Os milhos de Dona Maria

Rafa Rafagnin
Agência Comunitária de Notícias
5 min readApr 2, 2020
Fotos: Rafaela Rafagnin

De origem indígena caribenha, seu nome significa “sustento da vida”. Alimento básico de várias civilizações importantes ao longo dos séculos. Nossos ancestrais Maias, Astecas, Incas e Olmecas o reverenciavam na arte e na religião. Já na Umbanda, sua espiga é oferenda para o orixá Oxóssi, como representação de fartura.

Quando na forma de grãos secos, é considerado cereal. Já quando está fresco, é reconhecido como legume.

Versatilidade, nutrição e história de um alimento conhecido há séculos: O MILHO.

Sem muito saber sobre a biografia desse vegetal tão popular, na Rua da Lapa, bem em frente ao pátio da Cettrans, encontra-se a Dona Maria Moraes, moradora do bairro Alto Alegre, região oeste de Cascavel. Com olhar atento aos carros que passam, não disfarça a preocupação com o sustento família.

A comerciante autônoma que há sete anos estabeleceu seu ponto de venda de espigas de milho para reforçar o orçamento, manifesta sua posição frente à pandemia: “Eu tenho medo, mas tô usando álcool. E não posso parar, senão minhas espigas murcham e eu perco minha plantação. O negócio é rezar pra Deus mandar chuva, e não deixar ninguém morrer”.

Sua rotina consiste em “quebrar milho”, termo utilizado para se referir ao ato de colher, ensacá-los e levá-los até o ponto de venda onde ela e o filho Emerson se prontificam a atender quem passa.

Em seu tempo livre, produz peças em crochê, que também são dispostas para venda. “No meio da tarde dá uma aclamada, e além de terapia eu ainda posso vender”, comenta sobre seu artesanato.

Tapete de crochê exposto para venda, enquanto o rolo de fios descansa até a próxima pausa nas vendas do milho.

Seu produto fresquinho e muito cheiroso é colhido por ela mesma, em sua propriedade rural localizada próximo à Copaza, no Rio da Paz, e lá ao lado do Ciro Nardi, em uma caçambinha anexada ao veículo, dispõe as espigas e reflete sobre a pandemia mundial que “tá chegando no Brasil”, como ela mesma diz.

Ao ser questionada sobre a economia nacional, Dona Maria diz que não sabe muito bem como vai ser daqui pra frente, mas assegura que pretende continuar fornecendo seu produto enquanto for possível, e relembra o último episódio de perda significativa. Em julho de 2019, durante um período severo de estiagem, perdeu toda a produção. Calcula ela que cada saca de 20 kg rende cerca de R$ 600, em média, com mais de 30 sacas. “Foi difícil, por isso tem que se apegar a Deus”, completa Dona Maria, com um sorriso no olhar.

O processo de retirada da palha é feito ali mesmo, por ela, que, atenta, ajuda a escolher as melhores espigas para cada tipo de prato. “Espigas mais amarelinhas são boas pra bolo”.

Já a palha que envolve as espigas é reaproveitada para alimentar os bezerros da chácara.

A dúzia do milho custa R$ 10, e você mesmo pode escolher suas espigas.

Além de milho, Maria também oferece abóboras, artigos coloniais como melado, frango caipira e mandioca já descascada, que, segundo ela, “É muito macia, só colocar na panela que ela já derrete”. A comerciante atende também encomendas, pelo telefone 45 99811 6025.

Produtos expostos para venda

Um alimento rico

O milho, além de fibras, possui proteínas, vitamina A, vitaminas do complexo B, ferro, potássio, fósforo, cálcio e celulose. E já que um dos sintomas da Covid-19 é a disfunção intestinal, que tal fortalecer esse intestino aí? A quantidade de fibras encontradas no milho favorece uma melhora da função intestinal, responsável pela absorção de nutrientes.

Não contém glúten, portanto, pode ser consumido por celíacos, e, por ser uma opção de baixo índice glicêmico, é ótima opção para portadores de diabetes tipo 1 ou 2.

Como se sabe, o momento atual é bastante delicado, sendo necessário o apoio e incentivo aos pequenos produtores, autônomos e microempresários. Hoje, mais do que nunca, a empatia e a consciência de consumo devem entrar estar voga.

Então, agora que você já conhece as propriedades e a milhografia desse grão/vegetal/cereal/legume tão versátil, sabe onde encontrar essa iguaria fresquinha, e ainda pode colaborar com a economia solidária, dá uma passadinha lá na Dona Maria. Ela escolhe as espigas mais bonitas pra você (tarefa difícil, já que todas são ótimas). Corre pra casa, se isola e faz essa receitinha deliciosa de Bolo Salgado de Milho, que cai muito bem com um cafézinho. Para além de alegrar a Dona Maria, agrade também seu paladar, aprecie sua própria companhia e colabore no fomento do ciclo econômico solidário.

Ah, não pode esquecer: quando visitar Dona Maria ou qualquer outro comércio, seja consciente e responsável. Pratique as medidas de proteção, higienize suas mãos, mantenha a distância adequada e toque o menos que puder em cada item. Se puder, leve o dinheiro contado, para evitar manuseio com cédulas e diminuir ainda mais o risco de contaminação.

Cuide-se, proteja-se, bom apetite e sorte, muito boa sorte, a você e sua família.

DELICIOSO BOLO SALGADO DE MILHO SAUDÁVEL E NUTRITIVO

Você vai precisar de:

.5 espigas de milho verde (cortar os grãos da espiga com uma faca)

.2 ovos

.meia xícara (chá) de óleo

.meia xícara (chá) de leite

.1 colher (chá) de sal

.2 colheres (sopa) de temperos de sua preferência (salsinha, cebolinha, orégano, etc.)

.meia colher (sopa) de fermento em pó

.1 cebola pequena picada

.100 g de queijo muçarela em cubos

.2 colheres (sopa) de queijo parmesão ralado

MODO DE PREPARO

Em um liquidificador, bata o milho verde, os ovos, o óleo e o leite, até ficar homogêneo. Adicione o sal, os temperos e o fermento em pó. Coloque em uma forma de furo central, untada com óleo e polvilhada com farinha de trigo. Acrescente a cebola e o queijo muçarela e leve ao forno médio (180°C), pré-aquecido, por cerca de 30 minutos.

Na metade do tempo, polvilhe o queijo parmesão ralado.

Prontinho (:

--

--