As dificuldades de envelhecer no Brasil

Thamilyn Vitoria
Agência Comunitária de Notícias
8 min readOct 14, 2020

Apesar de leis que garantem os direitos dos idosos, quem chega à terceira idade pode enfrentar situações difíceis, fruto da desvalorização social dos mais velhos

Por: Thamilyn Vitória

A população está envelhecendo de forma acelerada. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), em 2020, a taxa de cidadãos com mais de 60 anos vivendo no Paraná irá aumentar 4,05%. O índice pode parecer insignificante, mas na prática isso quer dizer que o estado do Paraná ganhará 69.334 idosos, sendo esta a faixa etária que mais cresce no Estado. A projeção do IBGE para o crescimento da população idosa é de que, até 2060, um em cada três paranaenses será idoso.

O Brasil hoje está em sexto lugar no total de população mais idosa do mundo, isso significa 25 milhões de idosos, o que representa 12,5% da população, e gera uma maior responsabilidade do governo. “Principalmente do governo federal, porque a partir dos 60 anos, como prevê a previdência, considera-se a pessoa como idosa. Ela usufrui do que o estatuto do idoso oferece, o mesmo veio para trazer muitos benefícios para esses idosos que tem suas restrições”, esclarece a advogada Eleandra Domingos.

Os idosos demandam cuidados, que, conforme a lei 10.741 que instituiu o estatuto do idoso, devem vir dos familiares. É, no entanto, dever tambem de sua comunidade, do poder público e da sociedade, efetivar os direitos à vida, à educação, à saúde, à alimentação, ao lazer, à cultura, ao esporte, ao trabalho e à cidadania. Mas nem sempre é o que acontece.

“Tem filhos que acabam cometendo crime com o próprio pai, não só físico ou psicológico, mas também financeiro e material. Eles se aproveitam da aposentadoria dos pais ou avós, que às vezes não tem condições de controlar suas finanças por conta de alguma doença”, diz a advogada Eleandra Domingos.

Existe uma política nacional do idoso cujo objetivo principal é assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para promover a sua autonomia e sua participação na sociedade juntamente com a integração. Considera-se idoso, para usufruir o benefício desta lei, a pessoa com mais de 60 anos.

Segundo Eleandra, um dos crimes mais frequentes são os de maus tratos, na esfera criminal. “Onde existem as condutas de agressão física, psicológica, e não passa despercebida a questão de abuso sexual e o abandono”, expõe a advogada.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera maus tratos como uma relação única que causa sofrimentos e angústia, entre a pessoa que mora com o este idoso e o mesmo.

No Brasil, o idoso usufrui da proteção inscrita no artigo 99 do estatuto do idoso: Expor à perigo a integridade e a saúde, física ou psíquica, do idoso, submetendo-o a condições desumanas ou degradantes ou privando-o de alimentos e cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo, ou sujeitando-o a trabalho excessivo ou inadequado. A pena para esses casos é de detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e multa.

A situação do idoso em nossa sociedade é de desvalorização, o que indica a necessidade cada vez maior de o Estado investir em políticas para protegê-los: “O dever do governo é criar políticas que cuidem desse tipo de situação, cada município,cada estado e distrito tem que ter o seu disk denúncia para a contestação deste problema, e encaminhar ao ministério público para constatar o crime”, diz Eleandra Domingos.

Segundo pesquisas feitas pelo site “Último segundo”, a violência contra o idoso cresceu ainda mais por conta da pandemia da COVID-19, chegando a números cinco vezes maiores: ,o número que era de 3 mil registros agora chega aos 17 mil registros de casos de violência contra o idoso do começo do ano de 2020 comparado com agora. A situação é complexa: se por um lado a quarentena evita que os idosos se contaminem com o novo coronavírus, por outro, ao mantê-los em casa aumenta sua exposição aos familiares, que pelos registros costumam ser os principais agressores dessas vítimas.

A liberdade de ser da terceira idade

Presentemente, observa-se que muitos idosos lidam bem com a situação de envelhecer. A terceira idade, também chamada de “melhor idade”, traz desafios, mas pode ser uma fase bastante ativa.”Para mim não tem tempo ruim não, eu saio para dançar, eu tenho um dia por semana de encontro com minhas amigas para jogar baralho, eu até dou umas paqueradas de vez em quando nos bailes da comunidade”, afirma dona Lurdes da Silva, de 68 anos, que enxerga a vida com alegria, e conta que, para ela, a velhice é um tempo de usufruir todo o trabalho que teve durante a vida. Sempre alegre e praticando exercícios todos os dias, ela mora com a filha Maria da Silva, de 49 anos, que cuida e incentiva o melhor lado da terceira idade. “Minha mãe parece muitas vezes uma filha (risos), se comporta como adolecente! Mas o que importa pra mim é ver esse sorriso no rosto dela”, afirma.

Todavia, boa parte dos idosos não consegue superar determinadas circunstâncias devido às mudanças do próprio corpo e de sentimentos de inutilidade, seguindo para o isolamento de seu ciclo social, é o que explica a psicóloga Daiane Monsão.

“O envelhecimento ocasiona diversas transformações na vida do indivíduo (de ordem biopsicossocial) e de seus familiares, com o surgimento de novos direitos e a perda de outros. Consequentemente, diversos problemas físicos, psíquicos e sociais podem contribuir para o surgimento do sentimento de solidão. A solidão é um sentimento de algo vazio e de isolamento que se pode manifestar em todas as fases da vida, principalmente na velhice, mesmo que o idoso conviva com várias pessoas. Assim, a participação de pessoas idosas em grupos de convivência não significa, necessariamente, ausência de solidão. Essa solidão tem, dentre suas inúmeras consequências, a depressão, o comprometimento na qualidade de vida da pessoa e até mesmo o suicídio”, afirma Daiane.

De acordo com a psicóloga, é preciso cumprir a legislação, que garante cuidados essenciais aos idosos. “Percebe- se a necessidade de cumprir as leis do estatuto do idoso a risca para que os mesmos venham a ter mais qualidade de vida e sejam vistos por todos como parte essencial da comunidade, pois já contribuíram de forma positiva em muito tempo de vida para com a sociedade“, finaliza.

A conscientização, perante à família e à sociedade, da necessidade de garantia do bem estar e convívio social da pessoa idosa não deve ser desconsiderada.

Um acolhimento de amor

Diante do crescimento de idosos e do fato de que muitos familiares não podem, ou não querem, cuidar deles, as casas de repouso têm se tornado uma opção cada vez mais procurada para abrigar-lhes. É o caso do Lar dos Idosos de Medianeira Paraná, fundado no dia 12 de dezembro de 1984, por Jandira Aurea Zílio, que queria construir um lugar que abrigaria pessoas da terceira idade. Ela doou sua chácara e, com apoio da sociedade civil, construiu o lar, que, desde então, tem sido um lugar de acolhimento para aqueles que necessitam. Atualmente, o número de idosos abrigados pela Instituição é de 39 — desse total, 9 são mulheres e 30 são homens. A média de abrigamento é de aproximadamente 3 a 4 idosos anualmente.

O lar conta hoje com programações diárias, semanais e mensais, a fim de reinserir os idosos, tanto quanto possível, na sociedade em que vivem, buscando o fortalecimento de vínculos familiares. A programação é constituída por celebrações de datas comemorativas, como: dia das mães, dia dos pais, páscoa, natal, dia do idoso. “Nessas datas realizamos almoços junto à comunidade e familiares, chás da tarde, confraternizações, e celebrações de cultos religiosos”, diz Jessica Helena de Oliveira Ramos, funcionária do lar.

Além disso, são realizados passeios a pontos turísticos do município mensalmente e, semanalmente, há datas pré-estabelecidas para visitas ao lar, sendo elas, religiosas e escolares e da comunidade em geral. Também há tardes de jogos, atividades em grupos e o dia específico para cuidados com beleza. “Temos o Dia da Beleza e atividades lúdicas, elaboradas com a equipe multidisciplinar, desenvolvidas em grupo e individualmente com os idosos”, conta Jessica.

Segundo a funcionária, os motivos pelos quais os idosos são acolhidos pela instituição são diversos. “Porém a base é a mesma: ou não tem condições de autocuidado e/ou auto sustento, ou não possuem cuidadores familiares para ofertar os cuidados necessários. Ou ainda há idosos com vínculos familiares fragilizados, sem condições de reinserção no leito familiar”, explica.

Ela ressalta que os lares devem ser compreendidos como locais de acolhimento e cuidados. “Os idosos que são acolhidos pelas instituições são, em sua totalidade, valorizados e alcançados em suas mais diversas necessidades. Aqueles que têm, além de profissão, como missão, trabalhar em uma Instituição de longa permanência para idosos, têm como base profissional e pessoal a certeza da importância que o idoso tem na sociedade atual, pois sabemos do valor das contribuições que esse idoso já deu para a sociedade, e que agora é o momento de ele usufruir de descanso e tranquilidade”, esclarece Jéssica.

Ela ainda ressalta que, quando há casos de idosos em situação de abandono ou mesmo de maus tratos, a missão do Lar é sempre o acolhimento para proteção e cuidado do mesmo. “A desvalorização do idoso é falta grave, como pessoa, sociedade e instituição, pois o próprio Estatuto do Idoso prevê que é de responsabilidade da família, comunidade, sociedade e poder público a responsabilidade de assegurar os direitos dos mais velhos. Sabendo-se isso, nosso sentimento, como humanos, é sempre de falha, quando percebemos que, como comunidade, estamos agindo de forma errônea, mediante a desvalorização do idoso. Eles, de fato, deveriam receber cuidado, proteção e valorização da sociedade e poder público e de suas famílias”, conclui a funcionária do Lar. .

Marina e Adelino

Eles são irmãos, sim! Irmãos!

Marina moram no Lar desde 2008, e , 12 anos depois, o “Pingo”, veio morar com ela!

O Pingo, sempre foi independente, cuidava de si, tinha sua própria casa e trabalhava, porém hoje está com a saúde fragilizada, e não tem mais condições de autocuidado e não tem alguém que possa ofertar os cuidados que ele precisa, por isso agora veio morar no Lar, para receber os cuidados que precisa.

Desde que ele adoeceu, Marina chorava muito, de saudade, de preocupação, de angústia de não poder ter seu irmão perto. Antes de toda essa loucura de pandemia, o Pingo sempre vinha visitar e passar o dia com sua irmã, mas agora já não podia mais…

Por vezes, temporariamente, a vida separa pessoas, mas nunca corações. Mas o propósito é sempre refazer presenças e restabelecer vínculos, e esse é o trabalho do Lar dos idosos de medianeira que hoje nós estão cuidando da saúde do Pingo e do coração da “nossa Marina!” como eles mesmo falam.

Ela está radiante, com o coração aliviado, porque pode ter por perto e por muito tempo o seu companheiro de infância, seu pequeno irmão, que ela mesma ajudou a criar!

Não é lindo???!

O lar é um lugar de amor, acolhimento e proteção!!

Felizes em ter pessoas como eles para cuidar dessas duas pessoas tão maravilhosas!

História publicada na rede social(facebook) do próprio Lar dos Idosos de Medianeira.

--

--