olhar para outras pessoas pelos mesmos motivos? É claro que eu só posso falar por mim e, além disso, eu também não quero culpabilizar ninguém — afinal nós somos ensinados dessa maneira — , mas é importante fazermos uma autocrítica daquilo que nos atrai. Deixar de escolher quem nunca nos escolhe e valorizar aquelus que compartilham das nossas dores também é uma boa forma de evitar preterimento.

Sei que ainda tenho um longo caminho para me despir completamente de preconceitos relacionados a gênero, sexualidade e estética no que tange aquilo que me desperta atração. Mas já mudei muito nesses últimos anos e não existe mais espaço no meu imaginário afetivo/sexual para o estereótipo da princesa Disney, perfeitamente angelical, subserviente, magra, delicada, feminina e pipipi popopó… deixei as idealizações no passado e passei a gostar de gente de verdade.

Foi a melhor coisa que eu fiz.

Não há do que se envergonhar: demonstre seus desejos.

Faça um desejo…

Todes queremos ser desejades, e nesse sentido, a monogamia é especialmente dolorosa com aqueles que não se encaixam no seu ideal. Mas uma outra consequência disso é que com o tempo, aquelas pessoas que são expostas a sucessivas rejeições também perdem a capacidade de desejar. Como eu disse lá em cima, a gente passa a fingir que não se importa, que não está interessade.

E foi na NM que eu recuperei essa capacidade.

Quando eu comecei a estudar sobre o assunto, eu era recém solteiro e ainda estava meio perdido sobre como chegar nas pessoas. Eu não me lembrava mais como fazer isso e também, na real, eu nem tinha um histórico muito bom nisso (risos). Mas eu comecei a viajar tanto nessa questão que fiquei muito interessado em conhecer pessoas que viviam a NM e, mesmo estando meio atrapalhado ainda, eu baixei todos os aplicativos possíveis, coloquei que era NM em tudo, achei alguns grupos nas redes sociais e parti pro abraço.

Conforme fui entrando na comunidade, eu fui recebendo vários reforços positivos. Foi um choque para mim conhecer tantas pessoas que me achavam atraente, que queriam me conhecer a fundo, se aproximar e se relacionar. Foi um tempo de infinitas descobertas, no qual eu passei a me valorizar muito mais, a confiar no meu taco e, com isso, pude finalmente entrar em contato com outro lado da minha personalidade totalmente negligenciado até o momento.

Eu descobri que tenho uma frequência sexual bem alta, sendo muito importante para mim alimentar minha libido e explorar minha imaginação erótica. Eu também percebi o quanto eu gosto de me conectar profundamente com todo o tipo de pessoas (o que não necessariamente implica paixão, mas intimidade).

E assim eu perdi o receio de querer. De ir atrás.

E de tomar um não também.

A primeira rejeição é aquela que acontece dentro da gente. É o medo que estrangula a ação, que mata qualquer possibilidade no ventre e faz de nós inimigos de nós mesmos.

Claro, foi o mundo que botou isso aqui dentro. Não é a toa que a gente sente o que sente, que a gente desconfia do nosso potencial, das nossas capacidades. A gente já se fodeu bastante. Mas o entendimento que a NM (no seu caráter político) me trouxe, de que eu não era culpado por aquela rejeição, me fez perder o medo e me expor mais.

Está tudo bem não ser correspondido, ninguém é obrigado a gostar da gente. Mas quando botamos a cara no mundo, despidos das idealizações monogâmicas, nos permitindo ver e ser vistes por pessoas semelhantes, a coisa muda de figura. Tem muita gente legal por aí, que vai gostar da gente de volta.

E mais: com isso aprendemos a diferença entre não ser correspondide por motivos como, por exemplo, falta de química sexual, a pessoa estar focando em outras coisas no momento, incompatibilidades relacionais, falta de tempo, dificuldades logísticas, visões de mundo assimétricas e etc. — e não ser correspondide por que a pessoa não fica com pessoas negras, ou gordas, ou pobres, ou trans…

O primeiro grupo são eventualidades da vida, paciência, acontece. E dependendo de como for, podemos até desenvolver outro tipo de relação, que não seja sexual, porém cheia de parceria e afeto.

Agora, o segundo grupo não vale a pena. Siga seu caminho. A pessoa pode até mudar um dia, mas não serei eu que vou ficar idealizando isso enquanto sofro à toa. Não entrei na não-monogamia por migalhas.

Eu não me permito mais sofrer ou me martirizar quando meu interesse não é correspondido. Eu olho em volta, vejo tantas conexões cultivadas e momentos felizes vividos ao longo desses anos como pessoa não-mono, e rapidamente retorno a um lugar de gratidão.

Bora falar de coisa boa agora: flerte para iniciantes

Crédito: CB/D.A Press

Queria terminar esse texto dando umas dicas sobre como chegar na/o/e gata/o/e. Assim, eu acho que isso é uma questão bastante particular, cada um flerta como quer e, além disso, eu sei que não sou ninguém para ensinar isso pros outros. Mas como eu escrevi lá em cima, eu fiz esse relato para ajudar uma galera que, assim como eu, está vindo de um lugar de escassez afetiva/sexual. Tem muita gente que me fala que não sabe flertar, por diferentes motivos, desde medo, até timidez ou falta de prática, e que isso atrapalha bastante a vida delus.

Seguem então algumas descobertas que me ajudaram a quebrar esse medo:

  • Em primeiro lugar, vamos ao “óbvio”: Flertar exige um certo nível de autoconfiança. Se você não tem, você não quer tentar. Compreensível. A questão é que o ato de xavecar também ajuda a desenvolver essa confiança. Portanto é um paradoxo, você não faz por que não se sente preparade, mas por causa disso também nunca aprende. Meu conselho, bote a mão na massa. Você vai se surpreender com a quantidade de pessoas que vão curtir o que você tem a dizer;
  • Escute as outras pessoas, mas escute mesmo: Presta atenção na conversa de verdade, seja online ou presencial. Dedique seu tempo. Flerte não é frase feita, nem mesmo ficar se vendendo o tempo todo. É afrodisíaco para caralho quando você percebe que a outra pessoa está genuinamente interessada em você. Além disso, ao escutarmos as oportunidades aparecem, você pega os sinais, entende se tá no caminho certo ou longe dele;
  • Não dá para falar que você não tem assunto: Você é um ser humano que já tá nessa Terra há pelo menos umas 2 décadas. Você consome informação todos os dias, você dá rolê, você tem questões existenciais, hobbies, livros, bandas, artistas preferidos, traumas e alegrias….em suma, você é um poço de vida, de profundidade, de histórias, opiniões e sentimentos para compartilhar. Então… compartilhe-os!;
  • “Eu preciso de técnicas avanças de xaveco pra conquistar a razão do meu afeto?”: Não, você não precisa ter +10 de oratória. Sabe do que você precisa? Constância. O que é diferente de insistência, tá?, não confunda. Eu falo sobre se fazer presente mesmo. Se o xaveco é ao vivo, alguém que você flerta na facul por exemplo, se você não for para aula, como você vai flertar? O mesmo se aplica pros nossos tempos digitais. Se você não estimular uma conversa de tempos em tempos com a pessoa, depois não reclame se ela sumir né. OBS: “Como eu sei se eu to sendo constante ou insistente?”. As respostas da pessoa vão te dizer. A gente sabe quando alguém tá curtindo ou falando por educação. E, na dúvida, pergunta, ué;
  • Demonstre suas intenções: Eu sei que aqui começa a ficar espinhoso para muita gente, mas não precisa ser um bicho de 7 cabeças. “Então, saca só, to adorando o papo, você é muito legal. Não quero forçar nada, mas saiba que to interessado em te conhecer melhor, tá bom?”. Gente, é nesse nível. Às vezes nem precisamos disso, a conversa deixa bem claro por si só. Mas muitas vezes precisa sim, e isso não é assédio, isso não te faz uma pessoa carente nem invasiva. Tá tudo bem ter intenções e demonstrá-las de maneira respeitosa e clara;
  • Na sequência do tópico anterior, a dica é “tenha ousadia”: A sorte beneficia os bravos — platonismo só é maneiro em romance do século passado. Chama para tomar um café, uma breja, tanto faz. Leia os sinais, se sentir que existe uma troca e abertura legal, chega junto. Indiferente do que for acontecer, se for “namoro ou amizade”, relações se constituem a partir de intimidade e honestidade. Não tenha medo de tentar trazer para perto;
  • Mas… aprenda a lidar com a rejeição: Já falamos bastante sobre isso acima, mas dando um último reforço, é importante saber que “nãos” vão rolar. E tipo, não ser correspondide da maneira que você quer não significa que haja algum problema com você ou na sua abordagem. Não se martirize, nem se cobre muito. Existem outras pessoas para conhecer, e existem outros tipos de relacionamento igualmente válidos a serem construídos, o que pode ser o caso com essa pessoa;
  • Se acalma, você não tá apostando sua casa no pôquer: Flerte é algo muito gostoso, é você descobrindo a outra pessoa, trocando experiências, se sentindo e se estimulando. É para ser leve (e às vezes intenso dependendo do momento), portanto, se já começa com todo o peso dos nossos medos e inseguranças, dificilmente vai fluir como deve. Chega de mansinho. Tá nervoso? Então vá devagar, fale de coisas triviais, dê tempo para a conversa engrenar. Respeite seu ritmo e o do outro;
  • E por fim, lembre-se sempre que você não é obrigade a nada: Às vezes a gente romantiza uma pessoa, mas quando realmente chegamos perto descobrimos que ela não é tão legal assim, saca? E você tem todo o direito de cair fora dessa interação. Flerte não é para você se provar pra outra pessoa, nem para CONQUISTAR ALGUÉM A TODO O CUSTO. Busque reciprocidade sempre, o objetivo é desenvolver uma relação saudável, seja ela afetiva ou puramente sexual.

Por fim, tire daqui aquilo que se aplica a sua realidade. Se você sofre de ansiedade aguda, por exemplo, talvez a dica para se acalmar não te ajude em nada, e tudo bem. Cada ume de nós sabe onde aperta o calo.

Até pouquíssimo tempo atrás, toda essa questão me dava certo pânico e me despertava inseguranças intensas. Mas hoje, eu adoro flertar, é divertido demais.

Então, bora lá, vai praticar e cultivar sua rede de afetos.

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*[1]: Muita gente chama isso de “Friendzone”, quando a pessoa tem intenções “românticas” por alguém, mas não consegue conclui-las, ficando “apenas” na amizade. Normalmente trata-se de um homemcishet que está afim de uma mulher também cishet. Contudo, esse conceito é extremamente problemático, ele objetifica as mulheres, diminui a importância das amizades em detrimento das relações sexuais e reforça estereótipos de gênero. Ao mesmo tempo, fazendo o advogado do diabo aqui, é importante dizer que homenscishet também podem ser rejeitados ao não se enquadrarem no ideal masculino de "macho alfa" dominante, e essa dor é vastamente explorada pelo neoliberalismo e sua máquina de criar incels.

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André Luiz
Afetos Insurgentes

Comunista, Comunicador Social, Especialista em Mídia, Pós-Graduado e Não-Monogâmico.