O Coronavírus no interior

Clara Franzmann
Agência Comunitária de Notícias
5 min readApr 15, 2020

Panorama de Marechal Cândido Rondon em meio à pandemia causada pelo novo Coronavírus

A cidade conhecida por muitos como “Alemanha Tropical”, com cerca de 50 mil habitantes, forte produção agrícola e fabril no Paraná, mostrou-se resistente em adotar as medidas proposta pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Enquanto cidades vizinhas já estavam com o comércio de portas fechadas, muitos rondonenses continuavam a circular pela cidade e não levando em conta os riscos trazidos pelo novo Coronavírus. O comércio permaneceu funcionando sem restrições.

A doença chega à cidade

Marechal Cândido Rondon teve o primeiro caso da Covid-19 de forma abrupta e imigratória. A confirmação veio a público no dia 24 de março. O infectado é Thiago Wild, tenista que está na cidade por conta da pandemia, mas reside atualmente no Rio de Janeiro onde treina. A família de Thiago é natural e residente de Rondon. O jovem, que fez a testagem ainda quando estava no Rio de Janeiro, veio para o interior paranaense e foi visto por diversas pessoas circulando pela cidade, inclusive comparecendo a lugares como cartório e supermercado, quebrando assim a recomendação de isolamento. O tenista fez publicações em redes sociais confirmando estar infectado, mas que passava bem. Após a indignação da população muitos comentários se espalharam pela cidade e tiveram aqueles que usaram as redes sociais para tirar satisfação com o atleta, que por sua vez se posicionou afirmando que havia cumprido todas as recomendações que lhe foram passadas. A polícia civil investigou o caso e determinou que Thiago pague uma multa de R$ 30 mil caso descumpra a determinação de isolamento social e a família dele também está sendo acompanhada.

O vai e vem de decisões

Antes da confirmação do primeiro caso a prefeitura anunciou medidas para combater a disseminação do vírus. Escolas e o comércio da cidade foram fechados, a prefeitura da cidade passou a atuar à portas fechadas. A indicação dos órgãos municipais era para que a população rondonense se mantivesse em casa, respeitando o isolamento social e em quarentena. Mas a medida não foi duradoura, após a aproximadamente dez dias com somente mercados, farmácias, hospitais, indústrias, lanchonetes e restaurantes em funcionamento, o prefeito, junto a AMOP, decidiu por liberar a reabertura do comércio no dia 31 de março (terça-feira). As aulas da rede pública vão respeitar o calendário estadual e voltar somente quando colégios estaduais também voltarem às atividades. No entanto, o vai e vem nas decisões do município não param por aí: cinco dias após a reabertura do comércio ele fechou novamente.

Hospital de Campanha

O local onde normalmente são realizados os grandes eventos da cidade, principalmente festas, está passando por mudanças. O Centro de Eventos Werner Vander foi o local escolhido para o hospital de campanha que está em construção. Ele terá capacidade para 76 leitos e o investimento é de R$ 320.000,00 para adaptação do local, além deste valor está previsto o investimento mensal de R$ 575.000,00. Vale ainda ressaltar que o município conta com dois hospitais que foram fechados nos últimos dez anos e que não terão as estruturas aproveitadas durante a pandemia, mas os equipamentos foram solicitados pela prefeitura.

Comportamento da população

O isolamento social e as recomendações para que a população fique em casa foram repassadas a todos em Marechal, mas ao sair nas ruas da cidade a impressão que se pode ter é outra: muitos idosos transitam normalmente, os bancos apresentam filas todos os dias e a procura pelos mercados ainda é corriqueira. Alguns estabelecimentos adotaram medidas para o combate a Covid-19 como a distribuição de álcool gel e medição de temperatura para os clientes, fatos que parecem não ter coagido ou amedrontado os moradores da cidade. Nas tardes de domingo uma das principais avenidas da cidade, a Av. Irio Welp, contínua com fluxo alto, principalmente por pessoas que praticam exercícios físicos. A caminhada e o ciclismo são muito comuns nela.

O número de mortos registrado no Brasil e no mundo assustam algumas famílias rondonenses que, para evitar o contágio e disseminação do vírus, tiveram que mudar totalmente as rotinas. O casal Dulce e Adauto Nodari, ela com 57 e ele com 62 anos, antes da pandemia vivia uma rotina agitada por conta do trabalho. Adauto é engenheiro civil e há mais de 20 anos tem seu escritório na cidade, onde, até antes da pandemia, ficava aberto todos os dias e quando não estava lá continuava trabalhando em campos de obras ou reuniões. Com o surto do Coronavírus, Adauto trabalha de portas fechadas, ainda atende em horário comercial, mas pela internet e, em casos de extrema urgência, os clientes podem ir até ao escritório com horário marcado tomando os devidos cuidados. Já na chegada o Engenheiro deixa todos os dias um pano no chão embebido de uma solução que ele mesmo prepara (água e água sanitária) e indica que seus clientes usem álcool em gel. Segundo ele. essas foram as recomendações que foram passadas pela própria vigilância sanitária, que tem acompanhado de perto o comércio rondonense.

Dulce, a esposa de Adauto, também teve mudanças na rotina. Ela atua como revendedora de produtos de beleza e não faz mais visitas para as clientes, nem recebe elas em casa, como era muito comum. O casal tem adotado todas as recomendações que são passadas, seja pela OMS, prefeitura da cidade ou vigilância sanitária e entendem que é isto que precisa ser feito por todos.

A, questão econômica preocupa os dois já que muitas obras e projetos que Aduto estava trabalhando foram paralisado e as vendas de Dulce caíram muito. Ela, que atua como microempreendedora, já solicitou o auxílio cidadão que está sendo oferecido pelo governo federal a pessoas que preencham uma série de pré-requisitos, como ser micro empreendedor individual, contribuinte individual ou facultativo do regime geral de Previdencia Social, trabalhador informal, ganhar renda maxima estipulada pelo governo, entre outras, mas para eles esta não é a maior preocupação e sim o que tem tirado o sono do casal é a doença, eles temem pelo que ainda pode acontecer.

Suely Takashima é figura conhecida na cidade, ela que é professor de inglês e empresária e teve que tomar inúmeras decisões nas últimas semanas. Sócia de um escola de inglês, cancelou as aulas e dispensou a equipe para que trabalhassem de casa. Com compromisso firmado entre a escola e seus alunos Suely e seu corpo docente para ela a rotina se intensificou e o trabalho em casa é encarado como se estivesse no próprio escritório.

Os trabalhadores autônomos buscam formas de continuar trabalhando em meio a pandemia, mesmo com os riscos de convívio social, alguns não tem muita opção. O Advogado Robin Jarabiza continua visitando alguns de seus clientes que estão com processos em andamentos, mas teve a jornada de trabalho reduzida pelo fechamento do fórum e paralisação de ações.

Na manhã de terça-feira (07 de abril) uma carreata com aproximadamente 300 veículos foi realizada na cidade. O movimento é favorável à reabertura do comércio e foi organizada por um grupo de comerciantes apoiadores do presidente da república Jair Bolsonaro.

O comércio agora segue aberto, as ruas da cidade estão cada dia mais cheias e a população tem voltando a sua rotina mesmo com dados incertos sobre a crescente na curva de contaminação do novo vírus. Medidas como a obrigatoriedade do uso de máscaras em supermercado e farmácia e o distanciamento em filas foram adotados, prevalecendo a preocupação com a economia e não com a saúde.

Casos confirmados e suspeitas

Até a data do fechamento deste texto (14 de abril de 2020), Marechal Cândido Rondon tem dois casos de Covid-19 confirmados, 80 notificações e 4 casos suspeitos. 50 pessoas já foram liberadas do isolamento por terem casos descartado e o município aguarda o resultado dos testes que foram encaminhado para o Lacen (Laboratório Central do Estado do Paraná).

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