Apurar ou ficar apurado?

Noah Deolindo
Agência Comunitária de Notícias
4 min readOct 11, 2020

A jornalista Sirlei Benetti fala sobre sua ligação com o jornalismo investigativo e experiências que viveu na área.

Sirlei Benetti tem 37 anos, formada em jornalismo pela Univel e pós graduada em TV pela FAG, começou a carreira como repórter em 2005, na TV Tarobá, na cidade de Foz do Iguaçu, e há 6 anos trabalha como gerente de jornalismo da mesma emissora em Cascavel.

“Nesse período já fiz de tudo: reportagem, edição, apresentação, coordenação… De tudo um pouco! Hoje eu estou como gestora de jornalismo há 6 anos em Cascavel — Foz do Iguaçu e também sou apresentadora do programa Tarobá Rural, que vai ao ar aos domingos de manhã às 7h25. A gerência de jornalismo requer um olhar amplo sobre gestão, até mais do que o próprio jornalismo. a tarefa vai muito além de colocar os jornais no ar. é preciso ter liderança e muitos planos de ação para lidar com imprevistos”.

Além de todas as experiências, sobre as quais a jornalista nos conta um pouco, ela destaca sua grande ligação com o jornalismo investigativo, tema sobre o qual ela palestra em faculdades e universidades. “Uma das coisas que eu fazia bastante quando era repórter, eram as matérias especiais e reportagens investigativas, até porque eu gosto bastante de fazer isso”.

Jornalismo investigativo é a prática de reportagem objetiva para a solução de casos misteriosos e/ou fatos ocultos do poder público ( crimes e casos de corrupção). O jornalismo investigativo então, seria aquela pauta mais apurada, o furo de reportagem, a matéria que faz denúncias, que escancara acontecimentos que alguém preferia manter às sombras e que, geralmente, gera danos a alguém ou a algum sistema. É uma atividade que requer um olhar diferente, aguçado, atento a todos os detalhes, que vem sempre acompanhado da indignação com as coisas erradas e atos ilícitos que acontecem. Em jornalismo, é muito importante fazer a apuração detalhada dos fatos, mas na reportagem investigativa, ainda mais, a equipe precisa ter o cuidado de olhar todos os lados da notícia, de buscar incessantemente e comprovar o que está denunciando, caso contrário há o grave risco de cometer uma injustiça.

Em relação à reportagem investigativa, Sirlei afirma que pode ser bastante complexa. a jornalista comenta que, as reportagens podem serem feitas em uma hora ou em um período de trabalho como também podem durar seis meses, um ano, esse modelo específico de reportagem não tem um molde mas existem coisas importantes que devem ser lembradas. Ela destaca que uma reportagem investigativa deve ter provas contundentes, que precisam vir de: documentos, entrevistas e imagens, se conseguirmos juntar as três coisas melhor ainda, mas pelo menos um desses elementos devem existir.

“Eu sempre digo que uma bela imagem é batom na cueca”, brinca a jornalista.

É importante ressaltar a contribuição que tem as informações, as provas que unidas tornam-se incontestáveis e que facilita na apuração dos fatos.

“Há imagens que não há como serem contestadas, ou um documento muito forte, como por exemplo uma decisão judicial ou que de embasamento muito forte ou uma entrevista, alguém que endossa o conteúdo, porque nunca é o repórter quem está falando nem a emissora, é sempre alguém ou alguma coisa, a denúncia deve ser colocada.”

A jornalista já atuou em matérias que demandem investigação mais apurada em diferentes ocasiões. “Eu já fiz várias reportagens investigativas, algumas com resultados bastante interessantes e outras frustrantes. Por exemplo, fiz uma reportagem em Cascavel , não me recordo o ano, em que nós conseguimos comprovar que existiam assessores de vereadores que eram nomeados e que nunca apareceram na câmara, eram funcionários fantasmas. um deles morava em Curitiba, pedimos apoio para a equipe de lá, e fomos até o local de trabalho dele na capital. fizemos 2 ou 3 reportagens nessa época. depois que foi ao ar, todos os 172 assessores da câmara de cascavel foram exonerados de uma vez só, no dia seguinte que a reportagem foi ao ar, foi uma medida tomada pelo presidente da câmara da época. Fiz também uma reportagem investigativa no município de Dois vizinhos, em que o secretario de saúde do município era suspeito de cobrar por procedimentos do sus, fizemos duas reportagens lá, gravamos tudo com câmeras ocultas, gravamos ele mesmo falando, diversos depoimentos de pessoas falando que tinham que pagar, que pagavam pelo sus. mesmo com essa situação toda, o indivíduo ainda se elegeu vereador da cidade… então essas são as decepções e infelizmente não temos poder e controle sobre tudo, isso pode acontecer.”

O respaldo para a busca jornalística por informações em reportagens investigativas está na lei nº 12.527, sancionada em 18 de novembro de 2011. Ela regulamenta o direito constitucional de acesso dos cidadãos às informações públicas e é aplicável aos três poderes da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, a Lei de Acesso à Informação (LAI) garante prazos e procedimentos, obrigações para que a administração pública responda a pedidos de informações apresentados por qualquer pessoa.

No caso do jornalismo investigativo funciona muito mais o “faro” do jornalista , as boas relações com as fontes e a persistência.. É importante checar sempre com as fontes, isso não tem erro. É uma relação de confiança”.

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