ESTE É O MEU LUGAR DE FALA

Noah Deolindo
Agência Comunitária de Notícias
3 min readJun 21, 2021

“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. para odiar, como as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar. ” - Nelson Mandela

Medo, rejeição, sofrimento e solidão são sentimentos proporcionados pelo preconceito, preconceito este desmascarado por atitudes e olhares “justificados” por vários fatores, e um deles é uma religião.

É cômico como temos que explicar e provar para a sociedade o porquê de ocuparmos lugares como igrejas, faculdades, barbearias (no caso de homens transexuais), academias e afins. A forma como recebemos olhares de reprovação quando chegamos a lugares onde uma sociedade hetero-normativa predomina é como uma morte quieta e dolorosa.

Engana-se quem pensa que o preconceito aparece com o tempo. ele vem desde que nascemos, seja pelo tom de pele, seja pelo cabelo, seja pela forma como andamos, pelo jeito que falamos e até mesmo agimos.

Aos 7 anos de idade, lembro-me bem da cena como se fosse hoje: minha mãe e minha avó me colocaram no sofá de casa e introduziram uma conversa. como quem quer aconselhar o filho, “essas calças largas e tênis largos, meninas que usam são chamadas de SAPAT-Ã-O, e você não é”.

Aos 24 anos, me denomino homem transexual e me orgulho muito de quem me tornei, das lutas que passei para conquistar o meu lugar de fala. é muito difícil andar na contramão do sistema, como se a vida fosse uma eterna receita de bolo e, se um componente a mais para especificado e consequentemente sair do padrão, está errado.

Me atentei a uma fala de Lucas Guedes (influenciador digital) no podcast “Eu fico loko”. Lucas é homossexual e foi questionado sobre como foi se assumir. Ele responde e argumenta com o desejo de que não precisemos mais nos assumirmos em um futuro próximo, afinal nenhum heterossexual assume ser hétero.

Eu nunca tinha parado para pensar assim. Ora, por que eu preciso passar por todas essas fases de assumir? Porque não é só assumir para a família, primeiro precisamos passar pela aceitação de nós mesmos, depois da família, dos amigos, da sociedade. E todos esses processos nos fazem passar por dores diferentes e todas elas ficam marcadas pro resto de nossas vidas.

É normal que as pessoas estranhem aquilo que é diferente , que foge do cotidiano, mas o que não é normal é o ódio gerado, o desamor pelo próximo por ele apenas ser diferente, e essa tal diferença não muda em nada a vida das tais pessoas “Comuns”.

Há quem diga que preconceito é relativo e contraditório, enquanto para alguns é expressão de pensamento e, para outros, é uma prática que deveria ser abominada. O que precisamos é igualdade. Independentemente da orientação sexual, da cor de pele ou da textura do cabelo, somos todos iguais.

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