Relatório mostra que imprensa de Mato Grosso foi investigada durante Ditadura
Antero Paes de Barros e Ronaldo de Arruda Castro foram citados como militantes de organizações subversivas
Escrito por Lorena Bruschi
Perto do fim do regime militar, em julho de 1983, chega a Mato Grosso um pedido de investigação diretamente da Agência Central do Sistema Nacional de Informação (SNI) a respeito de uma suposta “infiltração comunista nos órgãos de comunicação social”.
A ordem se estendeu a várias Capitais. No entanto, a agência do SNI de Campo Grande ficou encarregada de levantar os profissionais da imprensa de Cuiabá que faziam oposição ao regime, e apontou os nomes de Antero Paes de Barros Neto, e Ronaldo de Arruda Castro como militantes de “organizações subversivas”.
“Comunista” e ‘’subversivo” eram termos utilizados como acusação criminal, que era punível com detenção na época — conforme decisões do Supremo Tribunal Federal durante a Ditadura com base na Lei de Segurança Nacional de 1967.
No pedido de busca, a justificativa é clara: a abordagem em coberturas da imprensa de fatos ligados a movimentos de esquerda, como pronunciamentos de políticos, entrevistas de personalidades de esquerda, e consultas populares tendenciosas e com respostas contestatórias ou desfavoráveis ao governo.
“Este trabalho é desenvolvido graças à presença de comunistas nas redações dos jornais e revistas e nos bastidores das rádios e televisões’’, diz trecho do material, que trata de isentar os donos dos jornais e responsabilizar jornalistas pelo conteúdo que desagrada o governo.
Investigados
No documento, o ex-senador Antero Paes de Barros Neto foi apontado como membro do Movimento Revolucionário 8 de outubro (MR8). Na época, ocupava o cargo de vereador por Cuiabá e atuava na rádio difusora Bom Jesus. Segue na ativa na coordenação de campanhas, e atua na rádio Capital.
Apesar do erro de grafia no documento, o outro investigado é Ronaldo de Arruda Castro, citado como “comunista confesso”. Na década de 1980 foi Redator Chefe do Jornal Correio da Imprensa, e presidente do Sindicato dos Jornalistas. Anos depois ocupou a cadeira número 12 da Academia Mato-grossense de Letras. Faleceu em 2001 aos 60 anos.
Criação de um novo Jornal
Apesar de breve, o relatório não se limitou a citar comunicadores. A movimentação para a criação de um novo jornal para atender aos interesses do Partido do Movimento Democrático do Brasil (PMDB) em Mato Grosso foi detalhada.
O contexto político da época mostra que o grupo liderado pelo Padre Raimundo Pombo, candidato derrotado ao governo em 1982, estaria articulando um quadro societário para financiar o novo jornal.
Os relatórios do SNI se tornaram públicos em 2015, e estão disponíveis para consulta no site do Arquivo Nacional. A informação numero 138/16/ACG/83 de 7 de julho pode ser acessada na íntegra por aqui.
Originally published at medium.com on October 27, 2018.