As atribuições do Gerente de Engenharia
Dentro da estrutura atual de Engenharia e Produto, temos Squads formadas pelo Gerente de Engenharia, Product Designer, Product Manager (PM) e Engenheiros de Software. Nesse formato, o Gerente de Engenharia é responsável pela gestão direta dos Engenheiros de Software.
Neste post, quero deixar um pouco mais clara qual é a atuação do Gerente de Engenharia e como essas atribuições se traduzem no dia a dia.
Atribuições e comportamentos do Gerente de Engenharia
O papel foi construído em um trabalho conjunto, que foi fundamental para que a gente chegasse nessas 7 atribuições e comportamentos que são de responsabilidade do Gerente de Engenharia:
- Gestão dos engenheiros
- Liderança pelo exemplo
- Garantia da autonomia e confiança
- Conhecimento do negócio
- Organização do time
- Garantia da qualidade
- Gestão do orçamento
Gestão dos engenheiros
Neste primeiro ponto, estão incluídas atividades mais gerais de um papel de gestão de pessoas. Como, por exemplo:
- Formação de time
- Resolução de impedimentos
- Condução de 1:1's
- Avaliação de desempenho
- Construção do Plano de Desenvolvimento Individual (PDI)
- Gestão de folgas e férias
Além de trabalhos mais burocráticos, essa responsabilidade inclui o apoio na gestão da carreira de cada liderado. Por mais que cada pessoa seja responsável pela sua carreira, ter o acompanhamento e o apoio da liderança no direcionamento faz muita diferença.
Por isso, comento sempre que para ser da gestão é preciso gostar e estar motivado com o seu papel. Dar o direcional de carreira e entender as ambições de cada pessoa do time demanda muita energia e muita conversa. E se você não consegue se manter focado e interessado no que cada liderado traz como desafio de carreira, provavelmente não conseguirá apoiar da forma mais positiva possível.
Liderança pelo exemplo
Entendemos que liderar pelo exemplo é ser uma pessoa disponível, que está sempre aprendendo e aplicando esses novos conhecimentos com o time. É ser alguém disposto a entrar em debates para expor e defender as suas ideias. E, principalmente, alguém que lidera pessoas ao invés de chefiar.
Geralmente, costumo trabalhar muito com os times sobre gestão de tempo. E esse é um ótimo exemplo para a liderança pelo exemplo. Se eu instruo as pessoas a organizarem as suas atividades para o dia e depois trabalho de forma desleixada, me atrasando para os compromissos do time, qual mensagem eu estaria passando?
Ser o espelho dos comportamentos esperados é uma ótima forma de demonstrar para o time que você realmente valoriza o que prega. Ninguém gosta de seguir alguém que sempre está pelo “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. E entendo que isso é particularmente importante quando estamos construindo estruturas horizontais, em que o time trabalha junto do gestor e não para o gestor.
Garantia da autonomia e confiança
Quando falamos dos resultados do gestor, estamos nos referindo aos resultados que o time que ele lidera pode gerar. E esse resultado não inclui (ou pelo menos não deveria incluir) o próprio gestor colocar a mão na massa para desempenhar as tarefas. Mas essa é a forma que trabalhamos na iClinic, já que não existe certo nem errado e existem lugares em que o gestor acaba colocando a mão na massa também.
Então, como é possível garantir um resultado sem fazer a tarefa diretamente? Dando autonomia e motivando o time.
Dar autonomia é confiar que cada integrante do time possui o conhecimento necessário para desempenhar o seu trabalho. E saber que, caso seja necessário, as pessoas pedirão por ajuda. Esse entendimento parte desde o momento em que conseguimos selecionar as pessoas certas para o trabalho certo. Porque de nada adianta eu formar um time perfeito para uma demanda que não é o foco.
Com autonomia, é muito provável que soluções inovadoras e melhorias no processo de trabalho emerjam do próprio time. Porque, por mais que o líder seja especialista no trabalho feito pela equipe, querer puxar todas as soluções só vai trazer uma visão engessada de como as coisas funcionam. Deixar o time debater e fazer o trabalho de um jeito diferente pode parecer estranho no início, principalmente quando dominamos a solução. Mas formas eficientes, eficazes e surpreendentes podem surgir com essa abordagem com mais liberdade.
Podemos falar de motivação do ponto de vista da equipe, mas também é muito importante entender o que motiva cada pessoa. Porque nem sempre todos estarão no mesmo ritmo ou buscando os mesmos desafios. Então, cabe ao Gerente de Engenharia entender o que faz com que cada um levante da cama de manhã e chegue ao trabalho disposto a dar o melhor de si.
Trabalhar desmotivado não gera resultado, apenas desgasta. E a intenção é manter o time trabalhando junto e entregando resultados por um tempo indeterminado. Isso só é possível se as pessoas se sentem energizadas trabalhando e não desgastadas.
Iniciativas para entender se as expectativas de cada liderado ainda estão sendo atendidas, se o ambiente de trabalho em equipe é seguro e manter o propósito do time claro entram neste ponto como norteadores do trabalho do gestor.
Conhecimento do negócio
O Gerente de Engenharia também desempenha um papel importante no entendimento do negócio bem como no atingimento dos objetivos. Independentemente do framework usado para a definição dos objetivos, os gestores apoiam o time para a construção dos mesmos.
Para dar esse apoio, é necessário entender o negócio pelo qual a equipe é responsável. Sugestões que envolvem viabilidade técnica ficam mais a cargo dos Engenheiros de Software, mas o Gerente de Engenharia pode e deve apoiar pensando no quanto o objetivo do time irá ajudar no objetivo da empresa como um todo.
Além de apoiar na construção dos objetivos e métricas, o Gerente de Engenharia também é responsável por manter o processo de acompanhamento da evolução das métricas definidas. Esta tarefa não deve ser solitária, pois o ideal é que todo o time tenha acesso e visibilidade do quanto a performance está atendendo ao que foi definido anteriormente.
O conhecimento de negócio também é importante para fazer o contato entre áreas. No dia a dia, o gestor costuma ficar como ponto focal do time. Assim, os Engenheiros de Software são acionados apenas quando necessário. E ter o conhecimento do negócio permite discutir os pontos importantes mesmo quando o time não está envolvido.
Saber com qual área se comunicar para resolver um problema ou o impacto do que está sendo construído no resultado é uma ótima forma de manter o time trabalhando na direção correta.
O trabalho do Gerente de Engenharia é feito em parceria com o PM. E, apesar do PM ser a voz do produto, não é exclusividade desse papel entender se estamos indo na direção correta. Também temos que estar atentos ao equilíbrio entre demandas de negócio e de Engenharia. E, por mais que seja importante atacar débitos técnicos, o Gerente de Engenharia precisa estar ciente de que não devemos resolver as dores de Engenharia gerando atrasos e quebras de acordos com o negócio.
Deixando claro que sim, Engenharia e negócio trabalham em conjunto. O que significa que o trabalho de Engenharia também deve resolver problemas de negócio.
Por isso, é muito importante ter visibilidade e entender o caminho que está sendo definido pelo PM. Assim como dar visibilidade das necessidades de engenharia é importante para que o PM possa contribuir igualmente com esse equilíbrio.
Organização do time
O Gerente de Engenharia precisa obter resultados através das pessoas que formam o time. E isso só é possível com um processo organizado. Resolver impedimentos, apoiar em conflitos e esclarecer dúvidas são algumas das atribuições que entram nesse item.
Com o time ciente do que é esperado de cada um, objetivos bem definidos e integrantes com autonomia suficiente para trabalhar sem bloqueios o trabalho flui. Porém, no dia a dia, travas sempre são encontradas e precisamos agir para que o time possa seguir adiante. E é responsabilidade do Gerente de Engenharia fazer o que estiver ao seu alcance para que esses bloqueios sejam removidos.
O que foge do escopo do Gerente de Engenharia é resolvido ao se entrar em contato com outras áreas, assim como o descrito no tópico anterior. E uma coisa que precisa ficar muito clara nesse ponto é que nem sempre temos todas as respostas que os liderados esperam. O apoio que podemos dar é um esforço para resolver problemas de forma ativa, ouvindo atentamente o que é passado e buscando soluções, que podem vir diretamente do gestor ou de outras fontes.
Garantia da qualidade
A qualidade é garantida não colocando a mão na massa, mas sim atuando nos processos que são seguidos pelo time e no apoio às pessoas que realizam o trabalho diretamente. O Gerente de Engenharia deve atuar como um guardião de boas práticas e trabalhar para que o time se mantenha atualizado e ciente dos acordos feitos pelo time de engenharia da empresa para manter o padrão esperado de desenvolvimento.
Também é possível garantir a qualidade através do acompanhamento de métricas. Dados como o número de rollbacks por ciclo podem indicar uma alteração na qualidade do que é entregue, por exemplo. E cabe ao Gerente de Engenharia acompanhar a saúde do time, bem como manter todos os integrantes cientes de como está a performance.
Não cobrar apenas prazos, mas sim manter um discurso de que prezamos pela qualidade, padrão de desenvolvimento e manutenibilidade do código é uma forma bem melhor de se ter um trabalho bem-feito a longo prazo. O desenvolvimento de soluções que trazem valor e resolvem problemas reais deve estar entre os objetivos de qualquer time e cabe ao Gerente de Engenharia ajudar a fomentar um ambiente em que isso acontece.
Lembrando que o time sempre se compromete com entregas e devemos manter esse comprometimento no nosso radar a todo momento. Principalmente para gerarmos uma relação de parceria e confiança com os stakeholders.
Gestão do orçamento
O Gerente de Engenharia é também responsável pela gestão dos custos de Engenharia além dos custos com a contratação de pessoas.
Os custos de Engenharia envolvem a compra e assinatura de ferramentas ou qualquer outro recurso necessário para que o time desempenhe o seu trabalho. Em caso de custos compartilhados, como a compra de servidores por exemplo, pode ser que o gestor fique responsável apenas pela solicitação e não diretamente pelo gerenciamento da compra e uso do orçamento.
Os custos com contratação podem incluir desde o momento da entrevista até a decisão de contratação de acordo com o nível do profissional. Entender se a contratação faz sentido e está dentro do orçamento disponível é necessário para que o time de Gente possa apoiar nessa parte do trabalho.
E aqui também é necessário ficar atento aos custos com ações de reconhecimento. Por mais que muitas vezes se deseje promover todo o time, precisamos estar cientes de que existe uma limitação para a distribuição de méritos e promoções. Mesmo não envolvido de forma direta nesse orçamento, o Gerente de Engenharia precisa priorizar as escolhas com o entendimento de que existe um limite dentro do qual se pode trabalhar.
Neste post, falei de forma geral sobre como é a minha atuação como Gerente de Engenharia. Por mais que algumas atribuições pareçam exclusivas do gestor, muitas atividades podem ser compartilhadas com o time. Principalmente a tomada de decisões que impactam o trabalho de todos.
Espero que tenha ficado clara a atuação de um Gerente de Engenharia dentro da iClinic e qual é a importância do papel de gestão dentro de um time de Engenharia.
Publicado originalmente em https://ingridmachado.net.