Uma nova fake news, um novo infectado

Fake news foi a palavra do ano em 2017. O dicionário inglês da editora Collins elegeu o termo após a popularização de notícias falsas na internet durante a corrida presidencial dos Estados Unidos. Nessa época o escândalo envolveu, principalmente, o atual presidente norte-americano, Donald Trump, que utilizou da mentira para subir ao poder. A partir desse ponto, o Jornalismo do mundo todo começou a passar por uma crise de credibilidade e declarou uma guerra contra as fake news, que segue até hoje.

Somando as notícias falsas ao momento histórico e complicado que estamos vivendo, rodeados por uma pandemia viral que tem deixado vítimas por todo o mundo, a equação se torna um completo caos. Ainda passando por crise e sofrendo ataques de autoridades, inclusive por parte do Presidente da República, a imprensa vem sendo sufocada por trabalho, estresse e falta de reconhecimento. E, durante este período, no qual inúmeros casos de coronavírus estão sendo confirmados e o sistema de saúde pode estar próximo de um colapso, as mentiras lançadas, sem responsabilidade, na internet, estão cobrando seu preço.

Os grupos de WhatsApp são os principais canais de disseminação de notícias falsas sobre o coronavírus. Por lá, diversos textos e vídeos com informações inverídicas são compartilhadas entre amigos, famílias e desconhecidos, falando sobre a cura para a Covid-19, métodos caseiros para se prevenir da doença e suposições sobre o surgimento do vírus, além de outras infinidades de boatos. A cada vez que o conteúdo mentiroso é passado para frente, mais pessoas ficam vulneráveis e correm um risco ainda maior de serem infectadas.

Muitas das fake news carregam mensagens cheias de milagres e esperanças em demasia, já a imprensa traz a realidade dura e cruel e acaba sendo vista como um carrasco. Claro que, por conta do medo, a inclinação para acreditar nas mentiras, que trazem segurança, acaba sendo mais fácil que confiar nas verdades ruins. E, continuando por este caminho, as pessoas decidem por não seguirem as recomendações oficiais divulgadas pelos meios de comunicação, uma vez que há outra informação, muito melhor, que afirma que se já pratiquei algum esporte na vida, automaticamente, estou fora do risco de ser infectada.

Em um cenário extremo, como este de pandemia e mortes por vírus, uma ‘simples’ fake news pode custar a vida de alguém. Tudo porque ao lado de uma notícia falsa está a desinformação, a vulnerabilidade e a ignorância. E o período eleitoral e pós-eleição de Donald Trump — que também se baseou em mentiras — é um belo exemplo disso, já que os diversos ataques racistas e xenofóbicos do presidente, contendo informações falsas sobre latinos, muçulmanos e negros, acabou validando o argumento de muitas pessoas para ceifar ou arruinar algumas dessas vidas. Por isso as notícias falsas são tão preocupantes, são as vilãs da nossa história. E se não pararmos para pensar agora, neste momento de crise global, que as fake news estão andando de mãos dadas com os nossos maiores inimigos, pode chegar um tempo em que essa simples percepção venha tarde demais.

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