Música e corpo humano

Mais do que diversão, melodia e ritmo podem auxiliar na cura de doenças

Antigamente a música era utilizada para manter os ritmos dos soldados que iam para a guerra. Hoje, ela serve, principalmente, para descontrair, para socializar e também para ajudar nos estudos. O ritmo influencia na nossa vida e nós nem percebemos: quando estamos limpando a casa, fazendo exercícios físicos ou em uma festa, nos movemos no ritmo da música — tal como faziam os soldados de antes, o que passa despercebido por ser algo já natural.

Nosso corpo “responde” à música, ela faz sentirmos empatia, fortalece as relações interpessoais.

De acordo com a musicoterapeuta Lívia Pasini, os efeitos da música no corpo humano são comprovados cientificamente, quanto mais você gosta de uma música maior serão as partes do corpo a serem estimuladas. “A música age diretamente no nosso cérebro, com ela conseguimos ativar ambos hemisférios cerebrais e criar mais conexão entre eles. Quanto mais prazerosa for a atividade musical mais ativa ela será. Quando ouvimos uma música, estamos estimulando várias áreas do nosso cérebro. Áreas responsáveis pela memória, expressão, visão e audição, compreensão, concentração, desenvolvimento de linguagem, desenvolvimento motor e também das emoções”, explica.

Durante a Segunda Guerra Mundial, músicos foram contratados para tocar em hospitais para acalmar os soldados feridos. A partir do experimento com os soldados que tiveram uma melhor recuperação quando escutavam música, músicos e médicos formaram um grupo de pesquisa para estudar os efeitos da música na saúde. E, em 1950, foi fundada a primeira entidade nos EUA: a National Association for Music Therapy.

A musicoterapia

Dia 15 de setembro, você sabe o que é comemorado neste dia? Nele é comemorado o dia do musicoterapeuta. A definição de musicoterapia, pela Federação Mundial de Musicoterapia (1996), é: “Utilização da música e/ou seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia) por um musicoterapeuta qualificado, com um cliente ou grupo, num processo para facilitar e promover a comunicação, relação, aprendizagem, mobilização, expressão, organização e outros objetivos terapêuticos relevantes, no sentido de alcançar necessidades físicas, emocionais, mentais, sociais e cognitivas”.

A musicoterapeuta Lívia Pasini explica como é o processo para iniciar o tratamento com musicoterapia: “Inicialmente o profissional irá avaliar o seu paciente, para conhecer o histórico, seus gostos musicais e sua demanda. A Musicoterapia não segue um repertório pronto, para cada pessoa é traçado um plano terapêutico de acordo com o que ela precisa. A música utilizada é a que faz sentido para quem será atendido, é aquela que o emociona, que é significativa para o paciente”.

Lívia explica que pessoas de qualquer idade e gênero podem buscar tratamento na área Não é necessário que o paciente saiba tocar instrumentos, cantar ou ter conhecimento musical. A musicoterapia busca trabalhar potencializando a musicalidade da pessoa.

No tratamento em crianças a música é utilizada para ajudar na estimulação da memória, a coordenação motora, desenvolvendo a criatividade, melhorando a comunicação. Também trabalhando atenção, concentração, desenvolvimento de linguagem, socialização. Ela auxilia no controle das emoções e na compreensão das mesmas.

A terapia com música também é utilizada para pessoas que sofreram um Acidente Vascular Cerebral (AVC). “Nesse tipo de tratamento ela irá utilizar a música para estimular as áreas que foram prejudicadas. Melhorando os movimentos, a linguagem, trabalhando auto estima e promovendo maior qualidade de vida”, comenta a Musicoterapeuta Lívia Pasini.

(Instrumentos musicais são utilizados para terapia em grupo com idosos; Fotos retiradas do site Centro Benenzon)

Como a musicoterapia pode auxiliar no tratamento do Alzheimer?

De acordo como o Ministério da Saúde, Alzheimer é uma doença neurodegenerativa progressiva que se manifesta apresentando deterioração cognitiva e da memória de curto prazo e uma variedade de sintomas neuropsiquiátricos e de alterações comportamentais que se agravam ao longo do tempo. E a musicoterapia pode ser utilizada no tratamento para pessoas com Alzheimer, pois: “Ela busca resgatar a memória. A música remete a sentimentos de algo vivido e traz sensação de conforto e bem estar. Estudos mostram que quando tocada ou cantada uma canção familiar à pessoa, que foi significativa, ela ainda se recorda dessa canção”, esclarece a musicoterapeuta Lívia Passini.

A musicoterapia pode contribuir não apenas para minimizar os sintomas psicológicos e comportamentais da demência, mas também para estimular a memória para fatos e eventos e as diferentes formas de expressão.

A música no tratamento psicológico

A música também pode ser utilizada no tratamento psicológico, pois ela trabalha diretamente com o nosso cérebro. A psicóloga e mestre em psicologia Mayara Nunes Almeida e a psicóloga e especialista em psicologia infantil Camila Mendes explicam como a música pode ser usada nos tratamentos psicológicos.

Para elas, “Toda forma de arte possui uma potência transformadora de humanização, visto que entra em contato com os sentimentos de cada pessoa possibilitando transformações psicológicas. Pode ser utilizada por meio da escuta ou leitura da composição musical, ainda, pode ser utilizada em diversos contextos e para todas as idades, pois a música permite uma sensibilização e a letra também nos permite fazer reflexões sobre diferentes assuntos e sentimentos”.

O ritmo e as letras possuem um poder muito grande em nossas vidas e, por isso, a música pode ser utilizada nos tratamentos como depressão e ansiedade. Mas como ela pode ser trabalhada nesse tipo de método terapêutico? “Ela permite a ampliação da consciência e a compreensão dos sentimentos resultada em mudanças qualitativas na vida das pessoas. Tendo em vista que, o sofrimento psicológico, nesse caso, a depressão e a ansiedade, são desencadeadas por fatores de riscos sociais, como por exemplo, trabalho, relacionamentos, famílias, situações de violência, pobreza e tudo aquilo que compõe a vida de cada ser humano”, explicam as psicólogas.

Toda forma de cultura possibilita uma mudança na vida do ser humano, e a música trabalha tanto na mudança de comportamentos e também muda seu organismo ao escutar músicas que remetem a uma lembrança boa ou ruim de um momento de sua vida. Ela possibilita uma reflexão para cada indivíduo. “É importante destacar que não é toda letra que promove essa ampliação/transformação das funções psicológicas, ela precisa conter elementos que possibilitem essa reflexão e ampliação”, ressaltam as psicólogas.

Quando falamos do tratamento em crianças a música é utilizada em diversos contextos, pois cada tratamento é diferente. “É importante considerar a faixa etária e qual a demanda apresentada pela criança para que se encontre uma música que faça sentido no processo de atendimento”, aponta a psicóloga e especialista em psicologia infantil Camila Mendes.

O tratamento psicológico específico em música cabe ao profissional que se especializou nesta área, pois ele deve pensar na arte como algo que pode ajudar as pessoas e saber como ela ajuda, para fazer o tratamento da melhor maneira possível e para cada tipo de pessoa. “O profissional deve ter conhecimento do motivos da utilização do instrumento, nesse caso a música, para que ele possa efetivamente contribuir. Apenas ouvir a música com a pessoa atendida não significa que foi possibilitado transformação”, finalizam as psicólogas.

(Foto retirada do Blog Educação e Transformação)

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