ISOLAMENTO SOCIAL E OS IMPACTOS NO MEIO AMBIENTE

Como a natureza se comporta com a ausência das pessoas nas ruas

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Foto: Aline Vitória

Desde dezembro do ano passado, o mundo tem vivido tempos alarmantes e criado medidas para evitar a disseminação do novo coronavírus. No Brasil, o isolamento social está quase completando dois meses. Por este fato, muito se tem debatido sobre a importância da quarentena e os riscos em desobedecê-las. Entretanto, em meio ao caos, é possível encontrar situações positivas que permitem ao ser humano ter esperança que, ao fim disso tudo, muitas coisas mudarão. E uma delas é a questão ambiental.

Pouco se tem falado em como a natureza tem reagido à pandemia e às consequências dela, como, por exemplo, o isolamento social. Mas, uma coisa é unanimidade em todas as reportagens: a natureza está muito agradecida por você ter sumido. De acordo com a bióloga Clair Viecelli, o novo hábito das pessoas em permanecer em casa causou muitas melhorias. “Está sendo uma possibilidade das pessoas pensarem mais nos seus feitos; de como têm cuidado do meio ambiente e, além disso, como têm se preocupado com o próximo, porque podemos ser diferentes e até estranhos um com os outros, mas vivemos no mesmo planeta, então o cuidado é mútuo”, diz.

Com menos pessoas em circulação, a natureza está reagindo em vários lugares do mundo, e de maneira positiva. Em Veneza, na Itália, por conta da diminuição dos turistas e a paralisação das gôndolas, é possível ver as águas cristalinas e até peixes nos canais. Na Índia, a situação foi tão espetacular que, após 30 anos, a população consegue ver o pico das cordilheiras do Himalaia, que havia “sumido” por causa da poluição. Na China, o índice de poluição caiu devido à redução da emissão de CO2 (dióxido de carbono) e também devido à desaceleração econômica por conta do surto. Contudo, na visão de Clair, com a volta à rotina de antes, todos esses problemas voltarão também. “Isso se deve a como lidamos todos os dias com o ambiente. Seja na emissão desenfreada da poluição, do excesso de lixo gerado e da queima de combustíveis. Além do mais, o desmatamento também faz parte. O nosso dia a dia tem muitos processos errados que dependem de nós mudarmos, e espero que esse momento recluso, seja de reflexão e transformação”, conclui.

Essa realidade está presente da mesma forma no mundo animal. Devido à grande expansão das cidades, os animais têm cada vez menos espaço para viver, como consequência, eles invadem as cidades à procura de alimento. Pelo instinto, qualquer barulho, cheiro ou até a circulação de pessoas os afastaria, por medo, todavia, o isolamento fez com que esse ruído diminuísse e eles pensassem que o lugar está seguro. Questionada sobre essa informação, a médica veterinária, Maria Clara Castanho, conta que “mesmo com toda essa coragem agora, por conta do novo ambiente em que estão, no momento em que todos voltarem ao normal, eles vão se retrair novamente”.

Outro ponto positivo do isolamento social é o aumento da necessidade das pessoas estarem em contato com a natureza. Todo esse distanciamento aumentou a vontade das pessoas de passear no parque, ver os animais, fazer trilhas, entre outras atividades ao ar livre. Portanto, espera-se que com todo esse tempo “preso” em casa, cada pessoa desperte o sentimento de valorização e respeito pela fauna e flora.

Após o balanço geral sobre os impactos da quarentena, é preciso falar também sobre os impactos no âmbito regional. No Estado do Paraná, algumas mudanças precisaram ser feitas devido ao período de maior estiagem dos últimos 20 anos. O grande período de tempo sem chuva e a grande maioria da população em casa, foi o que preocupou o Governo do Estado. Dessa maneira, o governador Carlos Massa Ratinho Júnior assinou no dia 7 de maio de 2020, o Decreto 4.626, que estabelece situação de emergência hídrica por 180 dias no Paraná. O objetivo é agilizar processos e dar prioridade ao uso da água para consumo humano em todo o Estado.

Em função do novo coronavírus e das mudanças que ele trouxe às nossas vidas, a Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná) registrou o aumento médio de 10% no consumo da água na Região Nordeste do Estado, comparando março e abril de 2020 à março e abril de 2019. Além da intensificação dos hábitos de higiene para evitar a doença, a falta de chuva, o calor e o tempo seco também contribuíram para que a população consumisse mais água.

Em algumas regiões do Estado, há registros de desabastecimento em horários de pico, quando muita gente utiliza a água ao mesmo tempo, principalmente no final do dia e durante os fins de semana. A orientação é priorizar o uso da água para alimentação e higiene pessoal. São ações como lavagem de veículos e calçadas que devem ser adiadas até a normalização das chuvas. Também deve-se fechar torneiras para ensaboar as mãos, o corpo e as louças, enxaguando tudo de uma vez só. Cuidados com os vazamentos e controle da quantidade de água consumida, são outras medidas tomadas para economizar a água disponibilizada nesse período.

De acordo com a Agepar (Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Infraestrutura do Paraná), em relação ao valor da conta de água durante o isolamento, a Sanepar não pôde aplicar um reajuste tarifário, e devido a isto, a companhia tem postergado o pagamento das contas da Tarifa Social para minimizar os impactos econômicos para as famílias lesadas.

Em Cascavel, a distribuição da água tem ocorrido conforme os reservatórios da cidade. Todos os dias podem haver mudanças. No momento, não há rodízio entre os bairros, método pode ser aplicado para distribuir a água disponível entre todas as regiões da cidade se a disponibilidade dos reservatórios cair mais.

Falando de meio ambiente e sobre Cascavel, entra-se no assunto: produção de lixo. Durante esse período de quarentena, a prestação de serviços e limpezas urbanas não parou e o lixo produzido, só aumentou. As atividades de coleta, transporte e destinação de resíduos sólidos urbanos e de serviços de saúde precisam ser realizados todos os dias para contribuir no auxílio à prevenção da transmissão do coronavírus, bem como outras doenças e endemias decorrentes do acúmulo de lixo e descarte incorreto.

Durante esse período de isolamento social, foi possível notar um aumento relevante na quantidade de resíduos domiciliares gerados, em torno de 15 a 25% a mais de lixo. E um crescimento bastante considerável na geração de resíduos hospitalares em unidades de atendimento à saúde, de 10 a 20 vezes mais resíduos. São impactos que poucas pessoas reparam, mas que fazem uma grande diferença no meio ambiente.

Seja falando do âmbito regional ou de maneira geral, esse período de isolamento fez muita coisa mudar. Na natureza com os animais, na cor do céu, na ausência de sons, nas emissões que tanto poluem as cidades grandes ou no volume de lixo produzido. “É preciso que, de agora em diante, sejamos mais prudentes quando falarmos sobre meio ambiente. Que possamos entender a importância em mantermos ou mudarmos os nossos hábitos de reciclagem e de limpeza para com a cidade”, finaliza Clair. Portanto, por mais que este momento seja de emoções à flor da pele, é necessário que todos tenham cuidados redobrados com o meio e tenham preocupação em como as novas gerações vão lidar com o planeta. É papel de cada um fazer a transformação nos mínimos detalhes.

Autores: Aline Vitória Rocha da Silva e Luis Gustavo Wasem

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Aline Vitória Rocha da Silva
Agência Comunitária de Notícias

Estudante de Jornalismo do Centro da Fundação Assis Gurgacz, no 8º período do curso. Paixão por escrita e tendência à redação.