Checagem nº 6: Mendes exagera ao dizer que fez o maior programa de asfaltamento de Cuiabá

Lorena Bruschi
Agência Vera
Published in
6 min readAug 28, 2018

O candidato ao Governo Mauro Mendes falou ao Jornal do Meio Dia, da TV Vila Real, sobre seus feitos à frente da prefeitura da Capital

Em entrevista ao Grupo Gazeta de Comunicação no último dia 20 de agosto, o ex- prefeito de Cuiabá e candidato do Governo, Mauro Mendes (DEM), manteve o discurso calmo, sem grandes embates ou acusações a opositores. Na oportunidade, falou sobre seu histórico e exaltou dados da sua gestão na Prefeitura, que chefiou entre 2013 e 2016. Checamos algumas afirmações do candidato.

Saí de Cuiabá com bom reconhecimento e com serviço prestado. Saí com 80% de aprovação, da Gazeta dados, Instituto aqui desta emissora […]

CHECADO COMO: VERDADEIRO

Em seu último ano de gestão Mendes realmente teve a aprovação dos cuiabanos. Cerca de 81% dos eleitores estavam satisfeitos, conforme pesquisa realizada pelo Gazeta Dados, que ouviu 800 pessoas em mais de 100 bairros do município, entre os dias 14 e 16 de outubro de 2016.

Os dados mostraram ainda um aumento de aceitação, em comparação com outro levantamento do mesmo Instituto realizado um mês antes, que apontava 76% de aprovação.

“Fizemos o maior programa de asfaltamento de Cuiabá da sua história, um asfalto de qualidade nos bairros da periferia”

CHECADO COMO: EXAGERADO

Conforme informações da Assessoria da Prefeitura de Cuiabá, o município não possui a mensuração da pavimentação implantada nos bairros nos últimos anos, apenas desde 2017, ano que assumiu o atual prefeito, Emanuel Pinheiro (MDB). A justificativa apresentada é que houve uma “pane no sistema” da Secretaria Municipal de Obras Públicas e todo o histórico se perdeu.

No entanto, após busca de dados oficiais do Geo-Obras, sistema do Tribunal de Contas do Estado, sem ir muito longe, comparamos valores investidos em obras de pavimentação das duas últimas gestões da prefeitura e concluímos que a gestão de Mendes pode não ter sido responsável pelo maior programa de asfalto da Capital. Conforme informações do software, Mendes investiu em pavimentação aproximadamente R$ 24 milhões a menos que a gestão que o antecedeu.

Entre 2013 e 2016, a Prefeitura informou pelo sistema que realizou 13 contratos de obras “concluídas e recebidas efetivamente”, assim classificada pelo TCE. Para esta análise, retiramos a pavimentação da área externa do Centro de Abastecimento da Capital, de R$ 114 mil, por não ter beneficiado nenhum bairro.

Os 12 contratos analisados somaram R$ 42.585.287,26. Consideramos nesta soma três obras de manutenção viária, ou seja, operação tapa buracos.

Veja mapa das obras da gestão Mauro Mendes gerado pelo sistema de fiscalização:

Já entre os anos de 2009 e 2012, concluídas e recebidas efetivamente, a busca encontrou 18 obras entregues em Cuiabá, sendo sete contratos de obras de pavimentação municipal, no valor total de R$ 66.387.237,24. O restante, obras do Estado - parte do pacote de obras da Copa do Mundo. Para o cálculo utilizamos apenas obras da Prefeitura no período.

Veja mapa das obras da gestão 2009 a 2012:

O Geo-Obras é um software desenvolvido pelo TCE para gerenciar informações de obras executadas por órgãos das esferas Estadual e Municipais. Através da combinação das opções de filtros disponíveis é possível obter informações gerais ou específicas sobre as obras.

Em resposta, a assessoria do candidato afirmou que a declaração do candidato é verdadeira, e enviou um relatório de gestão do ex-prefeito com dados da sua gestão, mas sem apresentar dados dos outros anos analisados.

Nota na íntegra

“A declaração do candidato Mauro Mendes foi de “maior”, não de mais cara. Não adianta gastar muito e gastar mal. De 2013 a 2016, foram feitos 202,9 km de pavimentação, 228,2 km de recapeamento, 66,8 km de lama asfáltica, distribuídos em 16 bairros da região norte, 17 bairros da região leste, 25 bairros da região sul e 24 bairros da região oeste. Foi feito mais com menos.

Para que tal informação seja dada como falsa, seria necessário demonstrar que a gestão 2009–2012 tenha alcançado resultados mais efetivos do que a 2013–2016, o que não ocorreu. Dizer que a gestão anterior a de Mauro fez um programa maior por ter gastado mais é o equivalente a dizer que Silval Barbosa fez a maior obra do Estado por ter gasto mais de R$ 1 bilhão com um VLT que nunca andou.”

“Saímos da prefeitura sem absolutamente nenhum escândalo de corrupção, nem nosso, nem dos nossos secretários”

CHECADO COMO: FALSO

Assim que assumiu a prefeitura, em 2013, Mendes foi alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara Municipal para apurar a acusação de que teria favorecido doador de campanha na locação de maquinários pesados para a Prefeitura de Cuiabá, no valor de R$ 4,5 milhões.

Na época, vereadores apontaram beneficiamento de um doador da campanha para a Prefeitura com contratos do executivo municipal. De acordo com dados da Justiça Eleitoral, o empresário Valdinei Mauro de Souza doou R$ 1,2 milhão à campanha eleitoral do prefeito Mauro Mendes. Valdinei seria sócio do empresário Wanderley Torres, dono da empresa Trimec Construções, que enquanto Mauro Mendes figurava como prefeito, ganhou a licitação para oferecer serviços à Prefeitura.

Apesar do alarde na mídia, a investigação não prosperou pois a CPI foi suspensa por uma liminar do juiz da 1ª Vara da Fazenda Pública Gilberto Giraldelli.

Já durante o segundo ano de mandato, o candidato foi investigado pelo Ministério Público Federal por fraude processual na compra de uma mineradora. Reportagem da Veja detalhou a acusação, que apontava que a fraude pode ter custado aos cofres públicos cerca de 700 milhões de reais.

O ex-prefeito foi ainda citado na Operação Ararath, mas o processo logo foi arquivado pelo juiz Jefferson Schneider, da 5ª Vara Federal, e os bens apreendidos foram devolvidos. A Polícia Federal havia instaurado um inquérito para investigar um empréstimo feito por Mauro de R$ 3,2 milhões em 2012 junto a Amazônia Petróleo Fomento, empresa do Gércio Marcelino Mendonça Junior, o Junior Mendonça.

Operação Ararath é realizada pela Polícia Federal, responsável em apurar a realização de pagamentos ilegais do Governo para empreiteiras, além do desvio de recursos em favor de agentes públicos e empresários por meio de instituição financeira clandestina.

Em resposta, a assessoria afirmou que toda figura pública está sujeita a ser alvo de acusações e isso, por si só, não é suficiente para transformá-la em “alvo de escândalo”. Caso contrário, bastaria a qualquer cidadão/adversário político fazer denúncias infundadas para tornar um político envolvido em crimes.

Nota na íntegra:

“A acusação de fraude em leilão de mineradora não possui qualquer relação com o exercício de Mauro Mendes enquanto prefeito de Cuiabá.

O inquérito da Operação Ararath — que também não tinha relação com a gestão de Mauro — também foi arquivado por absoluta falta de provas. Em resumo: durante a gestão de Mauro à frente da Prefeitura de Cuiabá não houve nenhuma acusação de caso de corrupção envolvendo desvio de dinheiro público do município ou qualquer crime praticado pelo prefeito, no exercício do cargo”.

Vale destacar que os casos citados por essa reportagem não tem nenhuma relação com o mandato de Mauro como prefeito.”

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