2 de Julho de 2017 — Às especialistas

Rodrigo Bressane
Life After Suicide
Published in
3 min readJul 2, 2017

Este artigo é parte da série “Como é tentar se matar e falhar”. Comece por ali, caso ainda não tenha lido.

Tudo o que eu vou escrever aqui estava diferente há dez dias. E é assim que acontece com gente como eu. E é por isso que fica tão insuportável. E é por isso que chega uma hora que chega.

À psiquiatra

A primeira semana com o novo Lítio (CR) foi de alento. A depressão se foi. No lugar, entrou coisa nenhuma. E coisa nenhuma é muito melhor que ela, a depressão. Por mim, negócio fechado.

Uma efeito estranho deu as caras logo nos primeiros dias. Parei de enxergar normalmente. Minha visão está turva, especialmente pela manhã. Melhora um teco ao fim do dia, mas quase nada. No geral, vista desfocada permanentemente. Além disso, uns flashes, rastros de luz que “vejo” por trás dos olhos. O dia todo.

Para ler e escrever, zoom de 200% na tela. E ainda assim, vejo mal.

Tem mais. Estou com tremores fortes. Tenho isso há bastante tempo, mas está piorando. Não consigo segurar nada com muita firmeza. Celular, caneta, câmera fotográfica. Tudo sofre nas minhas mãos, implorando para cair.

Não é preciso dizer que os dois problemas me atrapalham muito no trabalho e na vida.

E tem mais. O remédio da noite, Quetiapina, um antipsicótico, me nocauteia de um jeito que mal consigo acordar no dia seguinte. Quando acordo é pra me arrastar como um zumbi por várias horas, até ser capaz de atuar melhor, possivelmente quando as químicas deixam de atuar.

Se tem mais? Pior que tem. Sabe aquela depressão que sumiu lá do começo? Aqui no final ela volta. E volta forte. Com gatilhos diferentes, mas a força de sempre. Incapacitante. Só penso no pior.

À psicanalista

As semanas tem sido boas, até que ficam ruins, muito ruins.

A mudança de remédios pela psiquiatra provocou uma melhoria grande das minhas emoções. Pelos dias em que o efeito durou. E, acredito, apenas por causa dele. Em nenhum momento fui capaz de dirigir o foco dos meus pensamentos, da minha atenção, para coisas boas, fontes de felicidade, assuntos que me trouxessem algum tipo de benefício. Meu bem estar, do Dia D até hoje, é 100% artificial. E fraco.

A dor, no momento, é absurdamente grande. Os gatilhos antigos se foram. Chegaram os novos, com sentimento de pânico, punhalada no coração, morte iminente, necessária.

Ontem eu cheguei em casa, no banco do carona. Faz tempo que não dirijo. Dirigir me parece coisa de gente bem. Disposta. Eu não estou nem uma coisa nem outra. Com o carro estacionado na garagem não conseguia me mover. Fiquei ali, catatônico por pouco mais de duas horas, olhando pro nada. Duas horas. Sem sair do carro. Olhando pro nada. No dia anterior me peguei em situação parecida, olhando para a parede, por uns bons 20 minutos.

Sabe aquele orgulho próprio, aquela sensação de que o dia vem aí e precisa de você, ou vice e versa? Eu não tenho mais. Me sinto cada dia pior. Mais perto de um final do que de um começo.

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