A pessoa certa, o lugar, a hora certa — Parte II

Jesse Lopes
afya
Published in
3 min readSep 20, 2021

A estreia de uma jornalista jovem e competente em uma cadeira super importante, um ato de imenso simbolismo, e os caminhos que ela traçou até chegar lá

Na noite do último sábado, 18 de setembro, a jornalista Aline Midlej estreou como apresentadora na bancada do jornal mais importante do país, na televisão aberta, o Jornal Nacional.

Fonte: Reprodução/TV Globo

Sua estreia foi marcante por vários motivos, sobretudo porque ela é a terceira mulher negra a ocupar essa bancada. Vale mencionar que Aline é titular do jornal mais assistido da televisão paga, o ‘Jornal das 10’, da Globonews, desde julho desse ano.

A performance de Aline foi super elogiada, graças à imensa competência, profissionalismo e simpatia que ela tem. Olhando para esse momento, o que vemos é uma profissional cuja carreira está em franca expansão, que tem seu talento e competência reconhecidos, ou seja, ela ‘chegou lá’. Está no lugar que merece, na hora que merece e na empresa que a reconheceu por suas entregas. Certamente ela se sentiu à vontade, livre para entregar o seu melhor, e o resultado não poderia ser outro: o sucesso, o aumento de sua visibilidade, responsabilidade e das melhores entregas.

Cabe aqui uma revisão e reflexão sobre o caminho que ela traçou até chegar ali.

Duas emissoras antes da atual, quando ocupava a mesma função, Aline relatou ter ouvido de seu chefe que deveria submeter o seu cabelo, naturalmente cacheado, a um alisamento. Isso, segundo a ignorância racista do dito cujo, a deixaria mais alinhada aos ‘padrões’ que se espera ver na televisão. Não passou muito tempo, ela deixou a emissora.

Nova ‘casa’, novo desafio, lá estava ela à frente de um telejornal desses que passam no comecinho da manhã. O programa não teve boa audiência e, novamente, as coisas não foram boas pra ela. Pela necessidade de mudança, a direção decidiu rebaixá-la, colocando-a como repórter de rua e retirando-a da bancada. Foi rebaixada. Logo ela, dona de um talento indiscutível que pôde ser visto ontem, à frente do JN — não se sabe o motivo, mas a gente desconfia.

O que diferencia a Aline das três experiências? Vejamos .. se é exatamente a mesma profissional, com a mesma formação e a mesma essência, porque ela teve duas experiências negativas, e depois brilhou tanto e conquistou tanto?

A resposta é: a empresa.

Empresas ruins, que não reconhecem talentos, que limitam, impedem, cerceiam, assediam e apagam qualidades, nunca terão bons profissionais por muito tempo. Isso explica que a mesma pessoa tenha ouvido sugestões racistas, tenha sido rebaixada, e depois tenha alcançado o lugar de maior destaque na sua profissão, em seu país.

Sim, é a mesma profissional, com a mesma formação e a mesma essência. A diferença é que agora ela está no lugar certo, teve liberdade para se expressar, para trabalhar e entregar todo o seu potencial, e essa fórmula sempre dá certo!

Quando isso não acontece, a empresa perde talentos, vê ótimos profissionais indo embora aos montes, um atrás do outro e, pior, arrogantes que são, ainda colocam a culpa nos profissionais, sem jamais reconhecer seus próprios erros.

Aline Midlej provou isso ontem!

Que casos como o dela se reproduzam aos montes por aí, que nada limite o talento de ótimos profissionais e que as empresas enxerguem que só pessoas felizes entregam o seu melhor.

Enfim .. por mais “Alines”!

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