Vida de modelo por trás das câmeras

Bianca Feltrin e André Bariquelo contam sobre a rotina de quem atua no mundo da moda: “É cansativo”

Sabemos que a pandemia levou ao cancelamento da maioria dos eventos em que era essencial a interação e a presença do público. No mundo da moda não foi diferente, os desfiles precisaram ser interrompidos e as agências diminuíram o número de contratações, pela necessidade de cortar gastos. Em entrevista com os modelos André Bariquelo e Bianca Feltrin, eles contam como é a carreira, por trás das câmeras, e como foi vivenciar a pandemia no mundo da moda(ambos estavam em São Paulo quando o período de isolamento começou).

História de modelo

Bianca Feltrin iniciou o trabalho como modelo com apenas 14 anos. O primeiro job foi um ensaio fotográfico em um e-commerce para a banda Jacinto. Em seguida, participou de outro ensaio fotográfico, dessa vez para a revista Vogue. Ela conta que desde a infância, teve o interesse em participar de ensaios fotográficos e de desfiles de passarelas, mas seus pais tinham receio pela filha. Além disso, a área exige muito trabalho e dedicação, é preciso ter um bom comportamento e estar disposta a tudo que a agência pode oferecer. Mesmo assim, Bianca não desistiu, a cada dia que passava o interesse e a vontade de desfilar pelo mundo aumentavam e, apesar de todas as dificuldades e barreiras que apareceram no caminho, ela manteve o foco e foi conquistando trabalhos. Bianca realizou seu sonho de participar de desfiles, tanto no Brasil como na Ásia e na Europa.

André Bariquelo iniciou os trabalhos em Cascavel quando um dono de agência de Curitiba o convidou para trabalhar como modelo. André fez todos os processos necessários, desde a seleção de roupas até cursos de maquiagem, fotografia e poses. Ele conta que a agência, com a qual não trabalha mais, o ajudou muito em seu crescimento na carreira e foi com ela que começou os trabalhos em São Paulo.

Ele relata que a cidade é uma excelente para modelos, com muitas oportunidades para quem quer atuar na área da moda.

“A moda não é apenas o desfile, o desfile é importante, porém precisa ter personalidade e mostrar quem é você na passarela. E tudo depende do casting que eles querem, e não é apenas o corpo, são outros quesitos”, diz o modelo.

Moda na pandemia

O período mais quente na área da moda no Brasil é o da São Paulo Fashion Week, quando modelos do país inteiro vão às passarelas. Em 2020, contudo, por conta da pandemia, o evento não aconteceu. Muitos modelos sentiram uma diferença drástica nesse período, pelo fato das atividades deixarem de ser presenciais, para algo online, totalmente fora dos costumes muitos desistiram da carreira por esse motivo, e outros acabaram criando mais impulso ainda, pela facilidade que se tornou para fazer um book dentro da própria casa com apenas a câmera do celular .

André conta que foi muito difícil ver tudo fechando e os eventos não acontecendo. Com isso, muitos de seus amigos não trabalharam e deixaram de ganhar grandes quantias. Alguns deles deveriam receber R$60.0000,00 para desfilar na Fashion Week. Para o modelo, que também trabalhava em outros empregos, foi ainda mais difícil. “Em São Paulo, eu não vivia apenas da moda, o custo de vida era alto e os salários não eram dos melhores, precisei fazer extra em bares em todo tempo que estive lá. Com a pandemia, como eu não tinha mais como sobreviver na cidade sem os bares onde fazíamos os extras e sem a moda, a solução foi voltar para casa. Logo sai da vida de modelo e consegui sair da vida de loucura que era trabalhar, treino e foco para manter o corpo. Eu vi que estava na carreira não pelo meu sonho, mas sim por uma ilusão”.

Bianca conta que obteve seus lados positivos e negativos com a pandemia, a tecnologia ajudou muito as modelos, mas acabou atrasando alguns trabalhos.

“Foi uma revolução no mundo da moda, onde descobrimos o lado digital de tudo. Começamos a fazer fotos dentro de casa, usando o próprio celular, se apresentar, fazendo pose, e até muitas marcas e clientes usam isso a favor, não precisando mais encontrar o modelo para contratar. E o lado ruim foi quando deu início a pandemia os trabalhos foram cancelados, e até o último trabalho que eu fiz foi um desfile, e em cima da hora cancelaram com o público, e as equipes foram reduzidas. Mas a vantagem foi que foi possível gravar os desfiles de vários ângulos. Acabei não ficando em São Paulo, pois todos os trabalhos ficaram incertos, tenho amigas que trabalham uma vez a cada duas semanas, sendo extremamente atípico da rotina que tínhamos antes, fazíamos cerca de quatro trabalhos por semana, super corrido”.

Aceitação na área da moda?

Ter o “corpo perfeito” para as marcas requer uma dedicação muito grande Os modelos contam como funciona tudo isso no mundo da moda: peso, medidas, corte de cabelo entre outros fatores.

André relata que perdeu vários jobs por recusar coisas que não aceitava. “Eu passei por um desfile super importante, porém o produtor disse que gostaria de sair para me conhecer melhor, e no momento conversei com o meu booker, e ele me disse que eu não era bobo em acreditar que era algo relacionado a trabalho. O booker entrou em contato com o produtor, e ele disse que gostaria de ter algo a mais comigo, além do profissional. Na hora eu disse que não, estava ali por trabalho e não para ter relações com outras pessoas, queria conquistar as coisas por mérito meu. Uma semana depois o produtor liga para o booker e diz que fui desclassificado, pois meu perfil não encaixaria no perfil dele”.

André conta também que “É extremamente cansativo fazer dietas, ir para a academia, fazer fotos entre outros trabalhos”.

Já Bianca conta um pouco sobre como foi a parte de aceitação no mundo da moda. “A gente não tem controle da própria vida, isso é uma coisa difícil de se dizer, mas é a verdade. Se eu quiser cortar meu cabelo, eu não posso, preciso pedir autorização para a agência para que ela repasse para os clientes. Além disso preciso refazer o meu book”. A modelo diz não se incomodar pelas mudanças que às vezes são impostas pela agência. “Faz parte do trabalho,é a minha imagem que está sendo mostrada. Mas o que está sendo mais difícil agora, é reduzir alguns centímetros de quadril e manter o controle de peso e de medidas”.

Bianca Feltrin: desfile em Milão e na China

Além do Brasil, Bianca Feltrin se dedicou às passarelas e foi para os dois países de extremos bem diferentes e culturas distintas das quais ela não estava acostumada a vivenciar.

Milão foi seu primeiro trabalho fora. “A concorrência é muito grande, você fica horas de pé para ter uma chance para mostrar pro cliente o porquê ele deve contratar você”.

Depois de dois meses em Milão, a modelo foi para China, e conta que o país, também no que diz respeito ao mundo da moda, é totalmente diferente. “A Europa é considerada o berço da moda, o mercado paga super bem, totalmente diferente da Ásia, onde o trabalho é mais destinado a modelos iniciantes, a gente recebe por hora. Mas Milão conquistou meu coração, tive excelentes oportunidades e fui muito bem tratada em todos os trabalhos que eu fiz”, diz Bianca.

Como em todos os trabalhos, há suas dificuldades, a área da moda é supercrítica em relação ao corpo das modelos. Muitas delas se sentem mal e não aceitam algumas críticas impostas pela agência, acabam se frustrando e desistindo da carreira e algumas vezes até desenvolvem distúrbios psicológicos.

Bianca conta que a maior dificuldade na carreira foi fazer trabalhos fora da sua cidade natal. “Não só pelo fato de cortar laços, mas ter o psicológico preparado sabendo que é preciso ficar longe da família e a única parceira é a mala. Foi necessário a ajuda de uma psicóloga e até mesmo fazer terapias, pois saí de casa muito cedo indo para uma cidade grande como São Paulo”.

Sonho de ser modelo

Muitas crianças na fase da adolescência sonham em ser modelos de passarelas, aparecer em revistas, outdoors, jornais e outros meios de comunicação, e com Sophia não foi diferente. Aos 15 anos, a jovem moça foi em busca de seus sonhos, mas por conta da pandemia e de críticas da família esse sonho foi barrado.

“Meu pai dizia muito que eu iria sofrer nas mãos das agências e que aconteceria uma cena de novela, onde as meninas são sequestradas. Por outro lado, minha mãe sempre me apoiou na carreira, mas, por conta da pandemia, tudo foi por água abaixo por conta da pandemia, onde as empresas não buscaram contratações novas.”

Sophia aguarda ansiosamente o fim da pandemia, mas desde já está se preparando para ir atrás do seu maior sonho, treinando o físico na academia, fazendo dietas, para alcançar o seu sonho.

Bianca Feltrin André Bariquelo

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