Eu estava aqui o tempo todo, só você não viu
“E a dengue?”. Diferentemente do que muitos pensam, priorizar um problema não exclui o outro
Por Ana Cauneto e Luiz Henrique Leal
Sim, sabemos que está difícil, e a quantidade de informação está maior e muito mais avassaladora que normalmente. A ênfase no tema “coronavírus” pode parecer exagerada para uns ou equivocada para outros, e vem sido muito criticada nos últimos dias, visto que algumas regiões estão passando também por uma epidemia de dengue. O fato é que, só porque você não acessou algo, não significa que ele não esteja lá.
Separamos comentários que demonstram essas críticas, com a intenção de reforçar informações sobre a dengue no Brasil e de tentar compreender o motivo que leva alguns brasileiros a afirmarem que a doença, que causou 754 mortes em 2019, foi deixada em segundo plano no cenário atual.
Não, muito pelo contrário!
A dengue mata tanto quanto a Covid-19… mas o que precisamos entender sobre isso?
O novo coronavírus é recente no mundo, e chegou ao Brasil na primeira quinzena de março. Desde lá, ela acumula um número significativo de mortes. Dados obtidos no dia 4 de abril deste ano mostram que o país, em 2020, tinha 80 óbitos da dengue. No mesmo período, registrou 445 mortos pelo coronavírus.
Conclusão: os dois vírus são letais, porém, em proporções diferentes. Uma coisa, entretanto, eles têm em comum: quanto menos prevenção e responsabilidade mais o número de mortes vai aumentar.
BREAKING NEWS: A imprensa fala sobre a Dengue
Pense na quantidade de propagandas, anúncios, notícias que você já viu com orientações sobre a dengue. Imagens de água em telhas, pneus, pratos de plantas certamente vem à mente. Isso porque, há muito tempo, a tentativa de conscientização existe. Mas, em muitos momentos, essa foi a maior preocupação do país.
Depois de alguns anos convivendo com a quase onipresença da Dengue, já é de conhecimento geral que o Aedes Aegypti transmite não só essa, como muitas outras doenças. Mesmo assim, os veículos de comunicação, sabendo de sua importância na formação de opinião da população, optam por utilizar números e dados que ajudam na conscientização daqueles que ainda duvidam do perigo presente em todas as estações do ano.
Para te ajudar a compreender isso, realizamos uma pesquisa que mostra a atuação de portais de notícia ao informar sobre a dengue desde o momento em que a Covid-19 se tornou o mais novo problema em solo tupiniquim.
Desde a confirmação do primeiro caso de coronavírus no Brasil, um dos maiores portais de notícias do país se referiu à dengue 360 vezes. Isso significa uma média de seis publicações por dia.
Com base nos três maiores portais de Cascavel, desde a confirmação do primeiro caso de Covid-19 no país, a dengue foi mencionada aproximadamente 220 vezes. Se comparadas com o mesmo período do ano passado, as postagens relacionadas à dengue nos dois portais analisados aumentaram 52,67%.
Em um dos portais, a checagem final mostrou que, desde a chegada da Covid-19 no Brasil, foram publicadas 51 notícias, o que corresponde a aproximadamente um texto por dia relacionado à dengue.
A mídia continuou falando sobre a dengue como sempre fez. Já o interesse do público sobre ela diminuiu. De acordo com o Google Trends, a busca pelo termo “dengue” diminuiu consideravelmente se comparada com o mesmo período do ano passado.
O gráfico abaixo mostra que, comparada à busca pelo coronavírus, a procura por “dengue” também é baixa.
Talvez seja bom dar um calmante para ela então ¯\_(ツ)_/¯
Vamos explicar a importância da notificação de casos suspeitos, tanto da dengue quanto da Covid-19.
Mesmo que não haja total certeza, identificar esses casos ajuda a controlar a disseminação de uma doença, e auxilia os órgãos de saúde a mapear os locais onde possa ter ocorrido a transmissão.
Sempre é bom lembrar que levar a sério os casos suspeitos é o primeiro passo para monitorar um vírus e assim evitar o início de uma pandemia… Ou seja, apesar de a dengue ser sim muito perigosa, diminuir a importância do conhecimento sobre casos suspeitos de Covid-19 atrasa o entendimento desse vírus, e deixa a população brasileira à mercê de não uma, mas duas doenças perigosas.
A preocupação com a Dengue não é de hoje…
A dengue é conhecida no país desde os tempos do Brasil Colônia. O mosquito Aedes Aegypti, de origem africana, chegou ao país com os navios escravagistas, reproduzindo-se nos depósitos de água das embarcações.
A partir do momento em que a população começou a entender a letalidade do mosquito, foram iniciados os esforços para evitar a disseminação e contágio do vírus.
Hoje, é de conhecimento geral que o Aedes Aegypti transmite não só a dengue como outras doenças e, ainda assim, é epidêmico. Por quê?
Não por falta de informação, já que muito se fala sobre a dengue, não só no jornalismo. Assim como se fala sobre a Covid-19. A diferença é que o isolamento não mata o coronavírus, apenas diminui os casos da doença. Já o cuidado com o próprio quintal pode acabar com a dengue. O mosquito vive por falta de esforço da própria população.
Nem tudo está perdido…
Quando falamos de doenças letais, a preocupação se torna muito maior. Não estamos falando de um resfriado simples ou de uma gripezinha, que pode ser resolvida de forma não imperiosa. Quando ouvimos palavras como morte e derivados, nosso cérebro processa o perigo que aquilo tem.
Ao passar por esse momento, torna-se necessário falar sobre ambas as doenças. A grande diferença é que o coronavírus é novo no mundo, e por isso recebe tanta atenção por parte da mídia, o que também explica sua presença constante nas redes sociais, já que estamos todos lidando com algo desconhecido.
É importante que não exista negligência ao apontar qual das duas doenças é mais relevante. Isso não é discutível. As duas são perigosas, porém, os métodos de prevenção de ambas podem ser realizados ao mesmo tempo. Está em isolamento? Limpe o quintal. Muito tempo livre em casa? Coloque areia nos pratinhos.
Esses percalços precisam e serão ultrapassados através da união de todos. Como diz Lenine em sua canção:
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência