Mali: A Confederação dos Sábios Mandinka

Mandé Malé
Africa Fantástica
Published in
3 min readJan 27, 2022

A muito tempo atrás, o poderoso Rei-Feiticeiro de Soso, Samanguru Kanté, governava com mão de ferro o oeste das terras entre os Mares da Guiné, do Saara às Florestas do Sul, passando pelo Sahel, esta parte do Bilá-al-Sudã conhecida como Mali. O Ouro de Buré e Bambúque fluía incessantemente para suas mãos gananciosas. Fome e peste assolavam o povo. E não havia homem da velha fé ou dos três povos filhos de Abraão que pudesse ir contra seus poderes demoníacos. Todo o tipo de perversidade e horror acontecia para a satisfação do tirano.

Mas Alá é Justo, e poderosos são seus escolhidos. Um dia, da esposa pagã de um rei fiel à palavra do Profeta Maomé, nasceu o Rei-Leão: Sundiata Keita. E então os dias do Rei-bruxo estavam contados.

Onde o Rei-Bruxo semeou a discórdia e a intriga, O Rei-Leão trouxe o acordo e a reconciliação. Onde o Rei-Bruxo fez o povo curvado e fraco diante de sua opressão, o Rei-Leão os fez levantar-se em dignidade rebelde de novo. Onde o Rei-Bruxo reinava pelo medo, o Rei-Leão liderou pela coragem.

Na grande batalha de Kirina, os dois reis se enfrentaram. Primeiro pela palavra. Depois pelo comando das tropas. Por último: homem contra homem, mago contra mago.

Usando uma flecha mágica feita da espora de um galo albino, o Rei-leão Sundiata quebrou as defesas arcanas de Samanguru e o derrotou, pondo fim ao reinado do Rei-bruxo para todo o sempre.

Ocupando seu território, ao invés de reinar como um autocrata, o Rei-Leão sabiamente reuniu as matriarcas e patriarcas do Mali para organizar um conselho de governantes, a Gbara. A Gbara reina sobre a Manden Curufuba: “A Confederação dos Sábios Mandingas”. Keita reuniu os clãs de Bardos, os Djeli, e cantou para eles as leis rimadas de uma constituição, a Curucã Fuga. Ao invés de escrever, os Djeli a decoraram, e saíram pelo império para cantá-la e declamá-la. E passaram a ser os magistrados e intérpretes destas leis.

Com a fartura garantida das minas de ouro e sal, floriram rotas de comércio que atravessavam todo o Saara, levando ouro Africano para a Ásia, Europa, Oriente médio, e trazendo mil maravilhas de todas as partes do mundo. E o povo do Mali passou a ser próspero.

Os séculos passavam, e cada vez que um imperador Mansá partia deste mundo para se juntar a seus ancestrais, o parlamento dos Anciões na Gbára elegia entre os parentes e descendentes de Sundiata um líder de igual ou maior quilate, para governar seu povo.

Assim os Mansá reinaram em harmonia até que Abubacari Segundo — o rei explorador, decidiu navegar com duzentos navios a oeste, para encontrar terras de um povo lendário conhecido como Tupinambá, e lá viver para sempre.

Abubacari foi um Mansá muito querido. O imperador que proibiu a escravidão, reformou a economia, iniciou a importação de tomos religiosos e arcanos para a construção de vastas bibliotecas, escolas públicas e madraçais. Criou regras de adoção para incluir órfãos, escravos e estrangeiros nas grandes castas dos clãs da Gbara. Reprimiu rebeldes reacionários e déspotas locais.

Durante os últimos 12 anos, quem reina é o Mansá Cancã Muça. Muça é conhecido pelo gosto que tem pelas artes, pela extravagância, pela afeição a culturas e povos distantes, e por ser um péssimo Muçulmano, com uma coleção peculiar de pecados de embriaguez e luxúria. Dizem que ultimamente ele está devotado a estudar o Islã e a cultura árabe….

--

--

Mandé Malé
Africa Fantástica

Eu escrevo fantasia por que a realidade é ainda mais estranha do que a Ficção.