O Senhor Destino

Rgnascimento
Agência Comunitária de Notícias
4 min readJun 21, 2021
imagem — Freepik

Como fazemos para nos relacionar com a vida? Em diversos momentos, estamos em conflito com o Senhor Destino, que está sempre de sobretudo, disfarçado para não descobrirmos o que ele está guardando em seus enormes bolsos para as nossas vidas. Aliás, sabe-se que dependemos apenas de nós mesmos para ditar esse caminho que o Senhor Destino está desenhando.

Maria, com 14 anos, em uma das esquinas da vida, se encontrou com o Senhor Destino. Em uma dessas crises familiares que muitos de nós já enfrentamos, se deu conta de que o velho estava esperando por ela, esperando apenas uma iniciativa…

Os dois ali ficaram, conversando por horas e horas. Engraçado pensar que o Destino também sabia conversar sobre o passado:

- Pois é, Senhor Destino, como você já deve saber, venho de uma família muito tradicional. Caramba, sou a 4ª de 5 filhos! Porém, vejo que quero poder conquistar meus sonhos com meu próprio esforço — Mal sabia ela que em uma das mangas de seu sobretudo estava guardado justo isso.

Com um leve sorriso no rosto, feliz estava Destino por acertar mais uma vez em seus planos. Sabe-se que em muitas vidas as escolhas que são feitas por ele, mesmo sendo para uma causa maior futuramente, são mal vistas pelos olhares leigos.

“Destino é quieto, apenas escuta, mas as pessoas sabem as respostas dele apenas por seus suspiros e olhares.”

- Sempre estou de bem com a vida, com prós e contras em casa não me faltam relacionamentos, mas me vejo um pouco sem voz, sem vez para dar opinião e sem outros ouvidos para ouvir, isso me incomoda! — Mais uma vez o velho olha para ela como quem diz: “você sabe muito bem o que deve fazer”.

Foram horas de conversa, até que Maria se sentiu totalmente descarregada, sem nada que entalava sua garganta (também, nem o Senhor Destino sabia mais onde e quando iria parar essa conversa), ambos deram as mãos e partiram. Maria acredita que essa conversa abriu sua mente para um universo cheio de possibilidades.

Dali para frente, teve toda certeza de que dependia apenas dela para chegar aonde pretendia. Em um ano à frente, Maria já estava trabalhando. Sabia que não teria a mesma facilidade que seus irmãos, mas não ligava.

- Aos poucos, vou percebendo que eu já não posso mais depender totalmente dos meus pais para as minhas coisas, bem que aqueles suspiros e olhares estavam certos… — Maria vivia pensando em voz alta enquanto cantava e tocava em seu violão Amor Perfeito, do Roberto Carlos.

Trabalhar, estudar, ter vida social, para muitas pessoas pode parecer algo simples, que todos fazem, mas, em contrapartida, para outras, cada pedacinho dessa rotina vale muito. E a cada mês de trabalho Maria pressentia que o Velho que já não via há muito tempo, de alguma forma, estava ali, lhe observando, vendo cada progresso, cada conquista. O Senhor Destino já foi observador de pássaros, era especialista nisso.

Mesmo com sua perseverança e vontade de viver, Maria ainda tinha um pé atrás para se jogar de vez no que gostava, talvez fosse seu medo de falhar, de não conseguir se desenvolver no seu sonho. Um sonho de se tornar jornalista, independentemente da área, o princípio seria uma faculdade. Mas como todas as vezes em que insistiu em algo, o Senhor Destino lhe estendeu a mão de forma sorrateira para ajudar. Por que não de novo?

Já era o ano de 2019, Maria decidiu, entrou na faculdade e, seja o que a vida lhe trouxesse, se jogou de cara em meio aos estudos, ela já trabalhava, por que não gastar seu dinheiro em algo que lhe traria mais felicidade?

Hoje em dia, quando Maria anda pelas ruas pilotando sua moto, volta e meia dá carona para o Senhor Destino (que se arrisca em andar sem capacete, para não tirar seu enorme chapéu) e, mesmo com dois trabalhos diários e faculdade, ainda há tempo de conversar com ele de vez em quando…

- Eu sou muito feliz, estou levando tudo com tranquilidade, toda a experiência e história me ajudou a perceber que, realmente, no fim sou eu por eu mesma.

- O Senhor Destino dá uma respirada profunda, de alívio (pois sabe que ela se tornou uma pessoa independente).

- E deixo a vida só me levar, seja o que Deus quiser mesmo, amanhã posso estar fazendo coisas totalmente diferentes, mas sei que vou estar feliz.

No final desta curta carona, ela dá um abraço em seu velho amigo, de quem já se sente super próxima, sabe que pode largar a vida nas mãos dele, confia e “deixa a vida levar”, com tranquilidade e gentileza se despede, quem sabe quando vão se encontrar de novo, já houve épocas em que foram 9 meses.

Até mais, Senhor Destino, agradeço por tudo até aqui — e cada um seguiu o seu rumo, como um rio segue seu percurso…

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